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Fala de Lula derruba mercado e puxa dólar

Crédito: Ricardo Stuckert

Lula em entrevista: uma resposta que sacudiu os mercados (Crédito: Ricardo Stuckert)

Por Paula Cristina

A terceira lei de Newton é uma daquelas implacáveis. Toda ação tem uma reação. E o governo sentiu na pele quão rápido este efeito pode ser. Em uma entrevista ao portal Uol, o presidente Lula afirmou que ainda não está seguro sobre a redução de cortes previstas para julho – um esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir o déficit e sustentar o arcabouço fiscal. “O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, disse ele em entrevista exclusiva. Foi o que precisou para o dólar operar acima dos R$ 5,50 e o Ibovespa operar em queda no período da manhã da quarta-feira (26).

No entendimento de Lula, o mercado tem previsões pessimistas. “O mercado sempre precifica desgraça, está sempre trabalhando para não dar certo, está sempre torcendo para as coisas serem piores do que são, na verdade. E a economia vai crescer, vai crescer mais do que todos os especialistas falaram até agora que vai crescer”, disse. Segundo o presidente, a manutenção alta da Selic é algo que interessa ao mercado de capitais, não ao povo. Para Hudson Bessa, professor de finanças da Fipecafi, Lula tem entendido errado os sinais do mercado. “A questão do crescimento, hoje, passa pelo controle fiscal, não pela Selic. Crescer é um misto entre custo e receita. Os juros atuam apenas na ponta do custo de capital, já a receita depende das expectativas positivas sobre a economia”. Talvez, neste momento, o presidente devesse abusar mais da primeira lei de Newton quando questionado sobre contas públicas.

Taxa de juros
Ata do Copom diz o que sabíamos: é hora da cautela

A agenda positiva do governo federal, com aumento de arrecadação, plano safra recorde e promessas de corte de gastos não bastaram para tirar da economia brasileira aquela sensação de que é preciso estar atento. E o que era uma impressão, agora ganhou forma com a ata Copom, que na última semana interrompeu o ciclo de cortes da Selic creditando, principalmente, às incertezas do cenário doméstico. O destaque, segundo os diretores do Banco Central, foi o controle das estimativas de inflação, que estão em alta e requerem “atuação firme” da autoridade monetária. Com tom de cautela, a ata revelou que “eventuais ajustes futuros” na taxa de juros, com possíveis aumentos na Selic, “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, jogando no colo do governo a responsabilidade de criar um ambiente propício para redução dos preços. Sobre o assunto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz ser importante o recado. “Eventuais ajustes, se forem necessários, sempre vão acontecer né? O que é importante frisar é que a diretoria fala em interrupção do ciclo, me parece que essa é uma diferença importante a ser salientada”. O colegiado interrompeu o ciclo de cortes na semana passada, mantendo a taxa básica de juros em 10,5%, em uma decisão unânime.

R$ 203 bilhões

Foi o valor arrecadado pelo governo federal em maio, alta real de 10,46% sobre o mesmo período do ano anterior.
A cifra é a maior para o mês desde 2000, informou a Receita Federal nesta terça-feira (25).
No acumulado de janeiro a maio deste ano, a arrecadação cresceu 8,72%, para R$ 1,09 trilhão, o maior valor desde 2000.

Irregularidade no leilão
Diretor da Conab é exonerado

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, confirmou, na terça-feira (25), o pedido de exoneração do diretor-executivo de Operações e Abastecimento da Conab, Thiago José dos Santos. Segundo o ministro, o Conselho de Administração (Consad) da companhia vai encaminhar a demissão de Santos. A diretoria de Santos é a responsável pela operacionalização e pelo edital do leilão de compra pública de arroz importado anulado pelo governo federal após suspeitas de irregularidades terem sido levantadas.

Internacional
Taxação de bilionários pode render US$ 250 bi

O economista francês Gabriel Zucman apresentou na terça-feira (25) a proposta de taxação mínima global sobre bilionários encomendada pelo Brasil na presidência do G20, com potencial de arrecadar até US$ 250 bilhões por ano com aproximadamente 3 mil super ricos. O economista, no entanto, revelou os desafios que precisam ser superados para a implementação. A proposta, que será apresentada a ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais em reunião do G20 no Rio de Janeiro em julho, prevê uma cobrança anual de 2% sobre a fortuna total dessas pessoas. Zucman é diretor da instituição independente European Union Tax Observatory. Em fevereiro, a convite do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ele discursou a autoridades do G20, em São Paulo, sobre a importância de uma tributação progressiva global, com foco na cobrança sobre bilionários. Após o encontro, o governo brasileiro pediu ao economista que elaborasse um estudo para detalhar a viabilidade da proposta.

América do Sul
Argentina entra em recessão técnica

(Oscar Del Pozo)

O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou 5,1% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período de 2023, informou o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país na segunda-feira (24). Em relação ao último trimestre do ano passado, o PIB argentino encolheu 2,6%, marcando a segunda queda trimestral consecutiva. Com o resultado, a economia argentina entrou em recessão técnica — quando a atividade econômica de um país cai por dois trimestres seguidos. Os meses de janeiro a março marcam o primeiro trimestre completo do governo de Javier Milei. O presidente da Argentina tomou posse em dezembro, após uma campanha com promessas de corte de gastos e déficit fiscal zero.

Mercado ilegal
Tráfico movimenta 4% do PIB

Um estudo da Esfera Brasil mostra que o crime organizado se infiltrou em grandes setores da economia, como mineração, mercado mobiliário, comércio de combustíveis e transporte público, e afeta cada vez mais o crescimento econômico brasileiro e já faturam cerca de R$ 335 bilhões, ou 4% do PIB. “Essas organizações não atuam mais só em negócios ilegais, elas se expandiram. Hoje exploram mercados de atividades lícitas para lavar dinheiro ou para esconder produtos de crimes praticados em outros setores”, explica o advogado criminalista Pierpaolo Bottini, que foi consultor do estudo. A pesquisa “Segurança Pública e Crime Organizado no Brasil” identifica ao menos 21 atividades legais e ilegais com fluxos ilícitos que passam por regiões brasileiras, os quais podem ter origem ou destino em países da América do Sul, América do Norte, Europa, Ásia, África e Oceania. Foram mapeadas 72 facções criminosas no país.

Norberto Duarte