Finanças

País lidera operações de M&A na América Latina

Operações de fusões e aquisições têm se tornando uma das principais estratégias de empresas brasileiras, atraindo fundos de private equity principalmente para as áreas de infraestrutura, recursos naturais e energias renováveis

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As recentes uniões de grupos de saúde como Hapvida e Intermédica, assim como a compra do Pardini pelo Fleury, fizeram do setor da saúde um dos que mais computaram operações M&A nos últimos anos no País (Crédito: Freepik)

Por Jaqueline Mendes

As recentes turbulências na economia mundial não parecem desencorajar as empresas a seguir com seus planos de fusões e aquisições (conhecidos pela sigla por M&A, em inglês). Essas operações vêm se tornando uma das principais estratégias de empresas brasileiras para fortalecer a saúde financeira e garantir a expansão. De acordo com a pesquisa “O futuro estratégico das fusões e aquisições no Brasil: M&A como impulso à transformação”, da consultoria global Deloitte, 33% das organizações participantes fizeram transações de fusões e aquisições nos últimos cinco anos e 46% pretendem realizar alguma operação nos próximos anos.

Só no primeiro trimestre do ano, o Brasil foi responsável por mais da metade das 603 operações de M&A executadas na América Latina. Atualmente, de acordo com o levantamento, há muito interesse de fundos de private equity nas áreas de infraestrutura – com destaque para os segmentos de rodovias e saneamento -, recursos naturais e energias renováveis. Tendo este último muito apelo junto a investidores internacionais. Outros segmentos que geram inúmeros negócios de M&A são saúde e tecnologia.

Taxas de juros menores podem tornar as outras opções de investimento menos atrativas

Na avaliação de Franklin Tomich, sócio da FT Aquisições, especialista no tema, as perspectivas para o cenário local de M&A são muito promissoras. “Levando em consideração o comportamento econômico internacional, o número de operações deve continuar crescendo gradativamente”, afirmou. “Um ponto importante que deve ser levado em consideração é a redução dos juros nos Estados Unido. Esse tipo de movimentação impacta positivamente o setor de fusões e aquisições mundialmente”, disse.

Cerimônia na B3 que selou a fusão da Arezzo com o Grupo Soma de Moda, controladora das marcas Hering e Farm (Crédito:Divulgação )

O Brasil se tornou também o segundo país no mundo que mais recebe investimentos estrangeiros diretos, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 2023, entraram US$ 64 bilhões no país, nesse montante, estão incluídos processos de M&A. De acordo com Tomich, muitas operações de fusões e aquisições estão intrinsecamente ligadas ao prisma do ESG. “As políticas e os negócios centrados na tríade ambiental, social e governança têm grande foco para os investidores, porque há um grande potencial de retorno neles, e sendo nosso país um mercado em potencial, a tendência é que os movimentos de empresas por fusões e aquisições no Brasil se fortaleçam.”

Parte do sucesso do Brasil no universo dos M&A está na oferta diversificada de empresas e grande economia, segundo Carolina Gilberti, CEO da Mubius WomenTech Ventures, a primeira WomenTech do Brasil. “Setores como os de tecnologia, serviços e commodities oferecem inúmeras oportunidades. Os M&As são transações importantes para negócios que querem expandir e crescer internacionalmente e o Brasil tem a presença de um mercado interno em expansão e isso atrai investidores com interesse em capitalizar”, garantiu a especialista.

Na avaliação dela, mesmo que existam incertezas econômicas globais e ajustes no mercado financeiro, que têm influência no mercado de M&As, o cenário no Brasil em 2024 se mostra atrativo para os investidores estrangeiros, tanto em razão da expetativa de baixa taxa Selic, quanto pelo recente controle da inflação. “Taxas de juros mais baixas podem tornar as alternativas de investimento tradicionais menos atrativas, levando os investidores a buscar retornos mais altos em outros tipos de investimentos, como M&A.”

ESTRATÉGIAS

Apesar do cenário favorável, Tomich ressalta que mais do que ter políticas ESG para que uma operação desse nível dê certo “é necessário realizar um processo estratégico, do início ao fim da negociação e transação”. O especialista da FT Aquisições destaca que as corporações brasileiras interessadas nesse tipo de negociação devem examinar minuciosamente todos os seus ativos e passivos, pois essa avaliação irá direcionar as ações e garantir que o negócio alcance seus objetivos de forma eficiente, impulsionando o crescimento e a competitividade. “É preciso melhorar a sua percepção de valor no mercado.”

Com o aquecimento das fusões e aquisições desde o início do ano, é preciso também, segundo ele, levar em consideração um tempo de defasagem em relação ao mercado internacional, a expectativa é que o ano de 2025 seja ainda mais promissor para o setor de M&A, com perspectivas de crescimento e o aumento das transações no Brasil. “Optar por um processo de fusão ou aquisição para rentabilizar o negócio é uma das principais decisões que os gestores enfrentam. Portanto, é preciso observar atentamente o contexto do mercado para aproveitar a hora mais adequada para obter lucratividade e garantir o sucesso da operação.”