Vem aí a próxima janela de IPOs. E tem muita gente na fila

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Norberto Zaiet: "O tema IA, no momento, segue concentrado no CAPEX necessário para que essa tecnologia seja aplicada. A próxima onda, provavelmente, vai focar em quem utiliza ou ajuda outras empresas a usar melhor a tecnologia" (Crédito: Divulgação)

Por Norberto Zaiet

O mercado de renda fixa americano espera que, na sua próxima reunião, o Federal Reserve (Fed) indique estar preparado para começar o ciclo de cortes de juros a partir de setembro. Caso esse cenário se materialize, ele indicará a abertura de uma janela importante para o mercado de IPOs.

O mercado vem subindo, desde o ano passado, estimulado por tudo o que é ligado à Inteligência Artificial (IA). Apesar de ser um movimento justificado por lucros, boa parte dos analistas – inclusive este que vos escreve – segue incomodada com o fato de que a valorização de mais de 20% no índice da Nasdaq e acima de 16% no S&P 500 no ano, até agora, está de maneira exageradamente concentrada em poucos nomes, dos quais o maior expoente é a Nvidia. Se o universo da Inteligência Artificial continuar sendo o grande motor que impulsiona a Bolsa, o mercado precisa de novos nomes. E não há falta deles no mercado pré-IPO.

Sem sombra de dúvida, os papéis da OpenAI – a criadora do famoso ChatGPT e que tem na sua base de acionistas a Microsoft – têm grande atividade no mercado de pré-IPO. Além dela, entre os papéis mais negociados existem empresas como a Databricks, que é uma desenvolvedora de plataformas para que outras empresas construam modelos para escalar e administrar grandes quantidades de dados, inclusive IA generativa.

Caso o Fed comece o ciclo de cortes de juros em setembro, ele indicará uma abertura importante. O mercado vem subindo estimulado por tudo o que é ligado à IA

Há ainda outros nomes: a ThoughtSpot se dedica ao desenvolvimento de plataformas para análise de dados complexos e em larga escala; a Dataminr desenvolve uma plataforma de IA que descobre (ou minera) informações relevantes em uma massa enorme de dados públicos, ou seja, se propõe a achar a agulha no meio do palheiro cada vez maior de informações disponíveis; a Cerebras Systems desenvolve chips de computador para a aceleração de IA; a Scale AI desenvolve uma plataforma que ajuda no treinamento e validação de modelos de IA; a xAI (de Elon Musk), que se autodefine como desenvolvedora de uma plataforma de Inteligência Artificial destinada a “acelerar a descoberta científica humana”; e assim por diante. A lista é enorme, e quem se lembra da segunda metade dos anos 90 sabe que o mercado, quando está empolgado com um tema, tende a empurrar para cima nomes que, mesmo queimando caixa e sem gerar lucro, se encaixam na história do momento.

Há também, afortunadamente, nomes não relacionados a IA. Alguns ainda navegam no universo dos criptoativos, como Chainanalysis e Kraken, e muitos ainda exploram o setor de meios de pagamento. Um dos papéis mais negociados é mais uma criação de Elon Musk que deu certo: a SpaceX. Há também ações de empresas que se dedicam a atacar problemas mais mundanos: a Flexport desenvolveu uma plataforma de cadeia de suprimentos que coordena a logística global de uma empresa, do chão de fábrica até o consumidor final; a Attentive criou um sistema de mensagens que ajuda marcas e negócios a interagirem de maneira mais eficiente com seus clientes; a Epic Games, popular companhia de jogos eletrônicos; a Navan, que gerencia todo o processo de viagens corporativas de empresas; e muito mais.

O tema IA, no momento, segue concentrado no CAPEX necessário para que essa tecnologia seja aplicada. A próxima onda, provavelmente, vai focar em quem utiliza ou ajuda outras empresas a usar melhor a tecnologia. A sinalização pelo Fed de mission accomplished, ou seja, de que a batalha principal contra a inflação foi vencida, deverá ser o estopim para que os bancos de investimento comecem a nos bombardear com essas “novas” histórias.

Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York