A escolha de Arthur Lira para sua sucessão
Presidente da Câmara dos Deputados faz manobra para pressionar o governo, bagunça votação de pautas econômicas e joga para o colo de Lula o sucesso da eleição do próximo chefe da Casa
Por Paula Cristina
Os desdobramentos sobre como se dará a sucessão da presidência da Câmara dos Deputados virou mais uma novela da República brasileira. Entre os personagens, o atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que tenta emplacar seu sucessor e busca apoio do governo. O nome escolhido, Hugo Motta, deputado do Republicanos da Paraíba, era apadrinhado de Lira, tinha um bom relacionamento com o governo e parecia comandar bem o centrão. Mas não foi exatamente assim que as coisas se desenrolaram. O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento, bateu o pé em sua pré-candidatura ao comando da Casa, o que pode dividir a bancada do baixo clero e tornar a governabilidade de Motta, mesmo que vitorioso no pleito de 1o de fevereiro, mais difícil. Entre os analistas políticos, o maior risco fica para o governo, que precisa contar com a coalizão do Centrão para avançar com a agenda econômica antes mesmo da definição da nova mesa diretora. Assuntos como a regulamentação da reforma tributária, os incentivos para carbono verde, o Orçamento de 2025, a revisão do Imposto de Renda, além da resolução do imbróglio das emendas secretas. Tudo isso estava entre as prioridades do governo ainda este ano, mas a queda de braço dentro do Centrão esfriou o clima para aprovações.
Para mandar a mensagem de sua força, Lira aprovou na quarta-feira (11) a primeira parte da manutenção da desoneração da folha de pagamento para 17 setores, uma derrota para o governo e um aceno para os empresários que atuam dentro do Congresso. A votação aconteceu após um almoço entre Lira e representantes do PT, PL, MDB, Podemos e PP, para desenhar um ambiente para coalizão, mas não houve unidade ampla fimarda.
Nos bastidores, os deputados do União garantem apoio a Elmar que, perguntando sobre a relação com Lira, afirmou que sua candidatura à presidência da Casa está mantida. “Minha pré-candidatura segue de pé. Nada mudou. O presidente (Arthur) Lira é do PP, mas não me falou nada. Ele me procurou hoje, mas não tive tempo. Só falo sobre ele quando ele falar em ‘on’. Eu não tenho inimigos, nem vou ter. Toda hora que ele chamar, vou aceitar”, disse após sair de um almoço da bancada depois de um encontro com o presidente Lula.
DISTÂNCIA SEGURA
Oficialmente, Lula disse que não iria interferir na eleição e descartou a possibilidade de o PT lançar candidatura própria. Uma fonte próxima ao presidente afirmou que já foi definido que Lula não fechará apoio a algum candidato. “Como não houve um nome de consenso, a ordem é esperar para avaliar o andar da carruagem. O lema é ter calma e bom senso”. O problema é que o tempo não é o melhor aliado de Lula neste momento. O mais urgente dos assuntos a serem resolvidos pelo Legislativo é a desoneração da folha de pagamento.
Na quarta-feira, o ministro Fernando Haddad disse ter conversado com Lira, e que o parlamentar havia mostrado “boa vontade em resolver a questão”. Mas a forma da resolução, no entanto, não está clara. Lira tem sofrido forte pressão do empresariado que participa ativamente da vida política e usa as eleições municipais como forma de pressionar o presidente da Cãmara pela manutenção da desoneração. Pelo lado do governo, Lira sabe que precisa de apoio para emplacar seu sucessor e, principalmente, precisa garantir que fez a escolha certa para garantir que o Legislativo siga no comando da República