Liderança e o desafio da saúde mental nas empresas
Por César Souza
Infelizmente o Brasil está subindo no ranking dos países no doloroso tema da saúde mental. É o campeão mundial em ansiedade, quarto lugar em depressão, campeão também na síndrome de burnout e ocupa a triste oitava posição na modalidade suicídios, cujo índice entre os jovens tem crescido a uma taxa média anual de 6% desde 2011. No cômputo geral o Brasil está conquistando a medalha de bronze como terceiro pior país do mundo em disfunções da saúde mental.
Os líderes – nas empresas, nas escolas, na comunidade e nas famílias – precisam entender com maior profundidade as causas desse desafio, pois as consequências são bem visíveis nas diversas esferas do nosso cotidiano.
Nas empresas é claramente perceptível o impacto dos problemas de saúde mental no decréscimo da produtividade e da eficiência operacional, assim como no acréscimo da insatisfação com o trabalho e na deterioração do clima interno.
Por seu turno, todos esses indicadores são decorrentes do aumento de absenteísmo, das licenças médicas com afastamento temporário, dos acidentes do trabalho ocasionados por negligência e déficit de atenção e dos conflitos interpessoais causados por agressividade ou letargia.
Precisamos compreender que as pessoas estão muito angustiadas devido a uma série de fatores internos nas empresas, tais como as disrupções tecnológicas, a entrada de novos concorrentes, o grau de endividamento elevado, as mudanças nos hábitos dos consumidores, as recorrentes divergências entre sócios. Em alguns casos essa situação é agravada pela presença de chefes tóxicos com comportamento de bullying, assédio moral e cobranças inadequadas por metas ou prazos improváveis.
A pressão também pode ser advinda pela percepção de oportunidades de expansão geográfica, lançamento de novos produtos, aquisição de novos negócios, penetração em novos nichos de mercado etc.
Como se todos esses componentes enumerados não fossem suficientes, as pessoas sofrem por problemas oriundos da situação macroeconômica, da mudança brusca das regras do jogo, das catástrofes climáticas, da insegurança causada pelo alto nível de violência urbana, além de vários outros fatores.
Para agravar a situação, alguns são impactados pelos efeitos danosos do uso excessivo das redes sociais que criam a chamada “dissonância cognitiva”, principalmente nas pessoas com menor nível de maturidade.
Esse ciclo vicioso se retroalimenta na ansiedade, depressão e burnout, que leva a problemas de conduta pessoal tal como alimentação inadequada, sedentarismo, deficiência no sono, remédios, drogas e afastamento da vida social.
O que fazer? Como os líderes inspiradores nas empresas, escolas, famílias e comunidades devem agir? Longe de apresentar uma lista exaustiva, algumas iniciativas podem contribuir para prevenir ou pelo menos mitigar parcialmente a incidência de disfunções mentais:
• a construção de um senso de propósito para a empresa, que contribua para dar significado à vida das pessoas;
• a criação de um ambiente de trabalho mais humanizado que permita a convivência menos opressiva;
• o cultivo de uma cultura que tenha uma dose saudável de tolerância aos erros e que cobre o cumprimento de resultados de forma mais adequada;
• o estímulo à inovação como uma espécie de antídoto contra a rotina massacrante de algumas tarefas;
• o incentivo à sociabilidade que iniba a solidão e permita alguns momentos lúdicos e de descontração no dia a dia do trabalho.
Se desejamos desenvolver empresas mais saudáveis, famílias mais felizes e comunidades mais autossustentáveis, os líderes inspiradores precisam praticar a arte de cuidar melhor de si próprios, dos membros de suas famílias, dos seus liderados, enfim, das pessoas no seu ecossistema. Uma palavra japonesa resume bem essa filosofia: omotenashi!
César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda