Finanças

Criptos avançam no varejo

Número crescente de estabelecimentos que aceitam moedas digitais mostra nova tendência nas formas de pagamento

Crédito: Divulgação

Em todo o mundo, número de estabelecimentos que passaram a aceitar ativos virtuais como pagamento aumentou 42% (Crédito: Divulgação )

Por Jaqueline Mendes

Crédito, débito, Pix ou criptomoeda? A mais frequente das perguntas na hora de pagar por compras no comércio é quase uma realidade. Quase. Isso porque, discretamente, as moedas virtuais estão comendo pelas beiradas e conquistando um lugar ao sol no varejo brasileiro. Embora não seja correto afirmar que já é possível pagar diretamente com bitcoins, por exemplo, há como transacionar as criptomoedas por meio de gift-cards e recargas de cartões pré-pagos. Fintechs especializadas em meios de pagamento como Bitrefill, Dundle e Bitpay intermediam esse tipo de pagamentos em gigantes como Carrefour, McDonald’s, iFood, Hotels.com, Americanas, Google Play, Uber, Shell, Centauro, Renner, Pizza Hut, entre muitos outros. No caso da Bitpay, já é possível pagar por serviços internacionais, como Amazon, Delta Airlines, Netflix e Spotify.

Desde a regulamentação do marco legal das criptomoedas no Brasil, em 2022, essa indústria tem evoluído a passos largos, em sintonia com o ritmo das criptos mundialmente. O número de estabelecimentos que passaram a aceitar ativos virtuais como forma de pagamento aumentou 42% em todo o mundo, passando de 7.731, em outubro de 2022, para 10.952, em abril de 2024. É o que mostra um estudo da BTC Map, plataforma que mapeia movimentações em bitcoins pelo mundo. Os dados também apontam que o crescimento está atrelado à proliferação de caixas eletrônicos de criptomoedas, que aumentaram 57% em 2023, chegando a 181 milhões de pontos.

No Brasil, há uma corrida ­— nem sempre visível — para liderar a aceitação desse tipo de pagamento. A cidade gaúcha de Rolante, por exemplo, está rapidamente se tornando um polo de aceitação de Bitcoin. O entusiasmo pela criptomoeda nasceu de uma iniciativa local chamada “Bitcoin É Aqui”, criada pelo casal Ricardo Socoloski e Camilla Stock. O objetivo era não apenas promover o uso do Bitcoin, mas também colocar Rolante no mapa turístico. A cidade tem mais de 187 estabelecimentos aceitando Bitcoin, desde mercados locais e farmácias, até instituições mais complexas como hospitais e cartórios, o que equivale a 39% da cidade.

Se der certo, Rolante será um exemplo para o Brasil e o mundo, já que muitos países, como Venezuela e El Salvador, mergulharam de ponta nas moedas virtuais e quebraram a cara. O fracasso se deu por causa da usabilidade da criptomoeda, dificuldades em baixar uma carteira cripto, configurar a conta, guardar as senhas e lidar com toda a segurança das plataformas de negociação, que constantemente são alvos de hackers.

No Brasil já é possível usar ativos digitais como forma de pagamento por produtos ou serviços em quase 11 mil estabelecimentos comerciais (Crédito:Divulgação )

No entanto, o economista Harry Cerqueira, cofundador da fintech Delend, especializada em crédito para pequenas e médias empresas, afirma que a grande vantagem dos pagamentos com criptomoedas é a desintermediação e, por consequência, custos menores. “As criptomoedas permitem a realização de transações mesmo em regiões com infraestrutura limitada, e algumas blockchains permitem a realização de transações off-line, sincronizando quando a conexão for restabelecida”, afirmou. “A representação digital de ativos e operações permite maior eficiência e segurança em processos como garantias em operações de crédito, reduzindo a burocracia e os custos.”

1,12 trilhão de dólares
foi o volume de transações à vista que a binance registrou em março de 2024, o maior já alcançado desde 2021

181 milhões
é o número de caixas eletrônicos existentes no mundo onde é possível realizar operações com criptomoedas

Por todas as vantagens, o pagamento com criptos tem conquistado adeptos mundo afora. Uma pesquisa da ConsenSys e YouGov revela que 92% dos entrevistados em 15 países já ouviram falar do tema. O estudo também mostra que 16% das pessoas veem as criptomoedas como o “futuro do dinheiro”, enquanto 11% as consideram uma alternativa aos sistemas financeiros tradicionais.

Já a Binance, maior provedora global de infraestrutura para o ecossistema blockchain e de criptomoedas, vem observando uma crescente procura por seus serviços e já registrou mais de 30 milhões de novos usuários. Para conquistar a confiança dos clientes, lançou, em 2018, a plataforma educativa Binance Academy, que, somente no primeiro trimestre deste ano, recebeu 928 mil novos usuários.

(Greg Baker / AFP)

CREDIBILIDADE

Essa crescente confiança é impulsionada pelos esforços da Binance e do mercado em torno de conformidade, segurança e educação, aliados à evolução em direção a frameworks regulatórios mais claros.
Desde o início do ano, a empresa dobrou o número de visitas diárias e aumentou a participação mensal dos usuários.
O valor dos ativos dos clientes ultrapassou, pela primeira vez, US$ 100 bilhões.
Em média, ela recebe 150 mil novos usuários por dia.
A Binance registrou, em março, um aumento de 121% no volume de negociações à vista, alcançando US$ 1,12 trilhão, o mais alto desde maio de 2021.

À medida que o setor amadurece, a empresa mantém o compromisso de promover inclusão financeira e transparência, acolhendo os próximos bilhões de usuários.

Nem tudo são flores no mundo dos meios de pagamento com moedas virtuais. Para Virgílio Lage, especialista em criptomoedas da Valor Investimentos, a única desvantagem para o consumidor pagar com criptomoedas é a grande oscilação da cotação. Isso pode comprometer a capacidade de compra, em ciclos de baixa.