Revista

Alguém cale o Lula

Crédito: Mateus Bonomi

Carlos José Marques: "Nada garante que sem um controle da língua solta do presidente as coisas possam melhorar" (Crédito: Mateus Bonomi)

Por Carlos José Marques

Com o seu irrefreável pendor a dizer tudo que pensa e a crença de que pode tocar o País com ideias ultrapassadas, o presidente Lula tem causado um estrago monumental na economia, especialmente através das variações abruptas do câmbio que podem e devem impactar tudo mais: dos juros à inflação, passando pela dívida pública, nada irá ficar imune a tamanha espiral especulativa que se instalou desde que o demiurgo de Garanhuns passou a tratar os humores da praça como meros chiliques sem consequências. Tem errado feio nesse capítulo. As indefinições governistas aliadas à verborragia latente do chefe da Nação estão travando saídas.

Os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet fazem o que podem para reverter a onda. Em uma reunião dias atrás convocada pelo próprio Lula para tratar das altas pirotécnicas do dólar, consequências e razões, eles disseram em alto e bom som que o presidente precisava se ausentar desse debate em público. Na prática, necessitava calar o bico para não alimentar ainda mais a instabilidade que no momento prevalece. Lula parece dar de ombros para os riscos dessa política. Faz ouvidos moucos aos conselhos e adota um figurino surrado, já testado e agora previsivelmente ineficaz de populista que tenta agradar as multidões. Não está agradando ninguém. Ao contrário. Seu prestígio cai a olhos vistos, de tal forma que intramuros do poder já é discutido se o seu nome é realmente o ideal para as próximas eleições majoritárias, na busca de um quarto mandato. Tratam de sua senilidade precoce a exemplo do norte-americano Joe Biden e já cogitam a ameaça de uma derrota no caso de desempenhos vexaminosos durante uma futura campanha.

No Congresso, para evitar que ele siga como opção, até a ideia de limitar a idade dos postulantes ao Planalto chegou a ser ventilada. De concreto mesmo resta um temor geral que corre o País de Lula, colocando os pés pelas mãos, comprometer qualquer chance de retomada do desenvolvimento. A própria ideia de um PAC está encalacrada, arrasta-se por falta de recursos para os investimentos. O capital internacional anda desconfiado e tem evitado inversões de monta enquanto o Executivo não oferece um ajuste fiscal digno de nota. Aliados lulistas nos bastidores apelam para que o líder fale menos, baixe o tom, se possível fique até calado por um tempo.

A beligerância em um confronto aberto com o mercado não tem, decerto, gerado bons frutos. Lula tripudiou do que classifica como agitação de especuladores. Demarcou espaço de poder e fez pouco caso da banca com graves consequências. Junto ao cenário incerto lá de fora, às variações do juros americanos e aos inconvenientes dos conflitos, tal postura criou o cenário ideal para um ataque à moeda brasileira que foi, nos últimos tempos, a que mais se desvalorizou no mundo. E mais de 80% desse efeito é dado por causas domésticas, segundo estudo da BRCG Consultoria. A volatilidade depreciando o real – que acaba de fazer 30 anos de existência – funciona em efeito cascata sobre os demais indicadores monetários e instrumentos macroeconômicos estruturais.

O falatório desenfreado do presidente é o ingrediente explosivo de uma receita para o caos. Milionários, banqueiros e especuladores continuam lucrando aos montes enquanto a vaca vai para o brejo com os desastrosos e rotineiros pronunciamentos de provocação oficial. Os principais prejudicados seguem sendo os mais pobres, famílias de baixa renda, justamente aqueles a quem Lula prometeu proteger. O risco inflacionário espreita a cada esquina. A conta deve chegar e analistas já cogitam aumentos da taxa de juros ainda para este ano. Para conter a fervura, a maioria dos auxiliares da Fazenda sugere a antecipação do nome que irá substituir Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central. Acreditam que com a definição clara do substituto os ânimos serão aplainados. É mais uma aposta. Nada garante que sem um controle da língua solta do presidente as coisas possam melhorar. O temor é de que ele não pare por aí. Lula está coberto de razão quando reclama dos juros altos – um sentimento e impressão que contagiam inclusive os representantes do setor produtivo. Mas se equivoca quando vira a metralhadora sobre o titular do BC, dizendo que ele está adotando uma postura política. Lula não aceita a recém-conquistada autonomia da instituição, muito embora ela seja uma das maiores conquistas, testada e bem-sucedida em boa parte dos organismos multilaterais de gestão e financiamento de recursos. Atrasado nas ideias, o presidente está precisando se reciclar.