Finanças

Como a Creditas fez a lição de casa e agora busca atingir R$ 10 bi de receita

Fintech especializada em crédito, a Creditas se adapta ao momento da economia brasileira, ganha relevância no mercado e fala em crescer 40% nos próximos 5 anos

Crédito: Claudio Gatti

“A gente não quer maximizar o lucro. Vamos investir no portfólio”, diz o CEO da Creditas, Sergio Furio (Crédito: Claudio Gatti)

Por Letícia Franco

Para Charles Darwin, pai da teoria da seleção natural, quem sobrevive na natureza não é necessariamente o mais forte, mas sim o que se adapta melhor ao ambiente. Pode-se dizer que na economia e no mercado financeiro também. Permanece quem se adapta ao dinamismo de um setor cercado por crises, tendências, regulamentações. Foi assim a trajetória da Creditas, fintech especializada em crédito, para atingir o breakeven operacional em dezembro de 2023 e o seu primeiro lucro líquido, fechando o primeiro trimestre de 2024 com R$ 1,4 milhão, ante prejuízo de R$ 128,9 milhões no mesmo período em 2023. O resultado não pode ser atribuído apenas à jornada dos dois últimos anos, que reduziu o ritmo de crescimento e cortou custos.

Fundada pelo espanhol Sergio Furio em 2012, em São Paulo, a empresa se adaptou a diferentes cenários de juros e contexto macroeconômico brasileiro para se tornar rentável. A Creditas fez a lição de casa. O plano segue o mesmo: oferecer serviços alinhados ao mercado. Hoje, com quase 500 mil clientes ativos, 14 milhões de usuários e receita de R$ 2 bilhões no ano passado, a empresa estima crescimento anual de aproximadamente 40% para os próximos cinco anos. “A meta é atingir R$ 10 bilhões de receita nesse período”, afirmou à DINHEIRO Sergio Furio, CEO da Creditas.

Antes de fundar a fintech, o executivo trabalhava com serviços financeiros e bancos nos Estados Unidos. Suas conexões pessoais e o desejo de empreender o trouxeram ao Brasil.
A empresa nomeada como BankFacil iniciou as operações em meio a um sistema engessado e altas taxas cobradas por bancos na concessão de crédito.
Então, atuava como uma solução digital que comparava preços e produtos financeiros para facilitar o acesso às melhores taxas e condições.
Foi assim até 2016, quando a empresa mudou de perfil ao oferecer seus próprios créditos com garantia e, de nome: se transformou em Creditas.
Foi nesse período em que os produtos de Auto Equity e Home Equity foram criados — e hoje são considerados dois dos três carro-chefes da casa.

Três anos se passaram. As fintechs eram players importantes no mercado financeiro no Brasil e no mundo e, consequentemente, a Creditas decolou também no mercado de consignado privado. Segundo Furio, os investimentos internacionais e a taxa relativamente baixa registrada na época turbinaram os negócios. “Aproveitamos para impulsionar nossos produtos”, disse ele.

A empresa recebeu aportes ao longo dos anos, mas, nesse período, a rodada de investimento liderada pelo SoftBank, em 2019, no valor de US$ 231 milhões e, aporte de US$ 225 milhões, liderado pelo fundo LGT Lightstone, em 2020, foram significativos. O último conferiu à companhia o status de startup unicórnio, com um valor de mercado de US$ 1,75 bilhão. Uma série de aquisições na expansão de serviços fizeram a receita saltar de R$ 100 milhões, em 2019, para cerca de R$ 2 bilhões, em 2022.

R$ 2 bi
foi o faturamento registrado pela Creditas no ano passado

R$ 10 bi
é o que a empresa espera faturar até 2029

40%
é a estimativa de Avanço anual da fintech para os proximos 5 anos 

LUCRO

Mais uma vez o mercado mudou. Em 2022, o ambiente econômico era mais incerto, com taxas de juros lá no alto e investidores mais retraídos. E mais uma vez a Creditas se adaptou. Como?

A empresa buscou algo que não havia surgido durante os anos de crescimento acelerado: o lucro. A jornada para reduzir a queima de caixa envolveu estratégias como enxugar o time pela metade (hoje tem cerca de 2 mil colaboradores), focar em seus principais produtos e investir em tecnologia em busca de automatização. O breakeven e o lucro líquido inédito marcam uma nova fase baseada no crescimento sustentável. “A gente não quer maximizar o lucro. Vamos investir no portfólio”, afirmou o CEO.

Para o futuro, a fintech planeja aprimorar as tecnologias para a jornada do usuário e investir em seguros.
Em 2021, a Creditas adquiriu a Minuto Seguros.
Foi também neste ano que a companhia desembarcou no México. Segundo Furio, a região representa 3% dos créditos, enquanto o Brasil registra 97%.
A meta é crescer lentamente por lá. “Estamos aprendendo”, disse.
Além disso, há rota de expansão que pode focar na distribuição de fundos de investimentos em mercados desenvolvidos como Estados Unidos e Europa.

Sobre a possibilidade de abrir capital, o executivo diz desejar aumentar o tamanho da empresa antes de um IPO. Adaptar-se ao mercado para crescer, fortalecer. Seja como for, essa deve ser a máxima da Creditas na nova fase.