Qual o prazo de validade da sua empresa?

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César Souza: "A grande maioria dos líderes e dirigentes empresariais continua sem querer olhar para o somatório de circunstâncias que poderá afetar suas empresas e prosseguem firmes fazendo mais do mesmo" (Crédito: Divulgação)

Por César Souza

Presenciamos uma aceleração de soluções disruptivas que têm ameaçado destruir negócios tradicionais da noite para o dia. Outros tantos parecem condenados a desaparecer, mas já não serão objeto de maiores surpresas, pois o seu prazo de validade já se esgotou. Empresas e marcas que pareciam sólidas simplesmente estão perdendo a relevância e vendo seu valor de mercado se deteriorar. Em alguns casos mais extremos, alguns empreendimentos estão virando pó.

Sabemos que o horizonte empresarial se encontra carregado de nuvens tempestuosas, com o arsenal de novas tecnologias que aceleram o futuro e com isso o processo de obsolescência de produtos e serviços. Para agravar a complexidade da situação, alguns desafios potencializam a já intensa turbulência: mudanças nos hábitos de compra e uso dos consumidores; constantes alterações na legislação e nos marcos regulatórios; surgimento de concorrentes inusitados mais ágeis e flexíveis, dentre vários outros fatores.

Mas, sem sombra de dúvida, a causa-raiz dos problemas enfrentados pelas empresas continua residindo no estilo de liderança exercido pela maioria dos seus dirigentes. Líderes nostálgicos, acostumados ao sucesso durante uma realidade que já não existe mais, acomodados ao subdesempenho satisfatório, focados no curto prazo, na sua própria sobrevivência profissional e pouco questionadores do status quo, preferem não enfrentar o que precisam fazer para reposicionar a empresa rumo a um novo patamar.

É angustiante e, por que não dizer, surpreendente que apenas alguns líderes confessem estar preocupados e decididos a mudar rapidamente, pois suas empresas já passaram pela porta da UTI e não desejam voltar àquela situação.

A grande maioria dos líderes e dirigentes empresariais continua sem querer olhar para o somatório de circunstâncias que poderá afetar suas empresas. Precisamos de coragem para executar as mudanças que precisam ser enfrentadas

A grande maioria dos líderes e dirigentes empresariais continua sem querer olhar para o somatório de circunstâncias que poderá afetar suas empresas e prosseguem firmes fazendo mais do mesmo, sem inovar de fato e sem perceberem a perda inexorável da relevância do seu negócio à medida que o tempo passa. Preferem apontar dedos e culpar terceiros, governos, concorrentes, a tecnologia, a guerra na Ucrânia ou em Israel e a atribuir a causa de seus problemas à alta taxa de juros e à ausência ou excesso de chuvas, dentre outros fatores exógenos.

Enquanto isso tomam maior vulto os “pontos cegos” da empresa sob sua liderança, tais como os concorrentes invisíveis – que não são mais apenas os que fabricam os mesmos produtos ou prestam os mesmos serviços, mas sim os que disputam o “share of wallet” dos mesmos consumidores e os modelos de negócios obsoletos para uma realidade que já não existe mais.
Adicione-se a todos esses componentes as atitudes derivadas do excesso de confiança proveniente do sucesso anterior que leva à busca indiscriminada por mais, muitas vezes numa megalomania infundada, e a negação de riscos e perigos óbvios que, quando se perde o timing certo, levam à luta desesperada pela salvação.

Precisamos de coragem para executar as mudanças que precisam ser enfrentadas para garantir que as nossas empresas possam desfrutar de um lugar ao sol na outra margem do rio aonde o futuro as espera. A pergunta inconveniente, porém necessária, se torna imperativa: qual o prazo de validade da sua empresa?

César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda