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Sobe a popularidade de Lula. E a reduflação também

PT comemora aumento no consumo das famílias e avanço no índice de popularidade do presidente da República. Sobre a inflação maquiada, silêncio!

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beto Silva: "Sobe a popularidade de Lula. O PT cacareja. A reduflação também aumenta. Silêncio..." (Crédito: Divulgação )

Por Beto Silva

O PT tem bradado aos quatro cantos o aumento de 7,8% no consumo das famílias brasileiras no supermercado nos últimos 12 meses. O percentual foi revelado no início do mês pelo estudo Consumer Insights Q1 2024, da consultoria britânica Kantar. Para o Partido dos Trabalhadores, esse resultado deve-se ao que chama de “efeito Lula”, que mantém a inflação sob controle com emprego e renda em alta. Com isso, “a economia voltou a girar”, comemora a agremiação partidária. O próprio Lula tem exaltado esse momento. Na rede social X, o presidente da República postou: “O Brasil melhorando no rumo certo”. Botar o ovo e cacarejar faz parte do jogo político. A claque a favor, bate palmas. A contra, corre atrás de argumentos contrários para rebater o alarde positivo. No meio disso tudo, algumas considerações devem ser analisadas com lupa. Vejamos.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do País e divulgado na quarta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que os preços subiram 0,21% em junho. O resultado representa uma desaceleração em relação a maio, que fechou com alta de 0,46%. A inflação acumulada é de 4,23% em 12 meses. Em 2024, a alta é de 2,48%. E adivinhe qual grupo – mais uma vez! – figura entre os de maiores impacto no aumento de preços em junho? Justamente em Alimentação e Bebidas, com alta de 0,44%. A batata inglesa aumentou 14,49%. O leite longa vida, 7,43%. O café moído, 3%. O arroz, 2,25%. Aumentou o consumo das famílias, como o PT celebrou, mas elas pagaram mais caro pelos produtos, como o PT não festejou.

E tem outro componente nesse balaio que não entra no cálculo direto da inflação, muito menos nas divulgações petistas: a reduflação. É um apelido bonitinho – ou nem tanto – usado como sinônimo de “inflação maquiada”. É a redução do peso ou encolhimento dos produtos, sem diminuir os preços. Não é algo novo no Brasil, admitamos. É uma artimanha utilizada pela indústria para driblar a alta dos preços e manter o consumidor ativo. Ocorre quando a alta dos preços está em voga.

Dessa forma, as pessoas continuam enchendo o carrinho — quando conseguem —, sem perceber aumento no valor das compras. Mas, a percepção vem de outra forma. As compras não chegam mais ao fim do mês. Os produtos acabam antes. E o retorno ao mercado fica mais constante. Para exemplificar a reduflação, existem algumas situações icônicas. O sabão em pó que tradicionalmente era vendido em embalagens de 1 quilo e 500 gramas, agora é encontrado em 900 gramas e 400 gramas. Os azeites que eram de 500 mililitros, agora têm 450 mililitros. Embalagem de uma famosa massa fina de pizza rápida, que continha 10 unidades, agora vem com nove. Alguns pacotes de itens que vinham com 12 unidades agora são vendidas com 10. É o famoso “meia-dúzia de 10”. Até caixas de fósforos, que vinham com 240 palitos, são vendidas com 40 a menos. Uma embalagem de pão de queijo congelado passou de 45 gramas para 41 gramas. Parece pouco? Então faça a conta: 8,89% de redução.

E tem outros casos emblemáticos. Um produto que tem cara de manteiga, tem embalagem de manteiga, mas não é manteiga. É uma mistura vendida como se fosse manteiga. Essas alterações, em tamanhos e fórmulas, são justificadas pelas companhias como “estratégia de negócio”, “acompanhamento de tendências de consumo”, “adequação a inovações”, “aumento de opções no portfólio”. Elegantes expressões para uma gougre tática de mercado. Nada disso é ilegal, ressaltemos. E o movimento não vai desaparecer tão cedo. Nem mesmo com redução mais incisiva da inflação. Resta ao consumidor ficar atento.

Enquanto isso, o PT e o presidente Lula seguem com a narrativa de contribuição ao bom momento econômico, com críticas à política de juros do Banco Central e ao mercado financeiro. A mensagem é de defesa dos pobres, contra os ricos. Tem surtido resultado. Segundo pesquisa Quaest divulgada quarta-feira (10), o trabalho do petista à frente do Palácio do Planalto é aprovado por 54% dos eleitores. Em maio eram 50%. O desempenho do presidente entre os que ganham até dois salários mínimos é o melhor em um ano: 69% o aprovam. O índice das pessoas que consideram a gestão ótima ou boa cresceu de 33% para 36%. A avaliação negativa caiu de 33% para 30%. Sobe a popularidade de Lula. O PT cacareja. A reduflação também aumenta. Silêncio… Os consumidores estão no mercado fazendo compras. Não os incomode.