Magalu + AliExpress? Saiba como vai operar a nova gigante do e-commerce
Em parceria inédita, varejista brasileira Magalu e plataforma chinesa AliExpress anunciam vendas de produtos em ambos os e-commerces. Na mira estão 60 milhões de clientes
Por Letícia Franco
Na segunda-feira (24), a guerra entre as varejistas brasileiras e as empresas asiáticas ganhou um novo capítulo, com direito a um desfecho inédito. Em meio a essa disputa, o Magazine Luiza decidiu mudar sua estratégia e adotar um tom de “coopetição” ao anunciar um acordo de parceria com o AliExpress, marketplace do grupo chinês Alibaba, para listagem e venda dos produtos em ambos os e-commerces. Segundo dados do Magalu, as duas plataformas têm no Brasil, juntas, mais de 700 milhões de visitas por mês e 60 milhões de clientes ativos. Enquanto a companhia brasileira entra no jogo numa estratégia de “se não pode vencê-los, junte-se a eles”, a plataforma do Alibaba deve ganhar ainda mais espaço no mercado nacional.
Negociada ao longo dos últimos sete meses, a operação cross-border é uma estreia para as duas empresas.
• É a primeira vez que o Alibaba, por meio do AliExpress, faz um acordo desse tipo com uma companhia fora da China.
• Para o Magalu, é a primeira vez que seus produtos serão comercializados por meio de outro marketplace.
• Com isso, o AliExpress passará a vender itens da sua linha Choice, um serviço de compras premium com o melhor custo-benefício e velocidade de entrega, no marketplace do Magalu.
• Os pedidos realizados serão importados por meio do programa Remessa Conforme.
Ao mesmo tempo, a brasileira disponibilizará a categoria de bens duráveis (como geladeiras e micro-ondas) do seu próprio estoque na plataforma nacional da parceira. São itens complementares para o portfólio da chinesa. “Já a oferta de nosso 1P [o varejista é o fornecedor direto do produto para o marketplace] no AliExpress vai fortalecer as vendas e consolidar a absoluta liderança nas categorias que são tradicionais da companhia. Há uma complementaridade total de sortimento, sem sobreposição”, disse Frederico Trajano, CEO do Magalu.
Não é possível mensurar quanto as duas empresas juntas vão deter do e-commerce brasileiro.
• O setor movimentou R$ 185,7 bilhões em 2023.
• A perspectiva é de crescimento de 10,45% para este ano, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm).
• Só no primeiro trimestre de 2024, o faturamento do Magalu no comércio eletrônico foi de R$ 11 bilhões, aumento de 1% sobre o mesmo período do ano anterior.
• Já o faturamento da divisão internacional de vendas de produtos do grupo Alibaba foi de US$ 3,8 bilhões (R$ 20,5 bilhões) até março. A companhia não reporta dados locais.
Criado em 2010, o marketplace do Alibaba opera em território brasileiro há quase 15 anos. De acordo com informações do AliExpress, o Brasil é um dos seus maiores mercados e um dos poucos países onde a empresa atua localmente com plataforma aberta a lojas nacionais.
Agora, a parceria com a gigante brasileira é um passo estratégico para a chinesa turbinar a operação local. Para Kai Li, CEO Latam do AliExpress, a inclusão dos itens do Magalu garante mais variedade e impulsiona a experiência do cliente. “Temos focado cada vez mais na expansão da nossa operação local, reforçando o compromisso do AliExpress em contribuir com o desenvolvimento do e-commerce brasileiro”, afirmou.
SETOR
O acordo é visto como mais uma estratégia inteligente e até mesmo considerada natural do varejo brasileiro diante do avanço das empresas estrangeiras. As compras no Mercado Livre, Amazon, Shopee, AliExpress e Shein caíram no gosto dos consumidores.
O sucesso é tanto que, neste mês, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados aprovaram a taxação das compras internacionais de até US$ 50, popularmente apelidada de “taxa das blusinhas”, como uma forma de fazer frente ao avanço dos sites internacionais.
Segundo Alberto Serrentino, fundador da Varese Brasil e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, as companhias estrangeiras, especialmente as asiáticas, devem continuar fortes. “Temos a ascensão da Shopee e a recém-chegada Temu, indicando que essas empresas devem se aproximar e fortalecer no mercado nacional por vários caminhos, seja via parcerias, fusões ou aquisições”, disse.
Ao entrar na onda do cross-border, o Magalu sai na frente das demais varejistas brasileiras, que buscam ferramentas para encarar essa disputa de forma mais igualitária.
As ações da companhia chegaram a subir até 14,4% após o anúncio. Segundo relatório da Genial Investimentos, o acordo é uma relação de ganha-ganha para o Magalu, tanto na venda dos produtos do AliExpress no seu marketplace, quanto na atuação dentro da plataforma chinesa. Se cada um luta com as armas que tem, o Magalu encontrou na aliança com o rival uma maneira de ganhar a batalha.