A aposta contra o país
Por Carlos José Marques, Diretor editorial
O dólar parece ter voltado definitivamente a patamares indecentes frente ao real no Brasil e não perde a oportunidade de dar saltos pirotécnicos a cada nova provocação do mandatário Lula, dado o seu descaso para com o mercado. É uma briga de gato e rato. O demiurgo de Garanhuns sabe que incomoda a banca e não está nem aí. Não liga e, sistematicamente, cutuca sofrendo reações negativas de ataque à moeda quase que simultaneamente. O real, frente a seus correlatos, sofreu a maior desvalorização em relação ao dólar americano. E não dá sinais de parar por aí nos próximos meses em sua queda desbaratada. O que Lula fez dessa vez? Dias atrás, disse, para espanto dos financistas, que não sabe ao certo se o País realmente precisa de um ajuste fiscal. Como assim? Reagiram os apostadores de plantão. Vamos mostrar a ele o que achamos disso. E tome ataque via câmbio.
Todos sabem, está mais do que na hora de o governo agir adotando um contingenciamento orçamentário para combater a deterioração das contas públicas. O presidente tomou uma medida acertada na semana passada ao avalizar para Haddad que acerte uma meta fixa contínua de 3% para a inflação. O ministro da Fazenda deve discutir o assunto com o diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, cotadíssimo para assumir o controle da instituição dentro de alguns meses. Aliás, a troca de comando no BC pode vir a ser feita de maneira antecipada por Lula. Os analistas especulam neste sentido. Seria, decerto, mais um movimento correto rumo à “pax” com a banca que quer ter cenários estáveis para investir. O titular do Planalto tem um pendor nato a buscar soluções para esses problemas de caixa por meio do aumento da arrecadação e ainda acredita ser possível agir assim. Algo que pode ir de encontro às articulações para a aprovação de uma Reforma Tributária de maneira célere, justa e menos espoliadora da produção. Ninguém gosta da ideia de mais impostos, à exceção de Lula que parece entender o bolso do contribuinte como um saco sem fundo. Erro crasso. O chefe da Nação reclama do que chama de “nervosismo exacerbado” do mercado, mas esquece-se de que suas medidas populistas têm um custo demasiadamente alto para o Tesouro suportar, dada a atual fragilidade contábil. Essas ações pesam diretamente nos humores não apenas dos investidores como das agências classificadoras de risco.
O universo do circuito de capitais está todo interligado, e não é de bom tom desconsiderar sua rota. Assim como sua equipe, o presidente aposta em alternativas de recursos adicionais por vias nunca antes tentadas como a da taxação dos chamados super-ricos. O Brasil lidera um apelo global para que esse conceito se forme em todo o planeta. Um estudo nessa direção foi elaborado pelo Instituto Fiscal Europeu, a pedido do G20, grupo atualmente sob presidência brasileira. Nele consta que o resultado desse imposto sobre a camada mais privilegiada da população poderia gerar um caixa extra da ordem de US$ 688 bilhões. No Brasil, uma gorda fatia – dadas as abissais desigualdades sociais – poderia ser levantada. Decerto o potencial arrecadatório pode se multiplicar, mas a queda de braço entre Lula e a praça, na toada que vai, não dará em coisa boa para ninguém.