Conselhos de empresas estão mais valorizados, diversos e bem remunerados, diz estudo
Estudo da consultoria Korn Ferry, divulgado com exclusividade à DINHEIRO, mostra que os conselhos de administração das empresas têm evoluído nos últimos anos, desfazendo antigos estereótipos
Por Jaqueline Mendes
Poucos departamentos de companhias públicas e privadas no Brasil simbolizam tão bem a desigualdade e segregação do mundo coorporativo quanto os conselhos de administração. Historicamente, as salas de reuniões que decidem os rumos e as políticas das grandes empresas são locais de pele predominantemente branca, do gênero masculino e farto de ricos senhores grisalhos. Aos poucos, no entanto, esse estereótipo está mudando. Um estudo da consultoria americana Korn Ferry, divulgado com exclusividade à DINHEIRO, mostra que os conselhos estão cada vez mais diversos, mais valorizados e, por consequência, mais bem remunerados.
O estudo da Korn Ferry destaca avanços significativos na diversidade e na profissionalização dos conselhos de administração no Brasil, embora ainda haja desafios a serem superados para alinhar esses conselhos com os padrões de países mais desenvolvidos.
A atenção contínua à transparência, à diversidade de gênero e à remuneração adequada são passos cruciais nesse processo de evolução.
Segundo Jorge Maluf, sócio sênior e líder da prática de Conselhos para América do Sul da Korn Ferry, os resultados mais marcantes do estudo deste ano incluem:
• a continuidade do aumento da diversidade de gênero pelo sexto ano consecutivo,
• a prevalência de mulheres na posição de Governance Officer,
• e uma maior estabilidade na remuneração dos conselhos em comparação com anos anteriores.
• Além disso, houve um crescimento na prática de avaliação dos conselhos e uma maior porcentagem de presidentes de conselhos de administração independentes.
“O número de mulheres nos conselhos independentes cresceu de 22% para 26%. E mais empresas estão realizando avaliações formais dos conselhos, subindo de 49% em 2022 para 54% em 2023.”
Jorge Maluf, sócio da Korn Ferry e coautor do estudo
• Em relação aos estudos anteriores, houve um aumento médio de 8% nos honorários fixos para presidentes e 7% para conselheiros independentes.
• Notou-se também uma redução na dispersão da remuneração entre conselheiros, com os níveis mais baixos recebendo aumentos maiores.
• A presença de presidentes de conselho independentes aumentou de 27% em 2022 para 29% em 2023, indicando um maior nível de profissionalização.
“O número de mulheres nos conselhos independentes também cresceu de 22% para 26%”, afirmou Maluf. “Além disso, mais empresas estão realizando avaliações formais dos conselhos, subindo de 49% em 2022 para 54% em 2023”, acrescentou.
Em comparação com países desenvolvidos, por aqui tem ocorrido uma evolução da governança corporativa. Embora existam progressos significativos em transparência e busca por conselheiros independentes, ainda há diferenças em relação ao entendimento do papel do conselheiro em comparação com países mais desenvolvidos, segundo Silvia Sigaud, sócia sênior e líder global de agronegócio da Korn Ferry.
“Nos conselhos brasileiros, há uma tendência maior de focar na supervisão e controle de indicadores financeiros, enquanto em países com conselhos mais maduros, há uma ênfase maior em orientações estratégicas e tendências de mercado, como inteligência artificial e ESG”, afirmou.
“No País, há uma tendência maior de focar na supervisão e controle de indicadores financeiros, enquanto em países com conselhos mais maduros há uma ênfase maior em orientações estratégicas e tendências de mercado, como IA e ESG.”
Silvia Sigaud, sócia sênior e coautora do estudo
CONSELHOS SOB AVALIAÇÃO
Apesar de 54% das empresas brasileiras terem realizado avaliações formais dos conselhos em 2023, Silvia destacou que ainda há um longo caminho para alcançar o nível de maturidade observado em conselhos de países desenvolvidos. No Brasil, os conselhos demandam maior dedicação de tempo, com mais reuniões e comitês, refletindo um grau maior de envolvimento.
Diante de um cenário de conselhos mais diversos, representativos e estratégicos para a gestão das grandes empresas, há um impacto sobre o retorno financeiro aos conselheiros, por consequência, segundo Maluf. Mas há muito o que avançar.
Embora os conselhos brasileiros estejam se aprimorando, ainda há lacunas em comparação com o cenário externo. Atualmente, existe um mercado de conselheiros no Brasil, e o tema da remuneração passou a ser tratado com mais atenção por parte das companhias.
Conselheiros requerem remuneração adequada ao risco e à dedicação exigida, permitindo que se dediquem a poucos conselhos com o empenho necessário e sejam adequadamente compensados.