Confira o brilho das small caps em julho, segundo análise de especialistas
As ações de empresas consideradas pequenas ou médias pelo mercado financeiro brilharam em julho na B3, na contramão das incertezas que atingiram a bolsa brasileira. Mas será que rentabilidade passada é garantia de ganhos futuros?
Por Jaqueline Mendes
No intenso mercado das empresas de capital aberto no país, tamanho definitivamente não é documento. Apesar da volatilidade do mercado de ações, algumas small caps — papéis de empresas consideradas pequenas ou médias — brilharam na bolsa em julho.
Entre elas, destacaram-se companhias como:
• Ambipar (+291,86%),
• Mobly (+35,94%),
• Moura Dubeux (+27,08%)
• e Grupo SBF (+26%), segundo levantamento da casa de investimentos Quantum Finance.
No outro extremo, nesse mesmo período, as ações da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) desabaram, com desvalorização de 23,71% no mês, Usiminas PN (-21,37%) e Cogna ON (-14,12%).
Na avaliação do economista João Daronco, analista da Suno Research, alguns múltiplos fatores explicam a disparada recente das small caps. “Existiam alguns papéis que estavam subvalorizados, com seus valuations esticados, e agora voltam para um patamar de maior normalidade”, afirmou Daronco. “O mercado teve um volume significativamente menor, o que impacta principalmente as small caps e criou muitas assimetrias.”
Outro fator que ajudou a turbinar a valorização das ações é o câmbio. Para Daronco, como grande parte dos papéis com valorização relevante dentro do grupo do Ibovespa possuem parte de suas receitas dolarizadas, houve alta nas receitas a reboque do aumento do dólar. “Diante disso, entendo que é um momento muito positivo para adquirir as boas small caps, que seguem com suas vantagens competitivas intactas e com valuations muito atrativos. É um dos melhores momentos dos últimos anos”, acrescentou o analista da Suno.
Mas, como rentabilidade passada não é garantia de ganhos futuros, para saber se as small caps continuam sendo boas opções de investimento, é necessário levar em conta outras variáveis. Algumas projeções que se podem fazer, de acordo com Daronco, são o maior fluxo de investidores e indicadores internacionais, como os juros nos Estados Unidos. “À medida que as taxas de juros americanas caírem, as empresas com menor liquidez tendem a se beneficiar mais.”
NATURAL
O desempenho das small caps também chamou a atenção do economista Pedro Lang, sócio da corretora Valor Investimentos. No entanto, a leitura dele é que, para cada uma delas, há componentes específicos e técnicos. “A Ambipar zerou o short squeeze e a alta catapultou”, afirmou. “Essas empresas, olhando para frente, tendem a seguir com bom desempenho se a taxa de juros continuar caindo”, acrescentou Lang, destacando que é natural que as empresas de menor capitalização e com suas operações ligadas à economia local sejam menos voláteis do que as gigantes da B3, como Petrobras e Vale.
Além dos fatores destacados por Daronco e Lang, o lançamento de projetos inovadores, aquisições ou parcerias que já estavam em andamento têm contribuído para o desempenho das small caps, segundo Fabiano Nagamatsu, CEO da Osten Moove, venture studio capital focado no desenvolvimento de inovação e tecnologia. “Tudo isso acaba valorizando cada vez mais, trazendo um resultado financeiro positivo para a empresa. Outro exemplo é se a empresa obteve um resultado financeiro positivo, o que também deu uma encorpada a mais na lucratividade e nos indicadores financeiros”, disse. “Tudo isso, querendo ou não, valoriza a empresa no setor e a joga lá para cima.”
Sobre a maré alta dos considerados nanicos da bolsa, Nagamatsu destaca que tem aumentado o interesse dos investidores brasileiros e estrangeiros em ações de crescimento. Os gringos, principalmente, podem perceber que as grandes empresas estão enfrentando problemas, por exemplo, nos Estados Unidos, então focam mais nas pequenas, que têm um certo controle maior nas mãos e não estão tão fracionadas. “As perspectivas para os próximos meses podem não ser muito positivas. Como a estabilidade política é importante, as small caps são muito sensíveis à questão dos juros. Então, se os juros estiverem muito altos, possivelmente elas não irão bem.”