Negócios

Americanas em nova enrascada: PF procura ex-executivos, considerados foragidos

Ex-CEO e ex-diretora da rede varejista são procurados após deflagração da operação "Disclosure" da PF, contra uma fraude contábil bilionária

Crédito: Mauro Pimentel

Uma das maiores redes varejistas do País se reestrutura após rombo bilionário revelado em 2023 (Crédito: Mauro Pimentel)

Por Letícia Franco

Em janeiro de 2023, a Americanas anunciava ao mercado a existência de “inúmeras inconsistências contábeis” e um rombo patrimonial estimado, inicialmente, em R$ 20 bilhões. Em seguida, a empresa revelou que a dívida chegava a R$ 43 bilhões. O problema financeiro levou uma das maiores varejistas do País a entrar com pedido de recuperação judicial. Suas ações no mercado financeiro despencaram. Houve fechamento de cerca de 130 lojas e demissões de mais de 10 mil funcionários. Um ano e meio depois, enquanto a companhia se reestrutura sob o comando de Leonardo Coelho, a Americanas é cercada por uma nova polêmica, que reacende o escândalo do último ano. Na quinta-feira (27), a Polícia Federal (PF) iniciou uma operação batizada de “Disclosure” contra as fraudes contábeis da empresa que, segundo investigações, chegaram a R$ 25 bilhões. As equipes da PF tentam prender o ex-CEO Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Christina Ramos. Ambos são considerados foragidos.

De acordo com as investigações da PF, os ex-diretores teriam praticado fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, nas quais a varejista conseguia antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos, e verba de propaganda cooperada (VPC), que são incentivos comerciais geralmente utilizados no setor. No caso da varejista, foram contabilizadas VPCs que nunca existiram, de acordo com as apurações das autoridades.

Esses fatores maquiaram os resultados financeiros do conglomerado a fim de demonstrar um falso aumento de caixa e consequentemente valorizar as ações das Americanas na bolsa de valores.

• Além da busca pelo ex-CEO e pela ex-diretora, que são considerados foragidos no exterior e terão seus nomes incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo, são executados mais 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos da companhia.

• A Justiça Federal ainda determinou o bloqueio de R$ 500 milhões em bens dos envolvidos.

A força-tarefa, que conta com a colaboração da atual diretoria do grupo Americanas, também tem a participação do Ministério Público Federal (MPF) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Equipes da Polícia Federal tentam prender o ex-CEO Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Christina Ramos. De acordo com as investigações, eles teriam praticado fraudes contábeis nas operações de risco sacado (Crédito:Divulgação )
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CONFIANÇA

A Americanas afirmou em nota “sua confiança nas autoridades que investigam o caso”. A companhia reforçou “que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”. “A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”, concluiu o comunicado. Após início da operação, as ações da varejista abriram o pregão de quinta-feira (27) estáveis, cotadas a R$ 0,40. Os papéis, inclusive, sofrem desde que o rombo contábil veio à tona em janeiro do ano passado.

Para dar a volta por cima, o plano da Americanas, que tem como sócios os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, da 3G Capital, é colocar para rodar uma estratégia de reinvenção operacional.

Em março deste ano, o atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho, afirmou à DINHEIRO que a empresa deve passar de uma dívida de quase R$ 43 bilhões para R$ 1,875 bilhão, que é o total da nova dívida bruta com debêntures. “No desenho que definimos para a recuperação judicial, a gente sai desse processo provavelmente em meados deste ano, com uma situação de balanço extremamente confortável”, disse Coelho. Enquanto isso, a polícia bate à porta dos ex-executivos.