ESG

Natura domina o ESG no Brasil, aponta ranking

Empresa de cosméticos mantém hegemonia no ranking da Merco ao longo dos últimos 10 anos e se consolida como referência nacional de ações sociais, governança e relacionadas ao meio ambiente

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Levantamento de consultoria espanhola aponta as marcas mais aplicadas e as relapsas nas boas práticas de ESG (Crédito: Divulgação )

Por Alexandre Inacio

Pergunte a um desconhecido na rua qual é a primeira empresa que vem à mente quando o assunto é boas práticas relacionadas a aspectos sociais, ambientais e de governança. Ainda que não se consiga apontar as razões, na esmagadora maioria dos casos, a resposta será quase a mesma: Natura. Essa presença no inconsciente coletivo não é por acaso. Pelo décimo ano consecutivo, a empresa fundada em São Paulo por Luiz Seabra em 1969 ocupou o topo do ranking anual elaborado pela consultoria espanhola Merco. A lista traz as 100 empresas com atuação no Brasil, com maior responsabilidade ESG do país.

O termo ESG foi cunhado em 2004 e apareceu pela primeira vez em uma publicação do Pacto Global das Nações Unidas, em parceria com o Banco Mundial. Ele nasceu a partir de uma provocação do então secretário-geral da ONU Kofi Annan feita a CEOs de grandes instituições financeiras sobre como os gigantes do mercado financeiro poderiam integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.

”Estar no topo por tanto tempo nos traz a responsabilidade de continuar inovando para poder ir além daquilo que já fizemos nos últiomos 10 anos”, diz Ana Costa, VP de Sustentabilidade da Natura (Crédito:Divulgação )

Duas décadas mais tarde, o ESG ganhou visibilidade, passou a fazer parte do dia-a-dia de empresas além do mercado financeiro e se consolidou não apenas como a evolução da sustentabilidade empresarial, mas a própria sustentabilidade corporativa em si. As práticas ESG das corporações passaram a ser determinantes na tomada de decisão de investidores e uma ferramenta de reputação corporativa.

“O vanguardismo da Natura existe desde sua concepção como empresa e em seu modelo de negócio. Somos carbono neutro desde 2007, quando ainda ninguém falava nesse assunto. Estar há tanto tempo nessa posição nos traz uma responsabilidade muito grande para continuar inovando e indo cada vez mais longe”, disse à DINHEIRO Ana Beatriz Macedo da Costa, vice-presidente de sustentabilidade da Natura.

CAMINHO PRÓPRIO

Ao longo dos últimos dez anos, a Natura criou suas próprias metodologias e processos.

● A empresa desenvolveu um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) exclusivo para medir o progresso social e econômico de suas consultoras. Implementou o chamado Índice de Progresso Social (IPS) para mensurar a evolução econômica e social das comunidades de florestas de onde são geradas as matérias-primas para os produtos.

● Em 2021, a Natura implementou o Integrated Profit and Loss (IP&L), índice que mede o impacto socioambiental da companhia em relação ao seu resultado financeiro.

● Os últimos dados mostram que a cada R$ 1 de receita, o retorno socioambiental foi de R$ 2,7. “A meta é elevar o retorno para R$ 4 em 2030”, disse Ana Beatriz.

A longevidade de uma empresa na hegemonia da responsabilidade ESG não é uma exclusividade do Brasil. Na Colômbia, o Bancolombia é soberano ao longo da última década, enquanto no Chile, o banco BCI nunca deixou a primeira posição. Já no México, o Grupo Bimbo permaneceu como o líder.

Para Lylian Brandão, CEO da Merco Brasil, entre 2013 e 2023, a lista das 100 empresas com melhor responsabilidade ESG é dividida quase que igualitariamente entre grupos nacionais e estrangeiros. Passados dez anos, 53 permaneceram entre as 100 melhores e apenas quatro — Natura, Itaú Unibanco, Nestlé e Ambev — se mantiveram entre as dez primeiras do ranking.“Nos últimos dez anos, percebemos o aumento do número de empresas por setor, demonstrando preocupação com a responsabilidade ESG ao longo dos anos”, disse Lylian à DINHEIRO. No setor de alimentos, o número de empresas passou de quatro para oito. Os representantes do mercado financeiro e automotivo somaram seis. Já os serviços de saúde e eletroeletrônicos têm cinco cada.

Para Lylian Brandão, CEO da Merco Brasil, as empresas ficaram mais preocupadas com a pauta ESG na última década (Crédito:Vanessa Serra Fotografia)

Na edição de 2023, apresentada na última quarta-feira (26), o Top 10 ficou assim:
Natura em primeiro lugar,
a segunda posição foi ocupada pelo Grupo Boticário,
Sírio Libanês, Magazine Luiza e Itaú Unibanco completam o top 5.
Na sequência aparecem Nestlé, Mercado Livre, Google, Ambev e Hospital Albert Einstein, formando o Top 10.

“Na edição deste ano, o setor de serviços de saúde ganhou força, com dois representantes nas dez primeiras posições. Mas vale destacar também a presença de empresas de comércio eletrônico e indústria digital, setores novos e que começam a ser percebidos”, disse Lylian.

Na ponta de baixo da tabela, as últimas cinco colocações são ocupadas por JBS, Vale, Rappi, Grupo CB e Braskem.
A empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista perdeu 12 posições em relação ao ranking anterior.
Já a mineradora e a empresa de entregas recuaram quatro e duas posições, respectivamente.
Em penúltimo lugar, o Grupo CB, com negócios imobiliários, aviação e automóveis, não estava na lista das 100 melhores em 2022.
Com uma série de problemas ambientais, a Braskem caiu 35 posições, ficando em último lugar.