O que o prejuízo bilionário da Petrobras diz sobre a nova gestão
Prejuízo da petroleira deixa mercado atento, mas novos rumos internacionais e saúde financeira impedem uma tempestade na rota da petroleira
Por Paula Cristina
Depois de 15 trimestres com lucro, a Petrobras reportou um prejuízo bilionário. O resultado se deu em meio a uma turbulenta mudança de comando da estatal, que colocou na cadeira da presidência a executiva Magda Chambriard e marcou a saída de Jean Paul Prates. A primeira reação do mercado foi ruim. A queda parecia sinalizar ingerência do governo federal, tiraria o foco mercadológico da petroleira e se desdobraria por mais tempo. Passada a tempestade, a calmaria. As coisas não foram exatamente como pareciam. Na divulgação detalhada, Magda esclareceu que foram fatores não-recorrentes que derrubaram o lucro da companhia e, sem tais eventos, os ganhos estariam na casa dos R$ 28 bilhões. “O objetivo é manter uma empresa saudável, lucrativa e sólida, e nós estamos entregando isto”, disse a recém-empossada presidente.
Na prática os números da petroleira no segundo semestre envolveram um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, revertendo o lucro de R$ 28,8 bilhões apurados no mesmo período de 2023. O Ebitda ajustado, por sua vez, caiu 12,3%, a R$ 49,7 bilhões. A explicação para tal desempenho foi o acordo com o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) para quitar dívidas fiscais com a União.
Segundo a companhia, o desempenho também foi prejudicado pela valorização do dólar frente ao real, além de questões relativas a acordos coletivos com funcionários, alienações e baixas. Excluindo esses efeitos, o lucro líquido teria alcançado R$ 28 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado seria de R$ 62,3 bilhões. Isso porque a receita da companhia somou R$ 122,2 bilhões, alta de 7,4% em relação ao segundo trimestre de 2023. “Os resultados foram sólidos e dentro do esperado”, disse Magda em vídeo veiculado no começo da teleconferência de analistas e investidores – a presidente da Petrobras não participou da call.
Na teleconferência, a diretoria da Petrobras buscou demonstrar que a companhia está em um patamar financeiramente saudável e que seguirá responsável. O diretor financeiro, Fernando Melgarejo, destacou que a dívida financeira atingiu o menor patamar desde o terceiro trimestre de 2008. No segundo trimestre, a dívida bruta recuou 3,6% em relação aos três primeiros meses do ano, para US$ 59,6 bilhões, enquanto a alavancagem financeira permaneceu estável, em 1,2x.
INVESTIMENTOS
Além disso, Melgarejo buscou destacar que a alocação de capital na Petrobras seguirá os melhores padrões da indústria, afastando rumores sobre interferência de Lula para estimular a economia via a petroleira. O receio do mercado é de a companhia embarcar em projetos pouco rentáveis, como já fez no passado e que a tornou a empresa de petróleo mais endividada do mundo, em 2017.
“Vamos buscar entregar capex realista e que traga jornada de crescimento da companhia”, afirmou Melgarejo. Magda reforçou também que a Petrobras garante respeito, lógica empresarial, transparência e governança. “Com disciplina de capital e alavancagem controlada.”
Para fechar, a estatal confirmou que mesmo com o prejuízo do segundo trimestre, haverá pagamento de R$ 13,6 bilhões em dividendos, por conta do fluxo de caixa livre, que totalizou R$ 32 bilhões, ainda que tenha que ter recorrido à reserva de remuneração de capital para ter R$ 6,4 bilhões. O prazo do pagamento, no entanto, não foi determinado.
Sobre os planos para as operações, a Petrobras destacou que o foco é elevar reservas de petróleo e que a prioridade é aprovar as licenças ambientais para explorar a Margem Equatorial, localizada entre os estados do Amapá e Rio Grande do Norte, e a Bacia de Pelotas, no Sul. Mas, considerando a demora na concessão das licenças, pode levar a Petrobras a olhar para fora do País, para a América do Sul e a África. “Quanto menos oportunidades tivermos no Brasil, maior a necessidade de internacionalização”, afirmou Melgarejo.
Para manter a rentabilidade sem precisar do aumento dos preços para os brasileiro, o executivo já apontou o norte: será preciso desbravar novos mares.