ESG é responsabilidade da alta liderança
Por Ricardo Voltolini
“Temos recursos financeiros e tecnologia para construir uma economia de baixo carbono. O que nos falta é o que pode fazer toda a diferença: liderança empática, consciente e capaz de gerar impacto positivo.” A declaração é de Paul Polman, ex-CEO da Unilever, fundador da Imagine, organização que reúne líderes de todo o mundo compromissados com a ação climática e a equidade social. Concordo totalmente com essa ideia, que ratifica com um selo de autoridade global tudo o que aprendi empiricamente na minha jornada de especialista.
Há 15 anos estudo líderes sustentáveis. Ao longo desse período, entrevistei mais de 500 CEOs e executivos C-Level de empresas classe A em sustentabilidade, tentando compreender como pensam, agem, tomam decisões e em que valores acreditam. Isso porque, durante um longo ciclo de prática e reflexão, descobri que a presença de líderes cuidadores, inclusivos e íntegros representa o principal fator crítico de sucesso na implantação de estratégias de sustentabilidade.
Pesquisa Panorama ESG Brasil 2024, apresentada em abril pela Humanizadas, confirma essa tese. Para 56% dos entrevistados, desenvolver líderes e colaboradores consiste no principal propulsor da pauta de sustentabilidade empresarial — um aumento de 24 pontos percentuais em relação a 2023. O mesmo estudo revelou ainda que 77% dos respondentes atribuem ao CEO, e a mais ninguém, o papel de regência da agenda ESG.
Segundo a pesquisa Panorama ESG Brasil 2024, apresentada este mês pela Humanizadas, 77% dos respondentes atribuem ao CEO, e a mais ninguém, o papel de regência da agenda ESG
Não surpreende, portanto, que os outros três aspectos com maior efeito no êxito das ações de ESG também estejam relacionados com a liderança. Convergir a agenda ESG com a estratégia do negócio (48%), dedicar um orçamento para iniciativas ESG (47%) e promover uma cultura de sustentabilidade forte (43%) dependem do valor estratégico atribuído pelo CEO ao assunto, da decisão de incorporar os impactos (riscos e oportunidades) de E, de S e de G na equação econômica do negócio e, na ponta, do impulso genuíno de distribuir valor para todos os stakeholders. A ausência de cultura forte de ESG (32%), não por acaso, corresponde ao segundo desafio prático mais relevante (32%), atrás apenas da dificuldade de mensurar indicadores (40%).
Todas as experiências bem-sucedidas de que participei em ESG foram top-down. No outro extremo, a maioria dos fracassos a que assisti mostrou, em comum, enorme desperdício de energia, tempo e dinheiro num esforço inócuo da turma do andar de baixo de convencer CEOs inflexíveis, relutantes ou simplesmente desinteressados no tema. Recorrendo a uma metáfora do futebol, arrisco dizer que a habilidade em responder ratings ESG ganha jogos. O binômio liderança-cultura ganha campeonatos. Uma tem a ver com ferramenta e é acessória. Outro, diz respeito a propósito e é estrutural.
Há, na pesquisa da Humanizadas, bons achados sinalizando um incremento da visão de liderança ESG nas empresas. 33% delas admitem ter acelerado processos para reduzir emissões de gases de efeito estufa—22 pontos acima de 2023. Mais da metade (52%) acredita que a realização da COP30, no Brasil, em 2025, vai impactar positivamente o seu negócio. Expressivos 71% adotam as melhores práticas, 24 pontos a mais do que no ano passado.
Em sua edição de 2022, esse mesmo estudo mostrava que líderes, colaboradores e parceiros de empresas mais humanizadas, comandadas por líderes sustentáveis, tendem a ser, em média, três vezes mais otimistas do que os de organizações não orientadas por valores ESG. Não é exagerado afirmar: a liderança sustentável é um fator de proteção da esperança por empresas melhores para o mundo.
Ricardo Voltolini é CEO da Ideia Sustentável, fundador da Plataforma Liderança com Valores, mentor e conselheiro de sustentabilidade