Dinheiro Rural

Nestlé aposta no café do Brasil e cria variedade Arábica

Com investimento de R$ 1 bilhão até 2026, a Nestlé fortalece sua presença no mercado brasileiro de café, apostando em qualidade, inovação e sustentabilidade

Crédito: Marco Ankoski

100% do café comprado pela empresa Suíça no Brasil tem certificação de origem (Crédito: Marco Ankoski)

Por Allan Ravagnani

Em meio ao aroma envolvente que evoca memórias e inspirações, o café ocupa um lugar especial na cultura brasileira. Carlos Drummond de Andrade, com sua sensibilidade, afirmou que “o café tem um cheiro de manhãs felizes e de trabalho realizado”. Essas palavras ressoam a tradição e a evolução constante da bebida, que transcende o simples ato de beber, para um ritual de conexões e reflexões. O café, em sua essência, une gerações, atravessa fronteiras e, com o passar do tempo, adquire novos significados e formas de apreciação.

(Marco Ankosqui)

Empresa desenvolveu em SP e MG uma nova variedade com a Fundação Procafé com aporte de R$ 5,5 milhões

 

(Marco Ankosqui)

No coração desse cenário, a Nestlé vem apostando cada vez mais no setor cafeeiro do Brasil.

Com um aporte de R$ 1 bilhão até 2026, a empresa reafirma seu compromisso com a qualidade e a sustentabilidade, e se posiciona no mercado nacional.

O investimento visa fortalecer a presença da empresa tanto no mercado B2B quanto no B2C.

Parte significativa desse montante será direcionada para a fábrica de Nescafé em Araras e para a ampliação do parque de máquinas da Nestlé Professional, com a expectativa de aumentar em 50% a capacidade de produção nos próximos dois anos.

A prioridade está nas novas tecnologias, como curvas de torra, flexibilização das linhas de produção e atualização tecnológica, sempre com um olhar voltado para iniciativas sustentáveis.

Sendo uma das maiores compradoras de café do mundo, e no Brasil, com 100% do café vindo de origem certificada, a Nestlé trabalha em conjunto com as mais de 90% das fazendas fornecedoras na transição para uma agricultura regenerativa.

A empresa, pioneira no café solúvel, tem ampliado seu portfólio desde 2019, atuando em todos os segmentos e se destacando também na produção de café em cápsulas. Nos últimos cinco anos, o negócio de café na Nestlé mais que dobrou, e em 2023 os resultados consolidaram o café como um dos motores de crescimento da companhia suíça que completou 157 anos.

A Nestlé vê o Brasil como um mercado de grande potencial devido ao alto consumo de café no País. Dados da ABIC indicam que o consumo de café pelos brasileiros é seis vezes maior que a média global. A mudança no modo de consumo, com a premiunização do café e a tendência crescente do café gelado entre jovens de 16 a 24 anos, também impulsiona esse mercado. A empresa quer democratizar o acesso aos cafés de alta qualidade, atendendo à nova demanda de consumo.

Atualmente, a categoria de cafés premium representa 70% do negócio, um aumento significativo em relação aos 15% de dez anos atrás.

O café gelado, em particular, tem ganhado destaque, principalmente entre a Geração Z.
Pesquisas realizadas pela Nielsen a pedido da Nestlé mostram que 18% das xícaras consumidas por esse grupo são de café gelado.
A versatilidade no preparo, com bebidas indulgentes que geram publicidade orgânica e se encaixam no conceito de comfort food, contribui para essa tendência.
O aumento das cafeterias também acelerou o crescimento dessa modalidade, oferecendo diversas receitas de café gelado que atraem os jovens em busca de novidades.

Minas Gerais é o maior produtor do Brasil e se especializou na oferta de produtos de alta qualidade (Crédito: Marco Ankosqui)

Nesse sentido, a Nestlé Professional desenvolve projetos focados nesse modelo de consumo, por meio de parcerias com lojas de conveniência e cafeterias. A empresa acredita que as tendências de consumo fora do lar se replicam dentro de casa, com os consumidores aprendendo a apreciar cafés de melhor qualidade em coffee shops e replicando essas experiências em suas casas.

NOVO ARÁBICA

Além disso, a Nestlé desenvolveu uma variedade de café Arábica mais resistente, a Star 4, em parceria com a Fundação Procafé.

Este projeto, com um investimento de R$ 5,5 milhões, resultou em uma variedade com alta tolerância a doenças e menor emissão de carbono.

A Star 4 foi selecionada por sua resiliência, qualidade e produtividade, contribuindo para a cadeia de suprimentos de grãos resilientes.

Enquanto a demanda global pela bebida continua aumentando, eventos climáticos recentes sugerem que a área adequada para cultivar café Arábica pode ser reduzida em mais de 50% até 2050, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

A redução das emissões de gases do efeito estufa provenientes dos maiores rendimentos do café é atribuída à produtividade aprimorada das plantas, bem como aos métodos de cultivo.

O projeto Star 4 foi iniciado há 20 anos, com a Nestlé buscando uma opção mais resiliente do ponto de vista climático e de produtividade.

Taissara Martins, gerente de ESG da Nestlé, afirmou que a equipe brasileira chegou ao grão em 2014, e nos últimos 10 anos vem fazendo testes até encontrar o momento ideal de lançamento.

“Hoje essa variedade de arábica tem três ganhos principais, o primeiro é a qualidade da bebida, tem grãos maiores, que traz mais qualidade, o café fica mais aromático, encorpado, traz notas que não se encontra em qualquer variedade, é super interessante para o café espresso. Na parte produtiva, são dois grandes ganhos. Ele é resistente à Ferrugem, uma praga muito importante, um fungo, que exige fungicida, aumenta o custo ao produtor e reduz a produtividade, então ela é geneticamente resistente à essa praga. E o terceiro ganho é a que ela tem a melhor relação Nitrogênio por Kilo de café, quanto menos nitrogênio utilizado, menor a redução da pegada de carbono”, apontou Martins.

(Divulgação)

“O novo café arábica tem ganhos de qualidade da bebida, mais resistência e é mais sustentável.”
Taissara Martins, gerente de ESG da Nestlé

Marcelo Burity, Chefe de Desenvolvimento de Café Verde da Nestlé, afirmou que a maior parte das emissões de gases do efeito estufa na cadeia de produção do café moído origina-se do seu cultivo. Portanto, otimizar as práticas de cultivo continua sendo vital para reduzir os impactos ambientais de cada xícara de café. “Esse é o primeiro projeto de desenvolvimento de uma nova espécie de café Arábica no país, e os resultados têm sido satisfatórios. O café é uma das áreas prioritárias para a Nestlé e essa novidade ressalta o potencial do país como maior e mais sustentável produtor de café do mundo e celeiro de tecnologia e inovação”, afirmou.

A empresa quer engajar os agricultores para cultivar a variedade, disponibilizando a Star 4 para produtores e o plano de distribuição de mudas será construído em conjunto com os interessados. Não há a intenção de tornar essa variedade exclusiva.

A companhia afirmou que pesquisa e tecnologia devem ser compartilhadas e o desenvolvimento de uma cafeicultura mais produtiva e sustentável é uma agenda pré-competitiva. Antes da Star 4 de café Arábica, a Nestlé desenvolveu duas variedades de Robusta: Roubi 1 e Roub 2, ambas produzidas no México e que estão sendo lançadas agora.

Taissara Martins afirmou que até o fim de 2024 a Nestlé não terá mudas suficiente para distribuição em larga escala, mas que para 2025, já terão mudas suficientes para essa distribuição. A ideia é que a variedade comece a ser produzida em larga escala em 2028.