Finanças

Em espiral negativa, a bolsa vai parar aonde? Entenda o cenário

Com fuga de mais de R$ 40 bilhões neste ano, IPOs travados e concorrência com juros altos, mercado de ações no País vive tempestade quase perfeita

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Bolsa: performance não está boa, mas poderia estar pior (Crédito: Divulgação )

Por Jaqueline Mendes

Uma das mais importantes premissas do mercado financeiro diz que “rentabilidade passada não é garantia de retornos futuros”. Quem investe na bolsa sabe – ou está aprendendo agora – que essa tese tem se mostrado mais do que verdadeira. Depois de acumular ganhos de 22,28% em 2023 (o melhor resultado desde 2019), o Ibovespa amarga nos últimos meses uma fuga histórica de investidores, principalmente de estrangeiros. Nos primeiros seis meses deste ano, até a última segunda-feira (24), a saída de capital externo acumulada alcançou impressionantes R$ 40,032 bilhões. Percentualmente, o índice Ibovespa coleciona retração de 8,77% no mesmo período.

A queda contrasta com a situação de outras bolsas na América do Sul, que estão vivenciando um ciclo superpositivo.

• O índice S&P Merval, da bolsa de Buenos Aires, subiu 62% desde janeiro.

• Já a bolsa da Colômbia, a Msci Colcap, soma alta de 16,4%.

•A Bvl Peru General, da bolsa peruana, subiu 15,3%.

Isso porque, dentro e fora do Brasil, diversos fatores influenciam esse cenário. Do ponto de vista internacional, a expectativa inicial de cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos foi ajustada de quatro para apenas um corte esperado, possivelmente entre setembro e dezembro deste ano. Isso ocorreu após indicadores demonstrarem que a economia americana continua robusta, alimentando pressões inflacionárias.

Fluxo de exportações e boas condições de empresas de agro ajudam a manter a bolsa brasileira como uma opção razoável de investimentos (Crédito:Divulgação )

No Brasil, o panorama fiscal tem sido uma preocupação constante.

Recentemente, o governo federal se viu pressionado a cortar gastos em um momento de arrecadação desafiadora, tendo revisado a meta fiscal para 2025 visando um déficit zero, o que altera uma previsão anterior de ligeiro superávit.

Esta incerteza fiscal tem levado investidores a migrarem para a segurança da renda fixa, com taxas de juros de longo prazo dos títulos do Tesouro Nacional.

Além disso, a decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,5% faz com que a segurança da renda fixa fique mais sedutora do que o risco de se investir em ações.

ONDA

Na avaliação de Rodrigo Marcatti economista e CEO da Veedha Investimentos, como o Brasil fez a lição de casa no controle da inflação antes do restante do mundo, nossa bolsa atingiu recorde histórico no fechamento do ano. “Mas tivemos algumas águas no chope. Os EUA adiaram os cortes de juros e isso começou a pressionar o mercado. Como recebemos mais dinheiro, também perdemos mais dinheiro”, afirmou. “Aí vieram as cabeçadas do governo principalmente em relação a Vale e Petrobras, que são empresas com volume de capitalização muito alto, culminou com fuga de capital. E para ajuda a piorar, vieram os prognósticos negativos em relação ao ajuste fiscal.”

A situação da bolsa não é boa, mas podia estar pior, segundo análise do banco americano JPMorgan. A queda das ações tem gerado boas oportunidades de compra no segundo semestre em comparação com outros ativos na América Latina.

A equipe de estratégia do JPMorgan manteve:
exposição overweight (acima da média) para o Brasil e para o Chile,
neutro em México,
e underweight (abaixo da média) para Colômbia e Peru.

Em relação aos setores, a exposição é overweight no setor imobiliário, financeiro, industrial, consumo básico e underweight em energia, telecomunicações e TI.

● Mesmo com esse horizonte de boas possibilidades para o investidor, o JPMorgan revisou sua projeção para o Ibovespa para 4,9% em decorrência de uma deterioração nas expectativas no início do ano, como o cenário fiscal e a pausa do ciclo de flexibilização monetária, aliada ainda a incertezas externas.

● Para o fim do ano, no cenário base, o JPMorgan projeta o benchmark da Bolsa brasileira em 135 mil pontos (ante 142 mil pontos na projeção anterior) ao fim do ano, 10% acima do fechamento da última segunda-feira. No cenário otimista, iria para 140,5 mil pontos, alta de 15%.

● No ambiente mais negativo, cairia para 113.700 pontos, baixa de 7%. “Acreditamos que, dentro da América Latina, o Brasil continua sendo a melhor opção, com potencial de receber fluxos se o cenário externo se acalmar. Isto é especialmente verdade agora que a incerteza política está de volta ao México”, avalia o JPMorgan, que tem overweight em Brasil não só na América Latina, como também nos mercados emergentes.