Tecnologia

Empresa cria biometria de voz para identificar crimes cibernéticos

Startup brasileira Minds Digital combate fraudes bancárias a partir da impressão vocal das pessoas. Objetivo é prevenir R$ 1,5 bilhão em golpes nos próximos três anos

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A IDtech Minds Digital passou a desenvolver soluções baseadas em matemática e estatística, testando diversos modelos de voz (Crédito: Divulgação )

Por Aline Almeida

A voz é uma das ferramentas mais fundamentais e imediatas para a interação humana. Por meio dela, expressamos ideias, sentimentos e interesses nas relações interpessoais. Com auxílio da tecnologia e uma boa pitada de maldade, a voz tem sido usada para cometer fraudes bancárias. Segundo pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada na terça-feira (13), cerca de 4,7 mil pessoas são alvo de tentativas de golpes financeiros a cada hora no Brasil. Atentos a essa crescente onda de crimes cibernéticos, Marcelo Peixoto, Frederico de Souza, Igor Hufnagel e Daniel Ladeira fundaram a IDtech Minds Digital, uma empresa pioneira em biometria de voz que já preveniu mais de R$ 70 milhões em fraudes.

Segundo Marcelo Peixoto, CEO da Minds Digital, ele e seus sócios identificaram uma grande vulnerabilidade na autenticação em call centers, onde as perguntas feitas pelos atendentes eram facilmente respondidas por criminosos. “Essas perguntas não fazem mais sentido, pois os fraudadores conseguem essas informações com uma simples busca no Google”, explicou o executivo. Diante dessa vulnerabilidade, a empresa passou a desenvolver soluções baseadas em matemática e estatística, testando diversos modelos de voz. Na prática, quando um cliente liga para o banco para solicitar um serviço, como aumento de limite do cartão de crédito ou alteração na data de vencimento da fatura, a Minds Digital identifica a voz do titular e cria uma “impressão vocal”. Com essa impressão, as ligações futuras são autenticadas em poucos segundos.

Desde 2017, a startup tem como cliente o banco mineiro BMG, que adotou a autenticação por voz em seu call center. Nos primeiros seis meses, a solução evitou mais de R$ 4 milhões em fraudes e reduziu o tempo médio de atendimento em 30%. “Você deixa de gastar cinco minutos provando sua identidade ao atendente. Em três segundos conseguimos autenticá-lo”, exemplificou Peixoto.

Entre as soluções oferecidas pela empresa está a Minds ID, uma tecnologia baseada em Inteligência Artificial que utiliza biometria de voz e análise comportamental para aumentar a eficiência operacional e reduzir custos em canais de atendimento. Além disso, permite automatizar a análise de dados, ajudando os clientes a tomarem decisões mais assertivas com base em padrões e previsões precisas.

Marcelo Peixoto, Para o CEO, a Inteligência Artificial potencializa as jornadas de segurança, colocando o cliente no centro da operação (Crédito:Divulgação )

Outra inovação é o FraudShield, uma plataforma multicanal de prevenção a fraudes em ambientes digitais. Ela identifica comportamentos suspeitos em qualquer canal de atendimento, utilizando tanto a biometria de voz quanto a análise comportamental. “Ensinamos à nossa IA o que é um comportamento suspeito e, a partir disso, ela consegue identificar se o fraudador já ligou antes ou se está em contato com o atendente naquele momento”, explicou Peixoto, ao ressaltar que um dos desafios superados na jornada da companhia foi convencer o mercado de que a tecnologia é segura e eficaz“As pessoas estão começando a ver a biometria de voz como uma nova forma de autenticação”, comentou.

Ele ainda destaca que a IA da empresa já consegue identificar se uma voz foi clonada ou gerada por Inteligência Artificial. E tem a capacidade de proteger as pessoas sem que elas percebam uma tentativa de golpe. “Eu não ligo para o call center de um banco, por exemplo. Uso apenas meu aplicativo, mas posso garantir que, neste exato momento, há centenas de fraudadores tentando ligar em meu nome e estou seguro. Fazemos esse caminho reverso também”, destacou Peixoto.

O objetivo da empresa é prevenir R$ 1,5 bilhão em golpes nos próximos três anos e crescer 35%. Para isso, vai expandir a base de biometria de voz, visando conhecer a maioria das vozes dos brasileiros. “Queremos oferecer uma autenticação robusta e colocar o cliente no centro da operação, permitindo que ele escolha como deseja ser autenticado”, disse o CEO.

Quanto às tendências, o executivo observou que a IA está cada vez mais trazendo insights e aprimorando a experiência do mercado. A ideia de que essa tecnologia substituiria o ser humano já não faz mais sentido. “Estamos focados em colocar o cliente no centro do negócio. Vejo a biometria de voz como uma autenticação muito forte e a IA generativa chegando para potencializar essas jornadas de segurança”, finalizou Peixoto.