ESG

Um combustível para “limpar o ar”

FS Energia prepara investimento de R$ 400 milhões para construir fábrica que vai enterrar o CO2 gerado na produção de seu etanol e sequestrar até 12 milhões de toneladas de carbono da atmosfera em 30 anos

Crédito: Divulgação

FS, empresa que fabrica etanol de milho em Mato Grosso e é controlada pelo americano Summit Agriculture Group (Crédito: Divulgação )

Por Alexandre Inacio

O setor de transporte é um dos maiores responsáveis pela emissão de CO2. Sozinho, ele representa cerca de 16% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, sendo que o transporte rodoviário tem uma fatia de 12%, o que o coloca entre os principais vilões do aquecimento global. Na prática, a humanidade tem tirado da terra ao longo de décadas o carbono ali depositado em forma de petróleo, transformado em combustível, queimando nos motores de carros, ônibus e caminhões e jogado devolvendo em CO2.

No Brasil, o uso do etanol tem contribuído para reduzir o peso das emissões do setor de transportes. Afinal, parte do dióxido de carbono emitido pelos motores a combustão é usado pela cana-de-açúcar ou milho como fonte de energia para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Agora, o país está perto de produzir um combustível com uma pegada negativa de emissões.

A FS, empresa que fabrica etanol de milho em Mato Grosso e é controlada pelo americano Summit Agriculture Group, concluiu seus estudos de viabilidade e comprovou que existem condições geológicas para injetar no solo o dióxido de carbono emitido na produção do biocombustível. Assim, a empresa será a primeira do mundo a produzir etanol com uma pegada negativa de carbono.

Hoje, o etanol da FS emite 17 gramas de CO2 por cada megajoule equivalente de energia gerada. Por si só, é 80% menor do que a gasolina. A partir do momento que a empresa passar a estocar o gás no solo passará a ter uma geração negativa de 13 gramas de CO2 por megajoule. Em outras palavras, o biocombustível passará a sequestrar carbono da atmosfera, uma espécie de “limpeza do ar”.

Para Augusto Carvalho, da SLB, o Brasil tem um grande potencial para armazenar CO2 no solo, dada suas dimensões continetais (Crédito:Divulgação )

“O projeto total, que inclui perfuração, análise do solo e a construção do site de injeção de CO2, tem um investimento previsto de R$ 500 milhões. Investimos até agora R$ 110 milhões, que corríamos o risco de perder caso o projeto se mostrasse inviável. Agora, serão mais cerca de R$ 400 milhões para a fábrica”, disse Daniel Costa Lopes, vice-presidente de sustentabilidade e novos negócios da FS.

Para fazer a perfuração, estudo do solo e análise geológica da região a FS contratou a SLB para cuidar de todos os aspectos técnicos. Segundo Augusto Carvalho, diretor de novos negócios da SLB para América Latina, o projeto da FS é o primeiro do Brasil em escala internacional dentro da bacia sedimentar dos Parecis e terá uma capacidade para armazenar 12 milhões de toneladas de CO2 ao longo de 30 anos. “Pelas condições continentais do Brasil, o país possui em seu território algumas regiões com condições geológicas para estocar CO2. Entre elas a do Parecis (MT), onde estão duas usinas de etanol da FS, mas também na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Temos uma perspectiva muito positiva, geologicamente falando.”

Se a etapa geológica foi superada, para que as obras tenham início ainda será preciso dois passos fundamentais.

• O primeiro é regulatório. O Brasil ainda não tem uma lei e uma regulamentação vigentes que tratem da estocagem de CO2 no solo. O projeto de lei que trata do assunto está no Congresso e é conhecido como combustível do futuro. O PL já foi aprovado na Câmara dos Deputados e aguarda por votação no Senado para ir à sanção presidencial.

Segundo Daniel Lopes, da FS, empresa estima investimentos de R$ 500 milhóes para produzir o etanol que sequestra carbono da atmosfera (Crédito:Divulgação )

Além da aprovação da lei, será necessária a emissão do licenciamento ambiental do projeto — de âmbito estadual — o que inclui a realização de uma audiência pública, já marcada para 18 de setembro.

“Se tudo correr como o planejado, a licença prévia do projeto será emitida até dezembro deste ano, para que em maio de 2025 saia a licença de instalação. Acreditamos que, até lá, a lei estará em vigor”, disse Lopes.

• O segundo passo a ser dado é o da monetização. Nesse caso, a FS trabalha com duas possibilidades.
A primeira é a geração de créditos de carbono, que poderiam ser comercializados tanto no mercado voluntário (nacional ou internacional) quanto no mercado regulado, via CBios.
O segundo caminho é adicionar ao etanol produzido pela empresa uma espécie de prêmio. O biocombustível de valor agregado seria exportado a mercados que remuneram pela pegada de carbono ou mesmo utilizado para a produção do SAF (Combustível Sustentável de Aviação, na sigla em inglês).

Segundo Lopes, nenhuma possibilidade de monetização está descartada. Já existem até compradores dispostos a pagar pelo produto, mesmo sem a existência dele. Seja qual for a forma de monetizar o projeto e o produto, a FS terá nos próximos anos 600 milhões de litros de etanol com uma pegada negativa de carbono.