Os seguros estão em alta após tragédias
Seguradoras ganham força com recuperação econômica, mudanças culturais e a maior preocupação diante dos eventos climáticos extremos que assolam o País
Por Allan Ravagnani
O mercado de seguros no Brasil passa por uma significativa expansão, impulsionado por diversos fatores, desde a recuperação econômica até mudanças culturais e a crescente conscientização sobre a importância da proteção contra riscos. Dados recentes mostram que o setor obteve uma arrecadação de 17,3% no primeiro semestre de 2024 na comparação com o ano anterior. Esse avanço reflete a maior adesão a diferentes tipos de seguros, um fenômeno que, segundo o presidente da Junto Seguros e da comissão de riscos de crédito e garantia da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Roque de Holanda Melo, também está associado à proximidade cada vez maior entre seguradoras e seus consumidores.
“Há uma clara mudança na mentalidade”, afirmou. Ele explica que, no Brasil, o seguro era tradicionalmente visto como um custo, enquanto em mercados mais maduros, como o dos Estados Unidos, é algo natural e indispensável para uma ampla gama de bens e serviços. Essa aproximação do mercado segurador com seus clientes também está associada à eficiência regulatória e à melhora da imagem pública do setor, fatores que têm sido trabalhados de forma contínua pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), frisou Melo, que destacou ainda que o processo de educação dos consumidores tem sido prioridade.
“A inovação regulatória está ajudando a moldar o futuro do mercado, ampliando o uso de seguros por todo o país.”
Roque Melo, CEO da Junto Seguros
EVENTOS CLIMÁTICOS
Outro fator relevante para o crescimento desse mercado é a intensificação dos eventos climáticos extremos. Enchentes, vendavais e incêndios têm causado prejuízos bilionários, como o que ocorreu no Rio Grande do Sul em maio, quando os danos ultrapassaram os R$ 8 bilhões, superando até mesmo os custos da pandemia. “Esses desastres chamam a atenção para a necessidade de proteção contra riscos catastróficos”, observou.
O impacto desses eventos tem levado a discussões importantes no setor, tanto com o governo quanto dentro do mercado, sobre a obrigatoriedade de seguros para catástrofes. A criação de um fundo de catástrofe, defendida por Melo e outras lideranças da CNSeg, é uma ideia que vem ganhando força. “Estamos discutindo um projeto de lei que tornaria o seguro catástrofe obrigatório, criando um mecanismo de resposta mais eficiente para eventos dessa natureza”, disse. O fundo seria capaz de cobrir grandes eventos climáticos, evitando que a responsabilidade recaia inteiramente sobre os recursos públicos ou de empresas.
EXPANSÃO
Dentro do universo segurador, um segmento em crescimento constante é o de seguro garantia, especialmente o seguro garantia judicial. “Esse mercado cresceu 23% de 2022 para 2023, e até julho deste ano já registramos um aumento de 22% em relação ao ano anterior”, revelou Melo, reforçando que o setor está otimista com o futuro. A Junto Seguros, que preside, é uma das líderes nesse segmento.
O seguro garantia judicial, em particular, tem sido uma das áreas mais promissoras. Com o acúmulo de processos aguardando julgamento no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o seguro se tornou uma alternativa eficaz para as empresas que precisam garantir o cumprimento de suas obrigações sem comprometer seus ativos.
O mercado tradicional de seguro garantia também tem experimentado uma aceleração, impulsionada pela retomada de grandes obras públicas e pela implementação da nova Lei de Licitações, que permite o aumento da garantia de 5% para até 30% do valor do projeto. Melo ressalta que essa modalidade de seguro vai muito além das grandes obras. “São 38 tipos de seguros garantia, que abrangem desde o descomissionamento de plataformas de exploração de petróleo até a construção de apartamentos na planta”, detalhou.
17% de avanço em prêmios no primeiro semestre de 2024 ante 2023
30% é o novo patamar, antes eram 5%, de retomada para obras públicas acima de R$ 200 milhões
FUTURO
Além das mudanças regulatórias e do aumento da demanda por produtos tradicionais, o mercado de seguros no Brasil tem passado por uma transformação tecnológica significativa. A digitalização de processos, o uso de inteligência artificial e a introdução de ferramentas de machine learning para subscrição e análise de crédito têm sido fundamentais para aumentar a eficiência das seguradoras. “Aqui na Junto, 99% das apólices já são digitalizadas”, destacou, que vê na tecnologia uma aliada para reduzir custos operacionais e melhorar a experiência de consumidores e funcionários. No entanto, embora a digitalização esteja avançando, ela não elimina a importância humana. “O corretor vai continuar sendo um elo primordial, especialmente diante de grandes riscos. O papel dele está se transformando, mas não desaparecendo”.