Polishop vai se levantar? Recuperação Judicial aponta dívidas de R$ 352 milhões
Mudança de hábito dos consumidores e a chegada da acirrada concorrência do comércio eletrônico levaram a marca do "ligue 1406" a amargar grandes perdas nos últimos anos, que culminaram na recuperação judicial

Jurado do Shark Tank Brasil, João Appolinário, fundador da Polishop, também obteve sucesso em negócios iniciados no programa de TV (Crédito: Claudio Gatti)
Por Allan Ravagnani
Fundada em 1995 por João Appolinário, a Polishop conquistou o imaginário popular com seus produtos ‘incríveis’ – como as facas Ginsu, que cortavam até latas, e as ultrarresistentes meias Vivarina – divulgados nos comerciais pelas madrugadas televisivas. O telefone “1406” virou até tema de música dos Mamonas Assassinas tamanha a popularidade. Avançando pelos anos 2000, a Polishop se reinventou, entrou na internet e no varejo físico, ampliou sua rede de lojas e o portfólio de produtos. Mas a crise pós-pandemia foi implacável. Em maio deste ano, o grupo entrou com pedido de recuperação judicial com R$ 352 milhões em dívidas.
João Appolinário também ganhou fama com o programa Shark Tank, exibido pelo canal Sony, em que empresários de sucesso — denominados ‘tubarões’ — avaliam as apresentações de empreendedores e decidem se vão investir ou não naquelas empresas. Um dos cases de maior sucesso da edição brasileira do programa foi um investimento de R$ 20 milhões de Appolinário em uma fábrica de tintas, a Decor Color, que hoje, em modelo de franquias, fatura mais de R$ 300 milhões por ano e tem mais de 500 unidades pelo Brasil.
No pedido de recuperação judicial aceito pela Justiça, os advogados da varejista solicitaram a exclusão dos outros negócios de Appolinário nos trâmites do processo, como o de venda de franquias e o de garantia estendida dos produtos. Segundo o documento protocolado:
• dos R$ 352 milhões em dívidas, R$ 349 milhões são com instituições financeiras e grupos de mídia,
• e R$ 3 milhões em débitos trabalhistas e com microempreendedores.
Até a pandemia, a Polishop chegou a ter mais de 300 lojas físicas, número que foi reduzindo nos últimos anos.
• Em 2023, eram 120 unidades, muitas já sob o risco de despejo pelos shoppings.
• Atualmente, a companhia possui apenas 49 lojas abertas em condomínios de compras.
• Portanto, nos últimos dois anos, fechou cerca de 70% de suas lojas.
• Para reduzir custos, a empresa também demitiu cerca de 2 mil funcionários, passando de 2.532 antes da pandemia para aproximadamente 500 empregados agora.

No pedido de RJ encaminhado à 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo, a Polishop afirmou ter registrado uma receita anual de R$ 1,2 bilhão.
No ano de 2023, no entanto, a varejista fechou com um prejuízo de R$ 155 milhões.
A DINHEIRO tentou entrar em contato com João Appolinário ou outros executivos, mas a assessoria de imprensa do grupo afirmou que eles não iriam comentar o assunto no momento.
A crise sofrida pelo varejo no pós-pandemia e o fechamento de lojas de algumas redes já era um fator esperado pelo mercado, assim como o pedido de recuperação judicial não tenha sido nenhuma surpresa.
A analista de varejo da Levante Investimentos, Carol Sanches, afirmou à DINHEIRO que a redução no número de lojas físicas é uma tendência. “A gente viu empresas do varejo, como Polishop e Marisa, reduzindo muito o número de lojas físicas, diante da entrada e da competição acirrada dos e-commerce estrangeiros, como a Shopee”, afirmou, citando outros fatores que contribuíram para a crise, como os juros altos, inflação elevada e o consumidor com a renda mais pressionada.
REESTRUTURAÇÃO
Autorizada pelo Judiciário quando preenchidos os requisitos legais previstos na Lei nº 11.101/05, a recuperação judicial nada mais é que um instituto jurídico que permite à empresa devedora proteger o patrimônio de ações dos credores enquanto negocia condições para a quitação das dívidas e um modelo para a reestruturação das atividades empresariais.

Para o advogado Rodolfo Fontana, da banca Tepedino, Berezowski e Poppa Advogados, no caso da Polishop, medidas de reestruturação e saneamento já vêm sendo adotadas em antecipação ao pedido de recuperação judicial, “tais como aporte de R$ 50 milhões na companhia e abertura do plano de franquia de lojas”, como apontado pela companhia em petição apresentada à Justiça no último dia 15. Segundo o advogado, a expectativa, agora que Paulo Furtado de Oliveira Filho, juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central de São Paulo/SP e responsável pelo processo, avaliou os requisitos necessários e deferiu o pedido de recuperação judicial da empresa, determinando as providências cabíveis, “terá início um prazo de 60 dias para que a Polishop apresente a sua primeira proposta de plano, dando início ao período oficial de negociações entre ela e seus credores”, disse Fontana.
352 milhões de reais
em dívidas, sendo a maior parte para bancos
70%
de queda na receita após o fechamento de mais de 250 lojas físicas
500 empregados
ficaram após a demissão de mais de 2 mil funcionários
Para o advogado Bruno Boris, especialista em recuperações judiciais, o caso da Polishop também não causou surpresa. “O que mudou é que hoje a compreensão do mercado mudou, a recuperação judicial é um instrumento jurídico de auxílio ao empresário, o que torna diferente a situação das recuperandas perante o mercado, mas não é mais como uma sentença de morte como se via antigamente”, afirmou.
De acordo com Boris, a partir de agora, com o pedido aceito pela Justiça, a Polishop terá de apresentar seu plano de recuperação aos credores envolvidos na ação e, não havendo objeção por parte deles ou ainda que haja, o plano precisa ser aprovado em assembleia geral de credores (AGC).
O Judiciário ainda irá acompanhar a recuperação por dois anos após a homologação do plano aprovado e, ao fim, tendo a empresa cumprido suas obrigações, a recuperação judicial será extinta. No entanto, em caso de não pagamento, a empresa será declarada falida.
CREDORES
Na lista dos credores estão:
• fintech BMP Money encabeça com cerca de R$ 26,6 milhões a receber,
• seguido pelo Banco do Brasil com R$ 24 milhões,
• Zurich Seguros (R$ 21 milhões),
• Wiz Corretora de Seguros (R$ 16,4 milhões),
• Bradesco (R$ 11 milhões),
• Itaú (R$ 9,5 milhões),
• Banco Original (R$ 4,5 milhões),
• e Banco Safra (R$ 5,1 milhões).
Entre os fornecedores:
• a Versuni, marca independente da Philips para pequenos eletrodomésticos, tem mais de R$ 15 milhões a receber.
• A Conair, de produtos de saúde e beleza, tem cerca de R$ 8 milhões.
Dentre as plataformas de mídia, a Polishop deve:
• R$ 5 milhões ao Google,
• mais de R$ 1 milhão para a Elemidia e a Eletromidia,
• além de dívidas com a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp), a Bytedance (dona do TikTok), a operadora Sky e a RedeTV.
