Finanças

O lucro do Bradesco e a força dos bancões

Sistema financeiro brasileiro mostra que tradição ganha jogo e apresenta bons números em rodada de balanços; no Bradesco, sob liderança de Marcelo Noronha, o lucro salta 12%

Crédito: Egberto Nogueira

"Ouvimos que não que não íamos conseguir reverter a trajetória de inadimplência, mas estamos provando que conseguimos fazer tudo isso e mais”, diz Marcelo Noronha, CEO do Bradesco (Crédito: Egberto Nogueira)

Por Paula Cristina e Jaqueline Mendes

O sistema bancário brasileiro atravessou uma série de revoluções nos últimos anos. O avanço da internet, a descentralização das operações financeiras e a chegada do Pix foram algumas delas. A cada novo movimento, uma dúvida: será que os bancos tradicionais, aqueles com agência, gerente e tradição, vão sobreviver? Antes que fosse possível responder, mais desafios surgiram. A pandemia, as crises domésticas, a instabilidade externa. Agora, olhando em perspectiva, é possível responder a indagação do mercado financeiro. Sim. Os bancos tradicionais, como Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander não apenas sobrevivem, mas crescem com vigor.

Exemplo disso é o Bradesco. Sob comando do CEO Marcelo Noronha, começou a entregar a melhora dos resultados após recentes turbulências e cresceu 4,4% no segundo trimestre, sobre um ano antes, com lucro de R$ 4,7 bilhões. Ante o primeiro trimestre, o avanço foi de 12% “[O resultado] mostra que estamos avançando com segurança em linhas centrais para o nosso negócio. É emblemático que expandimos a carteira de crédito e reduzimos a inadimplência ao mesmo tempo”, disse Noronha.

R$ 912 bilhões estavam sob custódia na carteira de crédito do Bradesco ao fim de junho 

(Divulgação)

Um pilar importante neste caminho, segundo ele, se deu com as operações de crédito, cuja carteira subiu 5% na comparação anual. Ao contrário do que havia acontecido no primeiro trimestre, o banco conseguiu expandir linhas mais lucrativas como as de pessoas físicas e PMEs. “Revertemos a trajetória de queda nas receitas com operações de crédito, voltando a crescer depois de seis trimestres”, destacou.

A inadimplência caiu 1,4 ponto percentual, para 4,3% na comparação ano contra ano. “Ouvimos que não íamos conseguir reverter a trajetória de inadimplência, depois, que não tínhamos tração para crescer. Estamos provando que conseguimos fazer tudo isso e mais”, afirmou o CEO.

A virada de chave, explica o executivo, foi a construção de modelos de crédito melhores. “Mas só isso não basta. É preciso ter tração comercial e mostramos que temos isso”, completou. Ele ressaltou, porém, que o crescimento é “step by step, sem aceleração maior do que deveria”.

A aprovação de empréstimos aumentou cerca de 25% em relação a junho de 2023, mas ainda está 19% abaixo do patamar de 2019, quando o banco aumentou demais a carteira – e viu a inadimplência crescer também.

“O que a gente continua vendo pela frente é uma boa dinâmica em todas as linhas do balanço”, diz Milton Maluhy Filho CEO do Itaú (Crédito:Divulgação )

Daqui em diante o caminho para essa reversão segue o mesmo: aprimorar modelos, processos e eficiência. “Assim, nos sentimos seguros para ir mais rápido no crédito. Essa aceleração da originação vai resultar em aumento da margem líquida nos próximos trimestres.” E a confiança de Noronha se espalhou também pelas corretoras.

Em relatório, o UBS-BB reforçou a recomendação de compra na ação do banco, e elevou o preço-alvo em 37% até 2025. Pela análise do banco suíço, o Bradesco entregou números com uma combinação de boas tendências de qualidade de ativos e receita líquida sólida. “Mesmo considerando o cenário macro difícil, as ações do Bradesco registraram uma recuperação material. Acreditamos que a lucratividade do banco pode atingir seu custo de capital no terceiro trimestre de 2025”, informou, em relatório.

Os serviços oferecidos pelo Bradesco, que é um dos pontos fortes dos bancos digitais e que poderia pressionar o Bradesco, também apresentaram aumento. Segundo Noronha, as receitas avançaram em praticamente todas as linhas, com o impulso nos negócios e crescimento da base total de clientes. “Estamos adequando cada vez mais a oferta de produtos às suas necessidades com uso intensivo da Inteligência Artificial.”

Para o futuro, diz ele, o plano é “consolidar ganhos a cada balanço. Estamos seguros com nosso ritmo de crescimento dos resultados”, disse.

No Bradesco Seguros, o Retorno Sobre Patrimônio (ROE) bateu 22,1%, com resultado operacional de R$ 4,6 bilhões, 4,1% menor que o do segundo trimestre de 2023.

Ante o primeiro trimestre, no entanto, houve incremento de 16,2%.

O lucro atingiu R$ 2,2 bilhões, queda de 7,4% na comparação anual e alta de 12,7% na trimestral.

Ivan Gontijo, o CEO da Bradesco Seguros, disse que o aumento da base de clientes, a queda da sinistralidade e o lançamento de produtos devem garantir o cumprimento do guidance do ano, que prevê um resultado de 4% a 8% maior.

“Vamos correr um pouco mais de risco, mas é calculado, com modelos que nos dão plena segurança de continuar”, diz Tarciana Medeiros
CEo do BB (Crédito:Divulgação )

CRÉDITO DOMINA

Quem também apresentou bons resultados foi o Santander Brasil, que registrou lucro líquido recorrente de R$ 3,3 bilhões no segundo trimestre de 2024, alta de 44,3% na base de comparação anual, apoiado por aumento de empréstimos e das tarifas.
A receita líquida de juros (NII) subiu 10,6%, para R$ 14,75 bilhões.
O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) atingiu 15,5%, 4,3 pontos percentuais a mais.
As despesas líquidas com provisões para devedores duvidosos (PDD) totalizaram em R$ 5,896 bilhões, com queda de 2,4% frente o 1T24 e de 1,4% ante o 2T23.
O banco comunicou que fez uma provisão adicional de R$ 1,9 bilhão no segundo trimestre, sem especificar o motivo.

A carteira de empréstimos consolidada do banco aumentou 7,8%, para R$ 665,59 bilhões. “Apresentamos uma clara expansão da NII do cliente, impulsionada por volumes mais altos, com a NII do mercado em níveis positivos. As tarifas também cresceram de forma consistente”, disse o presidente-executivo do Santander Brasil, Mario Leão, no balanço.

A margem financeira bruta totalizou R$ 14,751 bilhões entre abril e junho, alta de 10,6% na comparação com o 2T23. As receitas de prestação de serviços e tarifas bancárias totalizaram R$ 5,182 bilhões, alta anual de 17,5%. As despesas gerais, por sua vez, foram de R$ 6,314 bilhões, avanço anual de 4,6%.

Já o Itaú Unibanco registrou lucro líquido recorrente de R$ 10 bilhões no segundo trimestre deste ano, alta de 15,2% sobre um ano antes.
O retorno recorrente gerencial anualizado sobre o patrimônio líquido médio totalizou 22,4%, de 20,9% um ano antes. No primeiro trimestre, era de 21,9%.
Já a margem financeira cresceu 6,4% em base anual, para R$ 27,665 bilhões.

Em teleconferência de resultados, o presidente-executivo do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, afirmou que o banco considera possível continuar trabalhando com o ROE acima de 20%, uma vez que a instituição financeira continua “bastante confortável” com a dinâmica de todas as linhas de negócios.

“O que a gente continua vendo para frente é uma boa dinâmica em todas as linhas do balanço”, afirmou o executivo, em coletiva de imprensa sobre os resultados trimestrais. “A rentabilidade pode cair, contanto que a gente continue trabalhando no conceito de criação de valor.”

R$ 1,2 trilhão estava sob custódia na carteira de crédito do Itaú ao fim de junho 

(Divulgação)

Em relação ao crédito, o Itaú encerrou o segundo trimestre do ano com uma carteira de R$ 1,25 trilhão. O montante representa 8,9% acima do mesmo período de 2023.
Houve expansão da carteira de crédito em pessoa física (3,2%), micro, pequenas e médias empresas (12,5%) e em grandes empresas (16,3%).
Em base trimestral, a carteira total aumentou 5,9%.
Já o índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 2,7%, estável na base trimestral, mas abaixo dos 3% de um ano antes.

Por fim, o último dos bancões a apresentar balanço, o Banco do Brasil, também reportou bons resultados.
O lucro líquido ajustado foi de R$ 9,5 bilhões no segundo trimestre, montante 8,2% maior que um ano antes.
O ROE anualizado foi de 21,7% no período.
A carteira de crédito ampliada avançou 13,2%, para R$ 1,18 trilhão.

(Divulgação)

R$ 1,1 trilhão estava sob custódia na carteira de crédito do BB ao fim de junho 

A provisão para créditos de liquidação duvidosa também aumentou, em 8,8%, para R$ 7,8 bilhões em relação ao segundo trimestre de 2023. Em relação ao primeiro trimestre de 2024, houve uma queda de 8,6%.

O índice de inadimplência do Banco do Brasil, nos empréstimos com mais de 90 dias de atraso, subiu de 2,9% no primeiro trimestre para 3% ao final de junho. Com isso, o BB prevê provisionar entre R$ 31 bilhões e R$ 34 bilhões no ano fechado. Inicialmente, a projeção para provisões em 2024 estava entre R$ 27 bilhões e R$ 30 bilhões. Segundo Tarciana Medeiros, presidente do BB, o banco seguirá ampliando a oferta de cartão de crédito. “É um risco calculado com modelos que nos dão plena segurança”, disse.

Com todos estes resultados pujantes, apesar de todos os pesares da economia, com Black Monday assustando, guerras continuando e recessão se aproximando dos Estados Unidos, os bancos tradicionais provam que têm seu lugar no consolidado mercado financeiro brasileiro. E estão prontos para não perder o posto.