Economia

Caso X, de Elon Musk: conheça os impactos nos negócios e na economia

Fechamento da rede social, bloqueio de conta da Starlink e debates sobre os limites da legalidade devem transformar o episódio em um manual para empresas de internet no País

Crédito: Apu Gomes

Elon Musk: fechamento do X no Brasil marca um ponto de inflexão nas relações entre grandes corporações de tecnologia e governos (Crédito: Apu Gomes)

Por Hugo Cilo

Parece até história de filme de ação, mas é pura realidade. Em um movimento que agitou o cenário jurídico e tecnológico no Brasil nos últimos dias, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o fechamento da rede social X (antigo Twitter), do bilionário Elon Musk, no País. A decisão, que causou debates intensos sobre liberdade de expressão, regulação de plataformas digitais e segurança nacional, traz implicações profundas não só para a operação da rede social, mas também incertezas para o conglomerado Musk, que inclui Starlink e PayPal, e para outras todas as empresas da internet.

No caso da Starlink, a Justiça bloqueou R$ 2 milhões da conta da empresa para cobrir multas do X, alegando que se trata do mesmo grupo econômico. A companhia havia dito que não cumpriria a ordem de bloquear o X, mas voltou atrás.
O X acumula R$ 18,3 milhões em multas.

“Independentemente do tratamento ilegal dado à Starlink no congelamento de nossos ativos, estamos cumprindo a ordem de bloquear o acesso ao X no Brasil”, disse a Starlink, em um post no X. Com mais de 220 mil assinantes, um eventual fechamento da Starlink causaria prejuízos para a empresa e clientes.

Fornecedora de internet via satélite, a Starlink é vista como uma solução promissora para regiões remotas do Brasil, onde a infraestrutura de telecomunicações tradicional ainda é deficiente. A entrada da Starlink no mercado brasileiro trouxe expectativas de melhorias na conectividade, especialmente na Amazônia e áreas rurais. No entanto, o clima de desconfiança gerado pela decisão do STF pode enfraquecer a imagem da empresa no País e afugentar clientes que têm outras opções.

(Jakub Porzycki)

A decisão do ministro surgiu em meio a uma série de investigações relacionadas ao uso de plataformas digitais para disseminação de informações falsas, discursos de ódio e manipulação de eleições.
O fechamento do X, frequentemente acusado de não cumprir medidas de contenção ao espalhamento de fake news e incitação à violência, foi justificado pela recusa da empresa em nomear um representante legal no Brasil.
No mês passado, Musk demitiu mais de 40 funcionários e fechou o escritório no País.

“A suspensão do X e o congelamento das contas da Starlink vão espantar investimento estrangeiro do País, assim como ocorreu na China”, disse Bill Ackman, fundador da Pershing Square Capital.

Nos últimos anos, a rede social de Musk foi criticada por ser um ambiente fértil para desinformação, com pouco controle sobre bots e conteúdos ilegais. A medida de Moraes não é isolada. Ela faz parte de um esforço global de diferentes governos para regular plataformas digitais que operam com menos supervisão. No entanto, o impacto no Brasil é singular, uma vez que o país tem uma das maiores bases de usuários ativos no X, e a cultura de comunicação digital está profundamente enraizada na população.

Fornecedora de internet via satélite, a Starlink, de Elon Musk, é vista como uma solução para regiões remotas do Brasil, com pouca infraestrutura de telecomunicação (Crédito:Philipp Von Ditfurth)

IMPACTO

O fechamento do X no Brasil tem repercussões diretas e imediatas. Para começar, a empresa perde acesso a um mercado emergente e altamente ativo de dezenas de milhões de usuários, o que significa uma redução significativa em receita publicitária e interação da plataforma. Empresas que usavam o X como um canal de comunicação direta com clientes, para marketing e suporte, serão forçadas a migrar para outras plataformas, como o Instagram, Threads ou Telegram.

Além disso, a decisão cria um precedente jurídico que poderá influenciar a atuação de outras redes sociais no País.
Caso o X não consiga se adequar rapidamente às exigências impostas pelo STF, a rede pode perder espaço de forma definitiva no Brasil.
Isso abre oportunidades para outras plataformas que buscam crescer na América Latina, mas também impõe novos desafios para aquelas que já operam no País e que, eventualmente, podem enfrentar uma regulação mais severa.

“Há um aumento da percepção de risco faz com que os investidores passem a exigir taxas de retorno maiores para continuar investindo no Brasil, já que existe a possibilidade de interferências indevidas por parte do poder público que podem impactar negativamente a geração de caixa e lucro das companhias em operação no País”, disse Milton Rebelo.

“Musk mostrou seu total desrespeito à soberania brasileira, colocando-se como verdadeiro ente supranacional”, disse Alexandre de Moraes, ministro do STF

O fato é que a decisão de Alexandre de Moraes coloca o Brasil no radar internacional como um país disposto a tomar medidas firmes contra gigantes da tecnologia, o que pode inspirar outras nações a seguir o exemplo. Embora isso possa aumentar a confiança de alguns setores em uma internet mais segura e controlada, por outro lado, pode inibir a entrada de novos players no mercado digital brasileiro, temendo regulações excessivas.

O fechamento do X no Brasil marca um ponto de inflexão nas relações entre grandes corporações de tecnologia e governos, e o desenrolar dos próximos meses será crucial para determinar o futuro da presença do império de Musk no País.