Como a Lightwall descobriu o insumo para construir 20 mil casas modulares por ano
Empresa de painéis pré-moldados tem revolucionado o mercado da construção civil e investe R$ 400 milhões em fábricas em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina
Por Beto Silva
Um negócio que nasceu do lixo. Literalmente. Assim surgiu a Lightwall, empresa pernambucana de painéis pré-moldados que tem revolucionado o mercado da construção civil do Brasil e acaba de inaugurar uma nova fábrica em Rio Claro (SP), com investimento de R$ 80 milhões, capaz de produzir material para 20 mil casas modulares por ano. No projeto de expansão da companhia, também está a construção de outras fábricas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina. O plano é investir R$ 400 milhões até 2025 e aproveitar o interesse no material diferenciado que produzem, uma placa “sanduíche” de concreto nas extremidades recheado com um composto à base de EPS, cuja fórmula eles guardam a sete-chaves.
O resultado é um painel leve, resistente, rápido de produzir e econômico, que consegue uma alta produção diária, empregando uma quantidade menor de mão de obra. É algo parecido com um Lego, em que as peças se encaixam umas nas outras.
Em um projeto-piloto, a companhia construiu uma casa em uma hora e cinquenta minutos. Já entregou mais de 100 projetos pelo País e está construindo centenas de casas no Rio Grande do Sul, na recuperação do Estados após as enchentes que devastaram o território gaúcho. Com os investimentos e o salto na produção, a previsão é ampliar o faturamento de R$ 100 milhões neste ano para R$ 450 milhões ano que vem. “Nosso produto torna a obra 20% mais barata dos que as construções tradicionais”, disse o CEO, Marcus Fernando Araújo.
VISIBILIDADE
O executivo conheceu os “painéis revolucionários” por acaso, em uma viagem a Portugal em 2016. Observou um material jogado no lixo de uma empresa e indagou os responsáveis sobre o que era aquilo. A resposta foi que era um painel que poderia ser usado para construção de casas, mas que não tinha serventia pois naquela região não havia demanda para isso.
Ao enxergar uma oportunidade de negócio para o Brasil, encomendou um container dos painéis. Por aqui, estudou, testou o produto, mudou a fórmula, aperfeiçoou a parte técnica e começou a oferecer para alguns construtores . “A aceitação foi excelente”, relembra Araújo, que então decidiu importar a máquina que produz os painéis. Começava ali, de fato, a história da Lightwall.
Mas foi em 2021 que ocorreu “o grande marco” na trajetória da empresa. Naquele ano, ela foi convidada pela Secretaria Nacional de Habitação, do governo federal, a participar de um processo de seleção de novas tecnologias na construção de casas. “Fomos selecionados porque já tínhamos obras entregues e uma certa maturidade no mercado”, disse o executivo. A conquista do concurso possibilitou desenvolver a norma para utilização de maneira geral do produto. “Sem a norma era só uma invencão, não tínhamos robustez nem suporte para escalar”, relembra Araújo.
Em 2023, um outro movimento deu ainda mais capacidade à companhia. Ao participar do Encontro Nacional de Inovação na Construção a Seco (ENICS), ganhou visibilidade nacional e, mais do que isso, chamou a atenção de grandes players do setor, como o empresário Roberto Justus e o Grupo MNGT, que reúne empresas de logística, segurança, energia limpa, automação, tecnologia e, claro, construção civil.
À frente da holding do interior de São Paulo, Gabriel Menegatti, que viu vantagens no material também no isolamento acústico e no conforto térmico, considerados por ele superiores aos dos produtos tradicionais de alvenaria. “Já temos de dois a três meses da produção da nova fábrica vendidos. Isso porque ainda nem começamos o nosso road show para explicar o produto detalhadamente ao mercado”, avaliou, ao apontar o sucesso da companhia e do material a uma grande demanda e carência da construção civil por novas tecnologias. A ponto de o empresário Carlos Wizard, famoso por fundar a reconhecida rede de escolas de inglês e de atuar no ramo de fast food, entrar na sociedade da companhia. Para os executivos da empresa, atuar em programas públicos como Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Estado de São Paulo, é questão de tempo. A Lightwall já está com as mãos na obra.