Indústria verde: de tendência a prioridade
Por Luís Guedes
Concorde comigo: não é possível continuar produzindo centenas de milhões de bolsas, carros, tênis, relógios e tudo mais sem levar em consideração a finitude dos recursos naturais e o equilíbrio instável do nosso ecossistema. O Capitão Nascimento tem uma frase sobre o que pode acontecer.
Cidades, sistemas produtivos e democracias são bem menos robustos do que parecem, e mudanças sorrateiras podem provocar resultados “inesperados”. Somos pouco equipados para antecipar o futuro disruptivo. Ao que parece, nosso sistema cognitivo veio de fábrica com um viés que, de tão prevalente, tem até nome: ilusão de continuidade. Dan Gilbert, psicólogo de Harvard, liderou um estudo que entrevistou dezenas de pessoas entre 20 e 80 anos de idade e perguntou: “Quanto você mudou nos últimos 10 anos? E quanto espera mudar nos próximos 10?”. Em todas as idades as pessoas afirmam que mudaram muito nos últimos 10 anos, mas acreditam que mudarão muito pouco nos próximos 10 anos. Os entrevistados somos nós… quando olhamos para trás, sabemos que a mudança é praticamente uma constante. Quando olhamos para frente, parece tudo será como antes.
A transição não é mais uma tendência, mas um fato, reconhecido nas mudanças regulatórias, no comportamento dos consumidores e nas expectativas da força de trabalho. O papel da educação parece ser fortalecido
As empresas mais avançadas já pensam e agem sob novos fundamentos, alinhados como o que vem sendo chamado de economia verde, fatorando em seus modelos de gestão as externalidades ambientais do processo produtivo e incluindo ações que podem contribuir, ainda que modestamente, para a justiça social. Questões como mudanças climáticas, escassez de recursos naturais, direitos humanos e eficiência energética são aspectos que vêm sendo tratados com seriedade, medidos e reportados para escrutínio público. Interessa (cada vez mais) ao público não somente os produtos inovadores, mas um processo produtivo equilibrado e relações sociais inclusivas e justas. Os exemplos já são muitos, no Brasil e no exterior: eficiência energética (Schneider Electric, WEG), produção limpa (Fiat, Tesla), economia circular (Interface, Patagonia), conservação florestal (Suzano, Klabin, Natura). Nossa matriz energética é destaque pela baixa intensidade de carbono e nossa legislação é moderna, apesar dos desafios ambientais.
A economia verde e o desenvolvimento sustentável se entrelaçam para modificar a lógica de produção herdada da Revolução Industrial para avançar rumo ao novo e necessário equilíbrio. A transição não é mais uma tendência, mas um fato, reconhecido nas mudanças regulatórias, no comportamento dos consumidores e nas expectativas da força de trabalho. Os melhores querem trabalhar para as empresas mais modernas – tecnológica e socialmente. As evidências científicas vêm se acumulando, indicando relação positiva entre boas práticas socioambientais e performance financeira, capacidade de inovação e clima organizacional. Empresas que se engajam no modelo de produção mais limpo mitigam riscos reputacionais associados a passivos ambientais e reduzem seu custo de capital.
Nesse contexto, o papel da educação (ambiental, emocional, técnica) parece ser fortalecido. O conhecimento, tal como na Revolução Industrial, será o motor da transformação. Saúdo meus amigos industriais e meus companheiros de magistério. Mãos à obra!
Luís Guedes é professor da FIA Business School