Restaurantes celebram 20 anos de excelência na arte de servir e trocam cardápios
Fundados por ex-garçons, os restaurantes a bela Sintra e Piselli se tornaram sinônimos da boa gastronomia portuguesa e italiana. Juntos, seus donos celebram 20 anos de sucesso em meio à expansão dos negócios
Por Celso Masson
Um nasceu em Joanópolis, cidade no interior de São Paulo que fica aos pés da Serra da Mantiqueira, quase na divisa com Minas Gerais, e é conhecida como a terra do lobisomem. O outro, nascido e criado no Alentejo, em Portugal, chegou ao Brasil aos 26 anos. Coincidência ou não, ambos foram trabalhar servindo mesas em restaurantes da capital paulista. Versados na arte de encantar o cliente, passaram da função de garçom a mâitre e depois à gerência de casas de alto nível. Estamos falando de Juscelino Pereira, dono do Piselli, e de Carlos Bettencourt, criador do a bela Sintra. Eles já eram amigos em 2004, quando inauguraram seus próprios restaurantes, após anos de aperfeiçoamento na arte de bem servir. Passadas duas décadas, decidiram celebrar a quatro mãos o vigésimo aniversário de suas guinadas para o empreendedorismo. “Nossa amizade cresceu ainda mais depois que o Juscelino deu seu grito do Ipiranga e eu, o meu”, disse Bettencourt, referindo-se à decisão que ambos tomaram quase em sintonia de trocar seus empregos por negócios próprios.
Como parte das comemorações, cada restaurante incluiu no cardápio uma receita tradicionalmente servida na casa do outro.
• Com o nome Pasta e Piselli, o fettuccine com fonduta de parmesão, ervilhas frescas e pancetta se tornou um clássico do restaurante homônimo e entrou na carta do a bela Sintra por R$ 98.
• De seu lado, o restaurante português cedeu para o menu do Piselli seu Bacalhau no forno a bela Sintra (R$ 236), uma generosa posta grelhada com batatas assadas, flor de brócolis, pétalas de tomate, alho, ovo cozido e regado a azeite.
“É uma homenagem que estamos prestando às histórias de sucesso que construímos paralelamente”, disse Pereira. Para Bettencourt, essa brincadeira da troca de pratos é também uma forma de reverenciar o trabalho do colega. “Nossa profissão não nos permite muitas oportunidades de sairmos juntos ou de frequentarmos o restaurante um do outro. Oferecer esses pratos é um sinal de respeito mútuo”, afirmou.
A admiração mútua é um reflexo das trajetórias de prestígio que cada um trilhou no meio gastronômico. “Quando decidi viver em São Paulo, fui trabalhar como garçom em um restaurante simples, na Zona Norte. Até que um cliente me deu um conselho: ‘Se você quer ganhar dinheiro como garçom, precisa arrumar emprego nos Jardins’. Eu nem sabia onde era, mas segui a dica e encontrei trabalho no bairro mais chique da cidade”, afirmou Pereira. Sua grande escola foi a família Fasano, para a qual trabalhou até chegar à gerência do Gero, de onde saiu para montar o Piselli (ervilhas, em italiano). Embora seja neto de portugueses, adotou a culinária da bota como sua marca registrada.
Bettencourt jamais negou a origem lusitana. Trabalhou por muitos anos no Antiquarius, grife da alta gastronomia portuguesa que nos áureos tempos teve unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quando surgiu a oportunidade de alugar um imóvel vago na rua Bela Cintra, ele a agarrou. “Havia a feliz coincidência de o endereço ser o nome de uma cidade famosa em Portugal, apenas com outra grafia”, disse. “Uma amiga numeróloga recomendou que eu utilizasse ‘a bela Sintra’, ideia que eu adotei de imediato e que foi aprovada por um publicitário que admiro, o Nizan Guanaes”, afirmou. Assim como o Piselli, a casa atraiu desde o início a elite paulistana.
CONSELHO DO AVÔ
Com veia empreendedora e amor pelo trabalho, o sucesso foi uma conquência natural. “Meu avô dizia para eu ter um negócio próprio antes de completar 35 anos. Segui o conselho à risca e abri o Piselli na véspera do meu aniversário”, disse Pereira, que já foi sócio do Maremonti e também é dono das casas Piselli Sud, el Carbón e Timo. Recentemente, expandiu os negócios com um marketplace gastronômico, o Mercato Piselli.
Bettencourt, também à frente do restaurante Chiado, em Moema, e do Dois Rios, em Campos de Jordão (SP), hoje ostenta o título de comendador, conferido pela Casa de Portugal. “Eu nunca fui bom nos estudos, mas queria vencer na vida e fui à luta, às vezes matando dois leões por dia”, disse Bettencourt.
Os 20 anos de prestígio são a prova do quanto valeu seguir suas vocações de servir com excelência.