Por César Souza

A escassez de líderes competentes é uma das maiores causas de alguns problemas que nos afligem no trabalho, em casa e na comunidade. Os modelos de liderança vigentes foram concebidos para uma realidade que já não existe mais. Para construirmos novas formas de pensar sobre a liderança precisamos nos libertar de alguns mitos incorporados culturalmente por décadas.

A grande questão é como migrar para um modelo mais coerente com o mundo em disrupção acelerada que nos atormenta. O primeiro passo consiste em superar alguns mitos, crenças e dogmas que podem ter sido úteis no passado, mas, com certeza, não se adequam mais às circunstâncias atuais, tais como…

… “Líder é quem ocupa cargo”. Liderança não é sinônimo de cargo, nem de posição social. Tampouco é exercida apenas “de cima para baixo”. Quem tem filhos menores entende com facilidade o significado dessas palavras. Simples assim! Uma antiga e ainda atual definição de liderança continua sendo a capacidade de influenciar pessoas em busca de um objetivo comum.

… “A liderança é inata”. A crença de que o líder vem do berço precisa ser vigorosamente combatida. Ninguém nasce líder. Pode, sim, aprender a ser líder. Infelizmente, a crença acerca da liderança inata conduz a inúmeros erros na hora de selecionar candidatos, promover profissionais, escolher parceiros, educar filhos e relacionar-se com alunos. Felizmente, para a humanidade, não é possível clonar líderes feitos à imagem e semelhança de nossos antepassados.

… “Carisma é fundamental”. Esse é um dos mais importantes mitos do qual precisamos nos libertar. Liderança não é sinônimo de carisma, nem de falar bem em público e, muito menos, de extroversão e simpatia. São crenças improcedentes. Se uma pessoa tem carisma, ótimo, isso facilita o exercício da liderança. No entanto, nada a impede de liderar se não tiver. O carisma pode até alavancar o líder, mas não substitui outras forças necessárias. O líder eficaz precisa ter conteúdo. Pessoas tímidas e introvertidas podem ser líderes eficazes quando sabem construir com suas equipes o rumo a seguir, têm coragem para tomar decisões difíceis e sabem se cercar de profissionais que os complementam, inclusive para compensar seu baixo nível de carisma,

… “Existe um estilo ideal de liderança”. Essa é outra crença enganosa criada por simplificadores e reducionistas da realidade. Muitas empresas e pessoas se baseiam em um esquema de pensamento que restringe a ação do líder a duas dimensões: foco nas pessoas e foco nas tarefas. Assim, agem como se o mundo empresarial e da liderança fosse apenas bidimensional. Em nome de simplificações como essa, muitos treinamentos gerenciais se propõem à violência de transformar as pessoas naquilo que não são. O perfil ideal de líder reside na capacidade de cada um em potencializar suas melhores qualidades e seus pontos fortes.

… “O líder forma seguidores”. O líder eficaz forma outros líderes e não apenas seguidores. O líder inspirador tem gente em torno de si – e não apenas gente atrás de si. Precisamos de líderes de qualidade em todos os níveis. O entendimento de que o principal papel do líder é formar outros líderes, facilita a construção do “Capital Liderança”, indicador importante no momento de mensurar o valor de mercado de uma empresa.

Se libertar dos vários mitos em torno da liderança é pré-requisito para criar espaço mental e emocional para aprendermos novas competências e habilidades. Afinal, precisamos ter a coragem de deixar de ser o que somos, para nos transformarmos no que desejamos ser.

César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda