Resultados em vez de Entregas

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Luís Guedes: "O sucesso deve ser medido pelo impacto na vida dos clientes e pela sustentabilidade e crescimento do negócio" (Crédito: Divulgação)

Por Luís Guedes 

As entregas não deveriam importar tanto assim. A ênfase na produção, atento leitor, ligada leitora, é coisa da revolução industrial. A busca pela velocidade pode acabar sendo um fim em si mesmo e produzir uma desconexão entre os esforços da equipe de produto e os objetivos gerais do negócio. As entregas aspiram promover mudanças significativas no comportamento dos clientes (usuários, colaboradores, cidadãos, parceiros). Com essas novas funcionalidades que entregamos nos produtos, podem executar suas tarefas mais rapidamente, com mais conforto, podem aumentar suas capacidades, desfrutar de momentos memoráveis. Mas essas entregas somente fazem sentido completo para a empresa competitiva quando por meio desse encantamento atingimos resultados de negócio estrategicamente concebidos. A depender do momento e da visão da companhia, pode-se esperar como resultado o aumento de receita, de margem, de marketshare, taxas de retenção mais altas, diminuição de custos operacionais…

Uma entrega valorosa para o cliente que não repercute no resultado é uma ilusão de sucesso.

Demanda-se da liderança do time de produto uma mentalidade centrada na gestão por resultados, em que pesem o clamor pela agilidade, tão na moda nesses tempos acelerados. As entregas dizem respeito à repercussão nos clientes dos nossos produtos e serviços inovadores – o tema é sexy e cheio de métricas e formas de avaliação. As entregas costumam ser representadas por uma lista de funcionalidades, laboriosamente prototipadas e validadas. Nesse campo os designers se espalham e fazem coisas de cair o queixo. As entregas estão sob o arco de influência da equipe de produto, mas o ponto desse articulista é que devem estar alinhadas com a visão estratégica mais ampla, que remete à geração continuada de valor da companhia. Os guias da equipe de produto em direção a um portfólio consistente e robusto devem refletir um entendimento profundo da estratégia e do valor que se espera gerar (o tal “resultado”). Em última instância, as entregas têm um compromisso duplo: com clientes e com a sustentabilidade econômica da companhia.

“Entregas valorosas para o cliente que não repercutem no resultado são uma ilusão de sucesso. Sob a influência da equipe de produto, elas devem estar alinhadas com a visão estratégica mais ampla, que remete à geração continuada de valor da companhia”

Um escorregão que observo em times de desenvolvimento de produtos é supor que o trabalho termina na entrega das funcionalidades inovadoras e desejadas pelo cliente. Isso pode resultar em uma mentalidade de “fábrica de funcionalidades”, onde o foco está na entrega de funcionalidades em vez de fazer girar a roda de valor da companhia. Para evitar isso, os designers de produto precisam estar profundamente conectados aos problemas que estão resolvendo com cada funcionalidade e, ao mesmo tempo, devem ser arquitetos de como a companhia irá se apropriar de parte do valor que está sendo gerado para o cliente. O sucesso deve ser medido pelo impacto na vida dos clientes e pela sustentabilidade e crescimento do negócio.

Cabe à liderança garantir que as equipes de produto tenham entendimento dos objetivos mais amplos do negócio. Assim se pode delegar autonomia e esperar uma combinação equilibrada de felicidade do cliente e resultados dos quais todos se orgulhem. Objetivos compartilhados com boas pessoas estão sempre no caminho crítico do sucesso. Na vida também é assim.

Luís Guedes é professor da FIA Business School