O desafio da ambidestria organizacional

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Luís Guedes: "A IA tem entrado nas empresas pelo ponto de menor resistência: a eficiência dos processos" (Crédito: Divulgação )

Por Luís Guedes

Embora o conceito de ambidestria organizacional tenha sido introduzido há mais de 40 anos, é na confusão e ambiguidade da pós-modernidade que o tema começa a receber atenção. Após um artigo seminal que teorizou sobre a distinção entre exploration e exploitation, muitas pesquisas adotaram esta estrutura de duplo interesse para estudar como integrar aspirações tão legítimas, quanto difíceis de ser combinadas.

Na prática, as organizações ambidestras se envolvem de corpo e alma em dois processos que não se misturam, mas que são conectados na aspiração de transformar a companhia em uma máquina autopropelida de criação de valor.

A primeira jornada é de exploração, tal como a incursão em uma caverna desconhecida. É uma busca guiada apenas por ruídos, sem certezas, apropriada por meio da experimentação e descoberta, conduzida por indivíduos com espírito explorador, organizada em sistemas orgânicos e fracamente acoplados.

• A segunda jornada das organizações e líderes modernos mira na busca aguerrida pela eficiência, que está ali, ao alcance da mão. É a jornada do técnico do time de alto rendimento, que refina o saber-fazer já instalado, que utiliza tecnologia para encontrar alavancas de desempenho, mede para melhorar, tem foco na execução e os sistemas que lhe dão suporte são fortemente acoplados. A meta é garantir retornos no curto prazo e gerar valor no momento em que vivemos.

A ambidestria é um tremendo desafio para as organizações. Tradicionalmente, cada atividade dessas exige conjuntos de competências distintos, processos de seleção distintos, estruturas de incentivos distintas e por aí vai. Colar uma peça na outra não é para qualquer artesão…

Trata-se de um tremendo desafio para as organizações. Cada atividade exige conjuntos de competências distintos, processos distintos, estruturas de incentivos distintas e por aí vai. Colar uma peça na outra não é para qualquer artesão

A prática da consultoria e nossas pesquisas têm mostrado sistematicamente que as empresas de sucesso são ambidestras competentes – encontraram uma solução de compromisso entre exploração e a busca por eficiência. Mais recentemente, o uso de IA abre novas avenidas para essa busca.

O uso competente de IA tem potencial para aumentar a capacidade de transformação da uma empresa, e sua eficiência. Apesar dos avanços, a IA ainda não reorganizou o desenho organizacional em seu tecido mais profundo, tal como a máquina a vapor fez na Revolução Industrial.

A IA tem entrado nas empresas pelo ponto de menor resistência: a eficiência dos processos. Meritória, essa frente é limitada em escopo e claramente tem compromisso com a eficiência. Sobra, por ora, o excedente de mão-de-obra gerado pela automatização. Força de trabalho poupada pode agora ser utilizada em tarefas geralmente ligadas à exploração.

Idealmente, a IA pode ajudar na exploração por meio da identificação de padrões escondidos, na busca de relações de causa-e-efeito não triviais e replicação de aprendizados em áreas díspares, um processo que pode levar à criação de novos padrões de pensamento e ação. Uma vez estabelecidos, esses padrões são postos em marcha por pessoas e, quando maduros, podem ser amplificados por IA.

O futuro dos negócios, próximo ou logo depois disso, vai ser acelerado de uma forma que não concebemos hoje, acelerado por IA, mas concebido e direcionado por uma liderança ambidestra desde pequena.

Luís Guedes é professor da FIA Business School