Galípolo volta a ser a opção de Lula para o Banco Central. Mas e os desafios?
Por Paula Cristina
RESUMO
• Depois de ter se alinhado a Campos Neto na votação da Selic, nome do economista Gabriel Galípolo volta a ganhar força para presidir o BC
• A ele caberá equilibrar as expectativas do governo e as necessidades do mercado para manter estável a gestão monetária do Brasil
Quem acompanhou Gabriel Galípolo transitando no Sindicato dos Metalúrgicos, no ABC paulista, desde 2021, geralmente acompanhado pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já imaginava que havia planos grandes para o jovem economista formado na PUC. Responsável por boa parte das diretrizes econômicas que nortearam a campanha eleitoral de Lula em 2022, ele foi rapidamente adotado pelo mercado, que notou em sua presença um aceno do PT em direção a uma gestão equilibrada.
Já integrantes da Fazenda, durante o governo de transição, a dupla Galípolo e Haddad apresentava soluções para desburocratizar o mercado de capitais, destravar investimentos e regulamentar as novas formas de economia. Era uma lua de mel. Em julho passado o governo Lula indicou Galípolo como um dos oito diretores do Banco Central, movimento bem visto pelo mercado e uma indicação clara do interesse do governo em colocá-lo na vaga da presidência da autoridade monetária, no final de 2024, no lugar de Roberto Campos Neto. Desde então, a relação entre ele e o governo estremeceu, principalmente após Galípolo votar com Campos Neto pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic.
Agora, às vésperas da indicação de Lula para a mais importante cadeira do BC, o nome dele volta a ganhar força. O motivo? A busca pelo calmaria econômica que o PT entendeu que precisa para ativar o PIB.
Os nomes cotados para a vaga foram muitos – e quase todos irritaram os mercados. Guido Mantega, por exemplo, foi visto como uma indicação ideológica, o que atrapalharia a política monetária e, consequentemente, estressaria o mercado. Em um momento de dólar alto e a bolsa crescendo pouco, qualquer indicação neste sentido seria uma ferida difícil de cicatrizar.
Considerado um heterodoxo moderado, acredita-se que o ex-número um de Haddad possa acelerar o ritmo da queda dos juros. Embora tenha prestado apoio à candidatura do atual presidente e participado ativamente de sua equipe de transição, Galípolo não vê é visto como alguém da bancada do PT, mas sim alguém capaz de servir de ponte entre o mercado e o governo.
Em Brasília, os rumores são que, apesar de ter buscado outros nomes, a indicação do Galípolo funcionaria como um véu de independência da autoridade monetária. Ainda que ele não tenha votado pela redução da Selic na última reunião do Copom, suas passagens por bancos e bom trânsito dentro do sistema financeiro se sobrepõem aos demais candidatos.
A expectativa é que o nome dele seja anunciado em agosto pelo governo. Na sequência, a nomeação irá para o Senado que, por meio de uma sabatina, decide se aprova ou não. Até aqui, não parece haver forte resistência no Legislativo ao nome dele.
Indicar o próximo presidente do bc será difícil para o governo lula. o escolhido precisa ter bom trânsito no mercado financeiro e olhar as ambições do governo de fazer a taxa básica de juros cair mais rápido
DESAFIOS FUTUROS
Se confirmado, Galípolo assume o BC com desafios que vão além da redução da Selic para um dígito.
• A implementação das próximas etapas do Open Finance será um dos movimentos mais importantes para a simplificação do sistema financeiro no Brasil.
• A principal novidade é o lançamento do Pix por aproximação, previsto para de fevereiro de 2025. Segundo Janaina Attie, chefe de Divisão do Departamento de Regulação do BC, a expectativa para a nova modalidade é grande, principalmente porque eleva a integração do Open Finance, aumentando a segurança e reduzindo os entraves bancários.
“A experiência do consumidor será simplificada e terá menos etapas do que a atual, que exige o redirecionamento do cliente para o aplicativo do banco para efetuar o pagamento”, disse. Segundo ela, a solução também facilita as compras on-line, com a possibilidade do consumidor cadastrar a modalidade Pix nas compras. Segundo o BC, ambas as opções começam a ser testadas pelos bancos em novembro deste ano e devem estar disponíveis ao cliente a partir de 28 de fevereiro de 2025.
Para discutir o assunto, o BC formou um colegiado com 10 representantes entre conselheiros, membros do governo, além do setor produtivo, entre eles:
• Febraban,
• ABBC,
• ABBI,
• Acrefi,
• e Abecs.
Segundo Otávio Damaso, diretor de regulação do BC, durante as decisões serão dados 11 votos. “Todo mundo tem um voto e a Febraban tem dois devido à interdependência entre voto e custeio”, disse. Uma discussão que será longa, e que precisará equilibrar interesses distintos, mas que pode melhorar a qualidade monetária do Brasil. Um teste de fogo para o próximo presidente do BC.