ESG

Agropalma fatura para preservar

Com 64 mil hectares de mata nativa preservada no Pará, a Agropalma quer usar o próprio patrimônio para emitir créditos de carbono, gerar receita e aplicar os recursos na preservação da própria área

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Pará possui mais de uma dezena de espécies de madeiras cobiçadas por vários países (Crédito: Divulgação )

Por Alexandre Inacio

O Estado do Pará é o maior exportador de madeira nativa do Brasil. Considerando as florestas cultivadas, ocupa a quarta posição do ranking nacional, atrás de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, grandes produtores e exportadores de eucalipto e pinus. O Pará possui mais de uma dezena de espécies de madeiras cobiçadas por países como Índia, China, Vietnã, Nova Zelândia e toda a União Europeia. Apesar do cenário econômico promissor, estimativas de consultorias e organizações não-governamentais indicam que quase metade da exploração de madeira do Estado se dá de forma irregular.

E não são apenas as áreas públicas que sofrem ataques e invasões daqueles interessados em extrair as variedades mais nobres. Não é incomum haver registros de roubos de madeira em fazendas particulares, muitas das quais são áreas de preservação de floresta nativa devidamente registradas. A dificuldade em monitorar, vigiar e preservar o próprio patrimônio são alguns dos elementos que tornam a preservação da floresta uma atividade altamente custosa.

Baseada no Pará, a Agropalma, maior empresa produtora de óleo de palma sustentável das Américas, encontrou uma solução para ajudar a preservar seu próprio patrimônio e, por consequência, o meio ambiente. Em pouco mais de quatro décadas de vida, acumulou 107 mil hectares de terras no Estado. Desse total, a empresa utiliza comercialmente 39 mil hectares para o cultivo de palma. Os demais 64 mil são áreas de floresta nativa preservadas, que no balanço financeiro, sempre estiveram do lado das despesas.

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Túlio Brito, da Agropalma, e Soraya Pires, da Biofílica Ambipar, conduzem projeto que vai emitir 350 mil créditos de carbono por ano no Estado do Pará (Crédito:Divulgação )

Agora, cerca de 80% das reservas da Agropalma começarão a gerar receita. A empresa criou o Projeto Ararajuba – pequena arara amarela que habita as reservas da Agropalma e ameaçada de extinção – que vai utilizar 50 mil hectares distribuídos pelos municípios de Tailândia, Moju, Tomé-Açu e Acará, no nordeste do Estado do Pará, para geração de créditos de carbono. A expectativa é que sejam emitidos cerca de 350 mil créditos de carbono por ano, o equivalente a 350 mil toneladas de carbono-equivalente.

“Não é barato cuidar das reservas. Nossas áreas preservadas acabaram se transformando em um poucos fragmentos florestais em uma região onde a extração de madeira sempre foi a principal atividade econômica”, disse à DINHEIRO Túlio Dias Brito, diretor de sustentabilidade da Agropalma. Por ano, a Agropalma investe cerca de R$ 1,5 milhão em seu programa de regularização florestal.

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A comercialização dos créditos do projeto tem potencial para gerar uma receita da ordem de US$ 3,5 milhões por ano. Segundo Brito, os recursos serão usados para proteção das áreas de reserva, preservação e monitoramento da biodiversidade e implementação de programas sociais de longo prazo envolvendo educação, trabalho e renda das comunidades locais. “A reserva deixa de ser apenas um custo e passa a ser uma fonte de receita financeira e reputacional para a empresa”, disse o executivo.

Para operacionalizar o projeto e ficar responsável pela parte técnica e de comercialização dos créditos, a Agropalma contratou a Biofílica Ambipar. De acordo com Soraya Pires, diretora de operações da Biofílica Ambipar, os créditos estão classificados como sendo de desmatamento não-planejado evitado e cerca de 70% devem ser destinados ao mercado externo, onde já existe maior maturidade dos agentes e os compromissos das grandes empresas já estão feitos.

A entrada da Agropalma no mercado de carbono já passou pelos processos de autoria, audiência e registro na Verra, organização que controla o mercado de crédito de carbono, onde está agora na fase de validação. “É difícil prever quando os certificados serão emitidos, mas já passamos por todas as etapas e estamos apenas aguardando a revisão técnica para a liberação”, disse Soraya.

A executiva lembra que o ponto alto do projeto Ararajuba é sua localização. As fazendas envolvidas estão localizadas em uma região de alto risco de desmatamento e ainda abrigam 199 espécies vegetais – das quais seis ameaçadas de extinção – e mais de 700 espécies de fauna, sendo que 30 correm o risco de deixar de existir. “Toda a área tem um alto valor de conservação devido a essas características”, afirmou.