Economia

Daqui para a frente, Lula é o senhor da articulação política. Vai dar conta?

Governo perdeu 20 das 52 votações da Câmara em maio, e precisa virar o jogo na articulação para avançar com a agenda econômica no segundo semestre

Crédito: Ricardo Stuckert / PR

Lula promete a Rodrigo Pacheco, presidente do Senado (esq.), e Arthur Lira, presidente da Câmara, mais pessoalidade na articulação política (Crédito: Ricardo Stuckert / PR)

Por Paula Cristina

Se no discurso oficial os assessores do presidente Lula indicam que as derrotas subsequentes do governo no Congresso Nacional são parte de uma democracia de coalizão, são as regras do jogo e engrandecem a discussão política, nos bastidores o tom é outro. Já são sete derrotas consecutivas no Congresso. Nem o crescimento do PIB, nem a popularidade acima da média do chefe da República, parecem funcionar como capital político para que o governo alcance vitórias. E se, em um primeiro momento, essa sequência de baixas só sinalizava que algo na relação entre os Poderes não ia bem, agora, com a agenda econômica precisando avançar antes das eleições municipais, rever a interface entre o Executivo e o Legislativo se tornou imperativo. E Lula precisará entrar no jogo para evitar uma goleada ainda maior.

•  Desde o ano passado, não foram poucas as vezes que o presidente Lula foi cobrado publicamente pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, para entrar mais na articulação política — atualmente chefiada por Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

Em todas as ocasiões, o presidente afirmou que melhoraria a interlocução com os parlamentares, algo que não aconteceu.

À Dinheiro, Arthur Lira afirmou que não há qualquer tipo de desentendimento ideológico com o governo, apenas um esforço para que o diálogo se aprofunde. “Não há pressão por emenda parlamentar ou chantagem”, disse. Segundo ele, a interlocução com o governo é boa, mas pode melhorar. “O interesse do Legislativo é melhorar as condições econômicas e sociais do governo.”

“Não somos uma casa que apenas carimba textos. queremos discutir e elevar a qualidade dos projetos apresentado pelo executivo. Este é o rito.”
Rodrigo Pacheco, presidente do senado

DERROTAS

Nos últimos seis meses, foram sete grandes perdas do governo na queda de braço com o Legislativo. Algumas delas da agenda de costumes, como o fim das saidinhas da população carcerária e o endurecimento do combate às fake news. Outras de cunho econômico, como o fim da desoneração da folha de pagamento e a MP do PIS e Cofins, que reduzia a oferta de crédito tributário. Para Andreas Soares Lima, especialista político e consultor da CCJ do Senado para assuntos econômicos, o calendário eleitoral coloca pressão no governo para acelerar a apresentação de pautas, mas também põe em risco a aprovação.

“O governo tem pulado etapas para garantir uma agenda mais dinâmica, com muitos textos correndo de modo concomitante. Mas os parlamentares interpretam que essa celeridade tira deles o espaço para o diálogo”, disse.

O caminho, segundo ele, é reforçar a imagem de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que tem sido arranhada nos últimos meses, justamente pelos parlamentares entenderem que a Fazenda tem pecado na comunicação política com o Legislativo. Depois disso, uma solução seria colocar o Lula na articulação frontal, ou seja, marcando mais encontros e se mostrando mais presente nas negociações por bancada e partido. “Isso pode ajudar, ainda não é tarde demais”, disse.

46%
Dos agentes da câmara votaram com o governo nos projetos levados ao plenário em maio

20
Derrotas para o governo nas votações de maio. ao todo foram 52 textos analisados

Para os próximos meses, o governo precisa:
regulamentar seis pontos da reforma tributária,
colocar em pé um novo plano para diminuir o déficit das contas públicas (seja aumentando a arrecadação ou cortando despesas);
avaliar medidas que envolvem desindexação da economia, em especial em commodities dolarizadas como o combustível e energia,
liberar recursos extraordinários para ajudar a reconstrução do Rio Grande do Sul,
aprovar medidas tributárias para colocar o Brasil em conformidade com as práticas da OCDE,
além de aprovar recursos para programas como o Mover de incentivo à indústria.

Em entrevista recente a jornalistas, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que trabalha em linha com as prioridades do governo, mas não descartou atrasos. “Não somos uma casa que carimba textos. Discutimos e melhoramos. Este é o processo”, afirmou.

Político dos bons, o presidente Lula sabe que precisa melhorar o apoio na base.

Um levantamento da consultoria Arko Advice, revelou que, em maio, apenas 46,47% dos deputados acompanharam a orientação do governo em votações na Câmara. Dos 52 textos votados em maio, o governo foi derrotado em 20, um número alto para um governo que, teoricamente, tem alianças de coalizão com mais da metade dos partidos políticos.

Nos governos petistas passados, o segundo mandato de Dilma Rousseff foi o que mais pesou na articulação política, e o resultado já conhecemos.

Apesar das similaridades entre os dois, um dinossauro da política brasileira, há anos no Senado Federal, fez à reportagem da DINHEIRO uma definição assertiva sobre as diferenças na articulação política conduzidas por Lula e Dilma Rousseff. “Enquanto a Dilma quebra, mas não dobra, o Lula dobra, mas não quebra.” Chegou a hora de Lula provar sua capacidade de flexibilização.