Revista

Lula, o paladino da estatização

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom

Lula: “Quando há dificuldade de privatizar, eles começam a vender ativos separados e vão tentando desmontar o corpo: vende o braço, uma perna, uma orelha, os dentes" (Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom)

Por Paula Cristina

O presidente Lula voltou a fazer um duro discurso contra privatizações e defendeu a participação do Estado brasileiro na economia. Na terça-feira (27), o petista visitou o Centro de Operações Espaciais Principal (Cope-P) da Telebras, em Brasília (DF). Dias depois de assumir sua terceira gestão, o presidente excluiu a Telebras do rol de empresas estatais que seriam privatizadas – grupo definido durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. “O que é muito significativo é o interesse do nosso governo em recuperar essa empresa”, afirmou Lula. Segundo ele, setores estratégicos como energia e telecomunicações têm sido estatizados nos governos da Alemanha e da França. “Quando há dificuldade de privatizar, eles começam a vender ativos separados e vão tentando desmontar o corpo: vende o braço, uma perna, uma orelha, os dentes. Quando você volta, percebe que a empresa está totalmente desmontada e não está mais cumprindo o seu papel”, disse. “No caso dos Correios e da Telebras, nós chegamos ao cúmulo da ignorância de que essas duas empresas estavam praticamente proibidas de vender serviços ao Estado, mesmo que oferecessem preço mais barato.” A fala causou uma pequena celeuma no Palácio do Planalto. Segundo assessores do presidente, o duro discurso foi visto como um reforço do palanque eleitoral para candidatos de esquerda nos pleitos, mas também foi encarada pela ala mais moderada da cúpula como um movimento desnecessário em um momento em que a gestão tenta diminuir os ruídos com o mercado.

Indicador
A todo vapor

Subiu em julho o número de empresas operando em sua capacidade máxima. É o que aponta o estudo realizado pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi). O primeiro avanço em 2024 acompanha outro indicador positivo: a taxa de inadimplência passou de 38% para 27%, a menor fatia registrada pelo levantamento. Segundo o presidente Simpi, Joseph Couri, os números indicam uma confluência de fatores positivos na economia. “A capacidade de operações das empresas atingiu seu nível mais alto desde janeiro de 2023”, afirmou. “Paralelamente, a significativa redução na taxa de inadimplência para o menor nível já registrado sugere uma melhora real na estabilidade financeira dos clientes, apesar dos desafios persistentes”, disse. O levantamento foi feito em parceria com o Datafolha.

Termômetro
Extrema pobreza recua 40%

A população em situação de extrema pobreza no Brasil caiu 40% em 2023, aponta relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades divulgado na quarta-feira (27). A maior redução na extrema pobreza foi entre mulheres negras. Segundo o levantamento, a queda foi de 45,2% neste grupo no ano passado, em comparação com 2022. Para a pesquisa, foram consideradas pessoas em situação de extrema pobreza aquelas cuja renda mensal per capita é inferior a R$ 109. Essa é a mesma classificação usada para selecionar beneficiários do Bolsa Família. O levantamento não publicou números absolutos de cada grupo, mas indicou que não foi apenas o programa de transferência de renda que impactou para a redução, já que caiu 19% o número de pessoas desocupadas ou desempregadas. Apesar da melhora, o caminho é longo, e o Brasil ainda aparece em 20° lugar no ranking da ONU entre os países com habitantes em vulnerabilidade.

PIB
Número de empresas abertas sobe pela primeira vez em dois anos

Após dois períodos consecutivos apresentando decréscimo no volume de novos CNPJs, nos primeiros seis meses do ano, o Brasil viu alta de 7,1% no número de aberturas, sobre um ano antes. De acordo com o recente levantamento realizado pela Contabilizei a partir da análise de dados públicos da Receita Federal, esse aumento no índice não acontecia desde o primeiro semestre de 2021, após o primeiro ano da pandemia. Além disso, pelo quarto ano consecutivo, o Brasil segue superando a marca de 2 milhões de empresas abertas no primeiro semestre. O avanço de Microempreendedor Individual (MEI) ficou em 6,8%, enquanto os não-MEIs tiveram alta de 7,7%. “Um ponto que vale destacar é que faz dois anos também que os setores de comércio, indústria e serviços não cresciam a variação de abertura de empresas juntos como foi agora”, disse o vice-presidente executivo de operações da Contabilizei, Guilherme Soares, à DINHEIRO.

Mineração
Pimenta nos olhos da Vale

(Divulgação)

O mineiro Gustavo Pimenta, 46 anos, é o novo presidente da mineradora Vale. O anúncio do executivo à companhia ocorreu na segunda-feira (26) em meio a uma discussão sobre o comando da empresa e o olhar do Estado sobre o comando. Desde ano passado, rumores na cúpula do governo sinalizaram o interesse de Lula em colocar o ex-ministro Guido Mantega na liderança da estatal, informação que nunca foi oficializada por Brasília. Sobre a indicação de Pimenta, o presidente do conselho da Vale, Daniel Stieler, afirmou ao Valor ter comunicado o governo sobre a mudança e que houve a sinalização de interesse na continuidade do trabalho feito até aqui. No dia seguinte ao anúncio, o presidente Lula aproveitou um evento da estatal Telebras para alfinetar. “A Vale sempre foi um orgulho deste País. A gente sabia quem era o presidente da Vale, e hoje, quem sabe?”, perguntou Lula. De acordo com ele, a tragédia de Mariana, em 2015, evidencia tal distanciamento. “Hoje, nessa discussão para receber o dinheiro de Mariana, mas é uma ‘corporation’, um monte de acionista e você não sabe quem é o dono. É importante que essas empresas tenham um nome, tenham o cara, tenham identidade”, afirmou Lula. Pimenta, antes do comando da Vale, era VP de finanças e RI. Entra no lugar de Eduardo Bartolomeo.