Finanças

Guerras e incertezas reforçam o ouro como ativo de proteção

Conflitos no Oriente Médio e no Leste, cenário turvo sobre as economias americana e chinesa e perspectivas negativas nas maiores economias europeias têm estimulado a busca pelo metal

Crédito: Freepik

Bancos centrais de países emergentes continuam adquirindo grandes volumes de ouro (Crédito: Freepik)

Por Jaqueline Mendes

Enquanto Israel trava guerras em Gaza e no Líbano, o Irã lança mísseis contra Israel, a Rússia intensifica a ocupação na Ucrânia, os presidentes Joe Biden e Vladmir Putin trocam acusações e o mundo acompanha com apreensão os desdobramentos das tensões globais, no mundo dos investimentos é o ouro que chama a atenção. Tradicional abrigo para investidores em tempos de guerra e incertezas, o metal atingiu sua máxima histórica nesta semana: US$ 2.684,80 a onça troy (31,10 gramas) na quarta-feira (2). A cotação já subiu 30% neste ano.

A explicação é que, além dos investidores, os bancos centrais de países emergentes continuam adquirindo grandes volumes de ouro, impulsionando seu preço. A queda dos juros nos Estados Unidos também reforça essa tendência de alta. Na terça-feira (1º), o banco americano Goldman Sachs revisou sua projeção para o preço do ouro no início de 2025, elevando a estimativa de US$ 2.700 para US$ 2.900 por onça troy.

Essa revisão se deve a dois fatores principais.
● Em primeiro lugar, o ciclo de redução dos juros nos países desenvolvidos e na China está ocorrendo de forma mais rápida do que o previsto. Além disso, a valorização dos ETFs lastreados no ouro ainda não está totalmente refletida na cotação atual.
● O segundo e mais relevante fator é o aumento das compras por parte dos países emergentes, com destaque para as aquisições realizadas pela China no mercado físico de balcão em Londres. Embora os dados desse mercado sejam divulgados trimestralmente, o sistema de cálculo do Goldman Sachs indica que a demanda se manteve sólida nos últimos meses. O preço do ouro já subiu cerca de 50% desde o início de 2022.

Enquanto os combates de Israel se intensificam no Oriente Médio, a produção de ouro tenta suprir a demanda global (Crédito:Koichi Nagano)

Em relatório, a equipe do banco reiterou sua recomendação de compra de ouro, destacando três fatores:
1) a redução gradual dos juros,
2) a crescente demanda estrutural dos bancos centrais, e
3) o papel do recurso como proteção contra riscos geopolíticos, financeiros e recessivos.

O Goldman Sachs estima que dois terços do aumento previsto se devem às compras dos bancos centrais. O modelo do banco para calcular os volumes de compra física em Londres, principal centro de negociação do metal, utiliza dados de exportação de barras de ouro do Reino Unido. “Reiteramos nossa recomendação longa de ouro devido ao aumento gradual de taxas de juros globais mais baixas, à demanda estruturalmente maior do banco central e aos benefícios de hedge do ouro contra riscos geopolíticos, financeiros e recessivos”, afirmou o Goldman Sachs, em relatório.

(Rabih Daher)

O UBS também elevou suas projeções, prevendo que o preço do ouro atingirá US$ 2.750 até o final deste ano e US$ 2.900 no terceiro trimestre de 2025. Historicamente, o ouro tende a subir cerca de 10% nos seis meses seguintes ao primeiro corte de um ciclo de alívio monetário do Federal Reserve. Como o ouro é cotado em dólar, a queda nos juros nos Estados Unidos e o enfraquecimento da moeda americana contribuem para a valorização do metal.

US$ 2.750
É a projeção do banco UBS para a cotação da onça troy no final desde ano

 
US$ 2.900
É o valor o ouro projetado pelo UBS para o terceiro trimestre de 2025

Outro grande banco, o Citi também demonstra otimismo em relação ao desempenho do ouro, prevendo que o metal possa atingir a marca de US$ 3.000 por onça troy em 2025. Essa expectativa é sustentada pelo ciclo de corte de juros que o Fed deve iniciar diante do enfraquecimento do mercado de trabalho nos Estados Unidos e pela crescente demanda de bancos centrais de países emergentes.

O cenário atual reforça o papel do ouro como ativo de proteção em momentos de incerteza. “Com a perspectiva de um ambiente global de taxas de juros mais baixas e riscos geopolíticos elevados, a demanda pelo metal precioso tende a permanecer aquecida, sustentando as projeções otimistas das grandes instituições financeiras”, disse a economista Patricia Agopian. Os próximos meses serão decisivos para avaliar se as tensões geopolíticas e as políticas monetárias globais continuarão a impulsionar o ouro, mas o consenso entre os analistas é que, pelo menos até o início de 2025, o metal deverá manter sua trajetória ascendente.