O estilo de liderar dos fundadores de empresas

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César Souza: "O exercício da liderança é situacional, depende da força das circunstâncias que cada momento exige" (Crédito: Divulgação)

Por César Souza

Fundadores de empresas são de Marte, executivos de mercado são de Vênus. Muitas vezes dão a impressão que habitam em planetas diferentes, mesmo quando trabalham no mesmo empreendimento.

Precisamos entender que exercer a liderança em uma “empresa de dono” é muito diferente de comandar um negócio já consolidado com elevado índice de profissionalização ou de pilotar uma empresa multinacional. Um dos motivos reside nas peculiaridades do modelo mental do fundador, nem sempre bem compreendido pelos típicos executivos de mercado.

Infelizmente essas características raramente são respeitadas por programas concebidos com o objetivo de “profissionalizar a empresa” despersonalizando o estilo do fundador.

Normalmente o “jeitão do fundador” é criticado nos bastidores pelos seus liderados oriundos do mercado, por consultores e professores de Administração, pelos analistas de investimentos, pelos experts no setor e até mesmo pelos jornalistas especializados que transitam no ecossistema da empresa.

Dogmas convencionais sobre como as empresas devem ser gerenciadas nem sempre funcionam em empresas de dono

As críticas, de forma recorrente, são relacionadas ao comportamento e às diversas atitudes típicas dos fundadores, tais como o microgerenciamento, a interferência no dia a dia do negócio, a excessiva centralização de decisões, a preocupação com controles e com detalhes, o paternalismo e a informalidade nas relações, dentre vários outros fatores.

Ironicamente, muitas vezes os mesmos programas pregam de forma paradoxal a necessidade de desenvolver a “atitude de dono” sem o necessário aprofundamento do que “ser dono” significa, enquanto, ao mesmo tempo, pretendem vestir nos fundadores o figurino dos executivos de mercado. Aliás, “senso de dono” é uma atitude universal, desejada em qualquer profissional, seja fundador, executivo, gerente ou até mesmo em quem exerce uma função técnica.

Torna-se necessário compreender e aceitar que certos dogmas convencionais sobre como as empresas devem ser gerenciadas nem sempre funcionam em empresas de dono. Certos modelos teóricos oriundos das tradicionais e conceituadas escolas de management acabam se transformando em verdadeiras camisas de força que estrangulam a iniciativa, a intuição e a inovação, que são componentes indissociáveis da genética do fundador.

Para utilizar uma expressão muito em voga no momento, precisamos utilizar uma abordagem ambidestra ao lidar com uma “empresa de dono”: ao mesmo tempo em que em certos casos é importante dar consciência aos fundadores de algumas das suas possíveis idiossincrasias que precisam ser superadas, também é fundamental aprendermos a valorizar várias das suas notáveis características – a simplicidade, a resiliência, a inventividade, a objetividade, o profundo conhecimento do seu negócio, a paixão pelo que fazem, a dedicação extraordinária ao empreendedorismo, dentre várias outras peculiaridades.

Já sabemos que não existe fórmula mágica nem genérica na arte da liderança. O exercício da liderança é situacional, depende da força das circunstâncias que cada momento exige. Liderar na condição de um executivo de mercado é bastante diferente de liderar na condição de fundador de uma empresa.

Chegou o momento de a Administração, como campo do conhecimento, dar um passo além e começar a desenvolver de forma mais sistemática e menos casuística o “modo fundador” de pensar e liderar um negócio, que certamente é muito diferente do “modo gestor” que as escolas desenvolveram desde que Peter Drucker, o pai da administração moderna, publicou o seu livro seminal O Gestor Eficaz, na década de 60 do século passado.

César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda