Lula vai aceitar o pacote de cortes de Fernando Haddad?
Por Marcos Strecker
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está pavimentando o terreno para anunciar finalmente um pacote de cortes de gastos públicos. A ideia é salvar o Arcabouço Fiscal e conter a expansão galopante da dívida pública, que é o calcanhar de Aquiles da atual gestão e principal problema que preocupa investidores, jogando os juros para o alto. A avaliação é que não dá mais para apostar apenas no aumento da arrecadação. Chegou a hora da tesoura. Mas o plano é divulgar tudo depois das eleições, para evitar marola na reta final do pleito municipal em capitais e grandes cidades, onde candidatos apoiados pelo Planalto estão no páreo. Além disso, é preciso negociar com o Congresso, que está virtualmente paralisado até o segundo turno, dia 27. Entre as ideias propostas, está o corte dos supersalários do setor público. O objetivo também é conter as despesas obrigatórias. Mas há sugestões difíceis, que atingem uma área cara ao presidente: os benefícios assistenciais. As medidas estão quase prontas no Ministério do Planejamento, incluindo ajustes nas regras do abono salarial, do seguro-desemprego e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). A principal dificuldade do ministro é convencer o próprio presidente, que não quer abandonar sua marca social e já está com a cabeça em 2026. Para dobrar o chefe, Haddad tenta apresentar as vantagens de acertar as contas públicas. Como, por exemplo, garantir que o País receba novamente o grau de investimento das agências de classificação de risco. Mas o titular da Fazenda enfrenta fogo amigo nessa costura delicada. O anúncio feito pelo presidente de que isentaria do Imposto de Renda os que ganham até R$ 5 mil, por exemplo, criou ainda mais insegurança no mercado, que espera a adoção da Reforma Tributária, cuja regulação está emperrada no Congresso. A ideia de compensar essa vantagem à classe média criando um imposto mínimo para milionários também não foi bem-recebida, por ser vaga e incerta. A sensação é que a mudança dos impostos será atropelada por medidas populistas. Haddad vai ganhar essa batalha?
Elon Musk
O flop do robotáxi
Depois de adiar a apresentação por anos, Elon Musk finalmente mostrou ao público seu “robotáxi”. Batizado de Cybercab, trata-se de um veículo autônomo de carregamento sem plug que não tem volantes nem pedais e deve custar até US$ 30 mil. Foi concebido para rodar sem intervenção humana, transportando apenas duas pessoas. O visual é ousado. As portas se abrem na vertical e ele não tem espelhos retrovisores. Só que a falta de cronograma de fabricação, além do desenho meio estranho, desanimaram o mercado e fizeram as ações da Tesla despencar mais de 8%. O sistema de carregamento por indução também levantou muitas dúvidas. Enquanto amargava esse flop, Musk conseguiu saborear uma façanha em outra de suas companhias, a SpaceX, apenas três dias depois. O foguete Super Heavy, que prevê transportar pessoas até Marte, retornou com sucesso à plataforma de lançamento no Texas no domingo (13), mostrando que a aposta em propulsores reutilizáveis, e portanto viáveis economicamente, pode dar certo.
Nos EUA
US$ 25 bilhões para a Boeing
A Boeing tenta levantar dez bilhões de dólares com um consórcio de bancos nos EUA para manter sua operação. Mas o buraco é maior do que isso. Depois de anos com problemas de segurança e produção, ela precisa captar US$ 25 bilhões via emissão de dívidas e de novas ações para conter a crise. A produção está paralisada há quase um mês por causa de uma greve de 33 mil funcionários. Na sexta-feira (11), o novo CEO, Kelly Ortberg, anunciou que reduziria em 10% o número global de funcionários, atualmente 171 mil. Com as ações caindo 43% apenas este ano, as agências de risco reduziram o rating da fabricante, o que torna ainda mais difícil (e caro) levantar recursos. A dívida de longo prazo atingiu US$ 53 bilhões em junho, contra US$ 10,7 bilhões em 2019, quando a segunda queda de um 737 Max paralisou a produção do modelo mais popular da empresa.
“A Petrobras está indo na direção de oferecer mais gás para a sociedade. Se tiver mais, vai ter gás mais barato.”
Magda Chatobriard, presidente da Petrobras
Energia
Sem horário de verão
O governo Lula tem mais problema para administrar: a alta nos valores da conta de luz. Em outubro, em razão da estiagem, as contas estão sob bandeira vermelha 2, ponto mais alto de sobrepreço, o que tem afetado a inflação. Em setembro, o índice foi puxado principalmente por esse item. Isso explica a difícil decisão de adotar o horário de verão, que tem atormentado o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira. O apoio a essa medida divide a população, conforme recente pesquisa Datafolha divulgada na terça-feira (15): 47% são a favor, mesmo percentual que é contrário. Mas a adesão despencou. Em 2017, 58% declaravam apoiar a mudança no horário – o que anima o comércio, mas incomoda o setor aéreo, por exemplo. Isso explica porque Silveira anunciou na quarta-feira (16) que a medida estava descartada este ano, ainda que possa ser aplicada em 2025. A situação é delicada. Em setembro, o ONS divulgou um estudo avaliando que o retorno do horário de verão poderia trazer maior eficiência ao Sistema Interligado Nacional (SIN), especificamente no horário de pico, entre 18h e 20h. Haveria uma redução de até 2,9% da demanda máxima e uma economia próxima a R$ 400 milhões entre outubro e fevereiro. Em reunião com vários órgãos no último dia 9, o ONS havia alertado que as projeções eram de piora nas condições de fornecimento de energia nos próximos meses. Os reservatórios das hidrelétricas deverão receber menos água até março de 2025, abaixo da média histórica.