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Um mercado do Brasil além-mar

Rede de supermercados baiana, Hiperideal vira multinacional, desembarca em Portugal e projeta chegar ao seu primeiro bilhão em faturamento neste ano

Crédito: Rebeca Lima Azevedo

"Portugal se tornou um grande reduto de brasileiros, o que nos confere competitividade nas importações”, diz Amanda Vasconcelos, diretora comercial (Crédito: Rebeca Lima Azevedo)

Por Aline Almeida

RESUMO


• Rede de supermercados baiana, Hiperideal vira multinacional
• Empresa desembarca em Portugal
• E projeta chegar ao seu primeiro bilhão em faturamento neste ano

A empresa anunciou recentemente a aquisição de seis lojas da varejista portuguesa M. Cunha. Segundo Amanda Vasconcelos, que comanda sete áreas diferentes dentro da companhia e é filha de João Gualberto, um dos fundadores da rede, a expansão para o país europeu foi uma escolha estratégica. “Portugal se tornou um grande reduto de brasileiros, o que nos confere competitividade nas importações de produtos para atender à demanda”, disse ela. “Além disso, estamos buscando apresentar um novo modelo de negócio ainda não utilizado na Europa, o que facilitará, e muito, as relações comerciais entre a rede e os consumidores”, discorreu a executiva.

Os brasileiros representam 35% do total de 1,04 milhão de cidadãos estrangeiros com residência em Portugal, mantendo-se como a principal comunidade imigrante, segundo dados provisórios de 2023 divulgados pela Agência para a Integração de Migrantes e Asilo (Aima) ao jornal português Público. Inicialmente, a ideia era expandir para São Paulo, mas essa opção foi descartada devido à forte concorrência no estado do sudeste. Em Portugal, ainda predominam as lojas de vizinhança e há uma quantidade reduzida de estabelecimentos no modelo de cash & carry.

A empresa começará em agosto a implementar a sua estratégia de identidade nas terras portuguesas, transformando a M. Cunha na Hiperideal. De acordo com Amanda Vasconcelos, o objetivo é inaugurar a primeira unidade no início de 2025, com um novo nome, layout e sistema. “Esse é um desafio interessante e cheio de detalhes, mas também uma oportunidade promissora. Estamos animados para anunciar que já temos uma data para a abertura da nossa primeira loja, construída do zero, em solo português”, afirmou a executiva.

Varejista tem o compromisso de manter o padrão de suas lojas e ocupar os espaços deixados pelos concorrentes (Crédito:Rebeca Lima Azevedo)

No Brasil, a varejista continua sua expansão no nordeste com a inauguração de uma nova unidade no bairro Cidade Jardim, em Salvador. Amanda explicou que a nova filial está localizada em um ponto estratégico da cidade e anunciou que a empresa está se expandindo além da capital para Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia. “Teremos ainda mais unidades no modelo Hiperideal em casa, com operações 100% autônomas”, reiterou. Todas as lojas da rede seguem o modelo de mercado de vizinhança, com áreas de venda entre 700 m² e 1.500 m².

Enquanto a rede brasileira se consolida, algumas multinacionais têm reduzido suas operações no nordeste e desacelerado seus investimentos. Um exemplo é o Carrefour, que em dezembro do ano passado anunciou o encerramento de quase todas as suas operações na Bahia. Nos espaços deixados, o Hiperideal entrou, como fez nas duas das três lojas inauguradas em 2023, localizadas onde antes funcionavam unidades do Big.

Todas as lojas da rede seguem o modelo de mercado de vizinhaça, que será implantado também em Portugal (Crédito:Divulgação )

Para Amanda Vasconcelos, o crescimento da empresa é resultado dos 32 anos de atuação no setor varejista da região, o que permite conhecer e aplicar inovações para garantir a melhor experiência para clientes, colaboradores e fornecedores. “Toda essa trajetória nos garante uma relação coesa com os consumidores e nos permite absorver organicamente o gap de mercado deixado pela saída das multinacionais na cidade”, afirmou.

Ao projetar faturamento de R$ 1 bilhão para este ano, a visão da Hiperideal para o futuro é estabelecer e ganhar mercado na Bahia e equilibrar suas operações entre o crescimento internacional e a expansão no Brasil. “Buscamos ser os melhores no que fazemos e aprimorar continuamente, sem copiar, mas adaptando e dando a nossa identidade. Acreditamos que este é o caminho”, enfatizou a executiva.

COMEÇO

A história do Hiperideal começou em 1979, quando seu fundador, João Gualberto, deixou de vender produtos de limpeza em São Paulo e iniciou atividades no setor de supermercados, comprando 12 lojas da rede Petipreço, em Salvador, pertencentes ao Grupo Paes Mendonça de seu tio, Mamede Paes Mendonça.
Em 1997, a rede já era a segunda maior da Bahia e, em 1999, foi vendida para o grupo holandês Royal Ahold.
Em 2001, Gualberto fundou o primeiro hipermercado do Mato Grosso, em Cuiabá.
Em 2004, retornou ao mercado baiano e abriu duas filiais da rede Hiperideal em Salvador.
Segundo Amanda Vasconcelos, toda essa experiência possibilitou um amadurecimento com a tecnologia e inovação. “Fomos a primeira rede do estado da Bahia a implementar leitor de código de barras, em 1992, com o Petipreço. Depois fomos os primeiros a ter etiquetas eletrônicas e a introduzir o sistema de compra on-line através de site e app, em 2018”, contou.

Em termos de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, as lojas da varejista possuem sistema de energia solar, reaproveitamento de água pluvial, estação de carregamento de carros elétricos, reaproveitamento de papel e papelão, além do programa + Ideal, que oferece capacitação e atuação para atender melhor os autistas, idosos e portadores de deficiência. “Acreditamos que o caminho é longo e contínuo. Estamos atentos e abertos a aperfeiçoar nossa atuação no quesito ESG”, disse a executiva.