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Gigante de logística, Multilog aposta na tríplice fronteira; conheça o plano

Com foco no crescimento do comércio exterior entre Brasil, Argentina e Paraguai, empresa de logística integrada vai construir o maior porto seco da América Latina

Crédito: Divulgação

"O novo terminal terá uma operação integrada entre as Receitas do Brasil Paraguai e Argentina, que tende a diminuir tempo, desburocratizar e simplificar processos”, diz Djalma Vilela, CEO da Multilog (Crédito: Divulgação )

Por Allan Ravagnani

A cerimônia de lançamento do Novo Porto Seco de Foz do Iguaçú, em 2 de maio, é mais um marco na história da Multilog, uma das maiores operadoras de logística integrada do Brasil. O projeto ousado, cujo tamanho será três vezes maior do que o porto seco atual, vai receber investimento de R$ 500 milhões e deixar a companhia entre as gigantes do Brasil. As obras terão início nos próximos meses e o porto começará a operar até o final de 2025.

Fundada há 30 anos, em Itajaí (SC), a Multilog vive seu melhor momento.
Em termos de expansão, a empresa cresceu mais de 10 vezes na última década, superando R$ 1 bilhão de faturamento em 2023.
Na área de unidades alfandegadas, a companhia já opera 13 unidades, contra três do segundo player neste mercado.
Para 2024, a projeção é crescer mais 10% de forma orgânica. A companhia ainda estuda realizar abertura de capital na Bolsa em 2025 para impulsionar a expansão via aquisições.

O porto seco de Foz do Iguaçu será o maior da América Latina. Para quem não está acostumado com o termo, porto seco é uma estação aduaneira, um terminal intermodal conectado por rodovias ou ferrovias, operando como transbordo de carga, onde são realizadas inspeções pelos órgãos federais do País na importação, como Receita Federal, Ministério da Agricultura, Ibama, entre outros.

Instalado às margens da rodovia BR-277 (que liga Foz do Iguaçu ao Porto de Paranaguá, no Paraná), fora da área urbana da cidade, o projeto vai aprimorar e alavancar as movimentações de cargas na região de tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, além de gerar mais de 3 mil empregos diretos e indiretos, em sua área de 550 mil metros quadrados.

Durante o evento de lançamento o projeto (esq.), governador destacou que o novo porto seco (dir.) vai transformar o comércio exterior na região (Crédito:Douglas Guimaraes)

Segundo os dados da Receita Federal do Brasil, de cada 10 caminhões que atravessam a tríplice fronteira, sete passam pelo atual porto seco (que será desativado quando o novo for inaugurado).

O presidente da Multilog, Djalma Vivela, afirmou à DINHEIRO que o novo porto seco vai transformar a realidade do transporte de cargas. Além de maior e mais moderno, vai contar com a atuação dos órgãos federais do Brasil, Paraguai e Argentina trabalhando de forma integrada, reduzindo a burocracia e acelerando os processos de importação e exportação.

(Divulgação)

O atual posto de inspeção de Foz do Iguaçu já é o maior da América Latina em termos de movimentações de cargas terrestres. Também é operado pela Multilog desde 2016. Ele tem a capacidade de atender até 1 mil caminhões de uma vez. Movimentou em 2022 mais de US$ 6,5 bilhões em cargas transportadas por 201,2 mil caminhões, segundo a Receita Federal.

Segundo os estudos encomendados para aprovar a construção, as movimentações de carga podem triplicar a partir de 2025 com a nova infraestrutura integrada. Além disso, por se localizar fora do perímetro urbano, as operações não irão impactar o trânsito da cidade, que vai receber uma nova avenida Perimetral Leste, duplicação de avenidas e uma nova ponte de ligação com o Paraguai, a Ponte da Integração, obras que serão inauguradas junto com o porto seco.

A expectativa da Multilog para a Tríplice Fronteira passa pelo escoamento da produção agrícola dos três países. Com a perspectiva de melhora da economia na Argentina, de o Paraguai seguir crescendo e também de incremento do escoamento da produção agrícola do Paraná, essa região vai se beneficiar de uma estrutura adequada para atender o aumento da movimentação de mercadorias pelo porto.

O governador do Paraná, Ratinho Junior, disse que o empreendimento é um momento histórico para alavancar o desenvolvimento econômico da região, do estado e dos países da tríplice fronteira, e pode transformar o Paraná no maior hub logístico da América do Sul. “Temos uma posição geográfica privilegiada, mas era necessário dar um salto de qualidade para sermos um centro logístico”, afirmou o governador, ao destacar os recursos de R$ 300 milhões que o estado está investindo em infraestrutura na região.

ESTRUTURA

A estrutura inclui a área de pátio de 197 mil metros quadrados destinada aos caminhões, uma área de armazenagem e vistoria de 7,2 mil metros quadrados de área coberta fechada, incluindo mais de 600 metros quadrados de câmara fria, com três docas exclusivas para o armazenamento de produtos que necessitam de temperaturas controladas.
A estrutura será equipada com balanças de elevada precisão e scanners.
O complexo contará também com uma área de 1,9 mil metros quadrados destinada aos motoristas, dividida em oito espaços distintos, sendo sete deles internos ao porto seco, e um externo, localizado no bolsão de acesso, com sanitários e áreas para descanso e permanência.

O prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro, disse que a conclusão do empreendimento vai permitir à cidade ser uma das mais desenvolvidas do País, tanto sob o ponto de vista logístico quanto da geração de empregos, do fortalecimento da economia e da criação de novas áreas de desenvolvimento comercial, além de desafogar o tráfego de caminhões que hoje circulam pela cidade para acessar o atual porto seco. “Já estamos planejando abrir novas ruas e avenidas e transfererir a sede da Prefeitura para a região de Três Lagoas”, afirmou.

A Multilog tem hoje mais de 2,8 mil funcionários preparados para atender demandas de modelos logísticos simples e complexos e conta com 35 unidades distribuídas nos principais corredores de importação e exportação do Brasil, nos seguintes estados:
 Bahia (Salvador),
 São Paulo (Barueri, Campinas, Santos, São Paulo e Sumaré),
Paraná (Curitiba, Foz do Iguaçu e São José dos Pinhais),
Santa Catarina (Dionísio Cerqueira, Itajaí e Joinville),
e Rio Grande do Sul (Jaguarão, Santana do Livramento e Uruguaiana).

Entrevista
Djalma Vilela – CEO da Multilog

“O ipo vai acontecer quando houver ambiente para isso”

A projeção de crescimento de 10% em 2024 será impulsionada por qual segmento? E qual é a projeção para os próximos anos?
Estamos trabalhando muito com commodities agrícolas, granel, muita importação de milho do Paraguai, pois no Brasil ainda há um déficit de insumos que precisam ser importados. Para os próximos anos, trabalhamos com expectativa de crescer entre 5% e 10%, sempre acima da inflação, e essa obra aqui em Foz prevê dobrar esse nível, por isso nós compramos o terreno de 550 mil metros quadrados, projetando esse crescimento da tríplice fronteira.

Qual será o impacto do novo Porto Seco nos resultados da Multilog e na logística da região da Tríplice Fronteira?
Nos resultados da Multilog, o impacto será expressivo. Falando de volume, no mês de abril, processamos 36 mil caminhões nas operações de fronteiras, o melhor mês da história da companhia. Só em Foz do Iguaçu, foram processados 16 mil caminhões, onde teremos a capacidade triplicada. Sobre a logística da região, a gente trabalha com a questão da integração. Hoje, em nosso porto, o da Argentina e o do Paraguai, no novo terminal vai haver uma operação integrada, que tende a diminuir tempo, desburocratizar e simplificar processos. A Receita Federal do Brasil, do Paraguai e da Argentina vão trabalhar no mesmo terminal.

A Multilog planeja fazer um IPO? Qual expectativa de captação?
Estamos estruturando esse movimento estratégico. Não há uma janela para IPO neste momento, no ano passado não teve, nem neste atual, mas estamos atentos e conversando com os faria-limers, para quem sabe no ano que vem (2025). A gente trabalha na expectativa de captar de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão, dinheiro que será investido em expansão. Compramos quatro empresas nos últimos três anos, mas entendo que temos um caminho grande de consolidação, temos uma importância interessante no mercado, mas que pode avançar mais, Hoje o Brasil tem mais de 1 mil operadores logísticos e o maior player não chega a 5% de market share.