Economia

PIB avança, mas dólar e juros preocupam

Crescimento de 1,4% do Brasil indica um resultado positivo da política econômica de Lula, mas traz na esteira buracos envolvendo inflação, contas públicas e dólar

Crédito: Freepik

Consumidores caminham em shopping center: consumo das famílias cresceu 1,3% no trimestre (Crédito: Freepik)

Por Paula Cristina

Definir o resultado do PIB brasileiro do segundo trimestre de 2024 é um destes exemplos de fronteira da linguagem. Em inglês, o termo usado para definir o resultado da atividade econômica seria bittersweet, algo que remonta uma sensação amarga e doce ao mesmo tempo, retórica que a Flor do Lácio não contempla.

Isso porque, sobre o PIB, há muito o que se comemorar.

O crescimento do Produto Interno Bruto de 1,4% no segundo trimestre indica o bom andamento da economia brasileira, e alguma reação no consumo das famílias, que vinha sendo estrangulado nos últimos anos.
Também sustenta a projeção do governo de crescimento igual ou superior a 2,5% na soma do ano, colocando o Brasil entre os países com maior incremento projetado para 2024.

A parte amarga? Bom, ela aparece sempre que o crescimento de um país se dá sem o fortalecimento conjunto do chamado tripé econômico: inflação sob controle, contas públicas ajustadas e moeda valorizada. Quando um destes três pontos de apoio não vai bem, o incremento das riquezas pode vir atrelado a efeitos não tão positivos para a economia.

Para especialistas, ainda que o crescimento denote um desempenho positivo da economia, é preciso olhar os sinais do conjunto da obra para entender como essa melhora de desempenho, quando não acompanhada de outros indicadores, resulta em problemas como descontrole inflacionário, desvalorização acentuada do real e perda de grau de investimento por falta de controle das contas públicas. Não cuidar destas questões resulta em perda de poder de compra, fuga de investimentos e o encarecimento do crédito. Pelo lado do Banco Central, a solução é subir juros e segurar o PIB. Pelo lado do governo, conter gastos e escoar menos dinheiro para a economia ativa. Mas encontrar a dosagem certa de cada um destes remédios é uma tarefa difícil.

Mas há boas notícias quando analisamos o resultado do PIB do segundo trimestre. Depois da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul, que representa cerca de 6% do PIB, houve uma forte transferência de recursos federais e doações que, somada à resiliência de seu povo, ativou setores como o de materiais de construção, aparelhos e utensílios domésticos, móveis, veículos e serviços, e eles ajudaram a incrementar o desempenho da indústria. As importações, muitas vezes vistas como vilãs, também ajudaram a estimular o investimento direto no País, já que a alta de 7,6% foi puxada por bens de capital. Com isso, os investimentos no Brasil subiram 2,1%.

À DINHEIRO, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou que o resultado do PIB é reflexo de um conjunto de fatores, que vão desde o estímulo ao empresário à garantia dos benefícios sociais. “Muita gente fala que temos sorte. Eles não sabem como nos preparamos para chegar aqui”, disse.

E se, como disse Alckmin, a roda está girando, porque há elos que ainda parecem pouco azeitados? Para o professor de finanças e mercado financeiro Hudson Bessa, os incentivos constantes do governo para estimular a economia deram resultado, mas é preciso cautela porque haverá um preço a se pagar. “Não há almoço grátis”, disse ele. Esse preço, explica, pode ser maior ou menor a depender do andamento do comprometimento do governo com a saúde fiscal.

Neste momento, a deterioração das contas públicas aumentou, a despeito da retórica oficial que procura diminuí-la.
O déficit federal fechou o primeiro semestre em R$ 68,7 bilhões, pressionado pela Previdência, e já há números suficientes para concluir pelo seu alargamento nos dois primeiros meses do segundo semestre, mesmo com aumento da arrecadação.
As expectativas de mais gastos e menos soluções vindas do Congresso não ajudam nas promessas de se alcançar o superávit fiscal tão cedo.
Essa incerteza fiscal tem ainda um efeito bastante nocivo no comportamento da moeda, que oscila diante da insegurança cambial, e joga o dólar em patamares superiores a R$ 5,50 com frequência.

A questão da moeda brasileira frente ao dólar é um assunto delicado e que tanto o governo quanto o Banco Central precisam olhar. No entendimento do professor e conselheiro da Fipecafi Diogo Carneiro, o desempenho do câmbio é, em si, uma consequência, não uma causa. “Por isso o governo não deve se preocupar excessivamente em atuar na taxa de câmbio, mas preservar as condições para que outros fundamentos da economia sejam suficientemente atrativos para fazer com que investidores estrangeiros queiram colocar seu dinheiro no Brasil”, afirmou. Nesse sentido, diz ele, é mais importante que o governo busque sanear as contas públicas e demonstrar equilíbrio fiscal, e não focar em compra ou venda do dólar para reduzir o câmbio no fórceps. “Agir diretamente na taxa de câmbio já foi uma solução, mas isso foi há muito tempo.” Ecos de um passado que o brasileiro, usando agora um termo que só existe em português, não sente saudade nenhuma.