Era dos empregos verdes: setor de energia renovável abre milhões de vagas
Por Hugo Cilo
RESUMO
• Brasil se tornou o quarto país no mundo em geração de postos de trabalho no setor de energia solar, segundo relatório de agência internacional
• Foram 264 mil profissionais empregados ao longo do último ano
• O país está atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos
• No cenário global, o setor de energia solar gerou 7,1 milhões de empregos em 2023
• É a fonte de energia que mais criou postos de trabalho entre as renováveis, como eólica, hídrica, biomassa e biogás
O sol que vem contribuindo para equilibrar e descarbonizar a matriz energética do Brasil também está aquecendo o mercado de trabalho. De acordo com o relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena), o setor fotovoltaico brasileiro empregou diretamente e indiretamente cerca de 264 mil profissionais em 2023, representando um aumento de 18% em relação ao ano anterior. Essa expansão coloca o Brasil na quarta posição global em geração de empregos no setor de energia solar no último ano.
O relatório da Irena sobre os empregos no setor fotovoltaico mundial aponta:
• China como líder, com cerca de 4,5 milhões de vagas geradas em 2023,
• seguida pela Índia, com 329 mil,
• e pelos Estados Unidos, com 279 mil.
Os dados incluem tanto as grandes usinas solares quanto os sistemas de geração própria em pequenos e médios portes, instalados em telhados, fachadas de edifícios e terrenos menores, baseando-se na potência total acumulada até o final de 2023.
No cenário global, o setor de energia solar gerou 7,1 milhões de empregos em 2023, consolidando-se como a fonte de energia que mais criou postos de trabalho entre as renováveis, como eólica, hídrica, biomassa e biogás. No total, as energias limpas foram responsáveis por cerca de 16,2 milhões de vagas no último ano, sendo a energia solar responsável por 65% desse total.
Para Rodrigo Sauaia, CEO da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a energia solar fotovoltaica é a fonte renovável mais competitiva no Brasil, representando um motor importante para o desenvolvimento social, econômico e ambiental. “O crescimento acelerado da energia solar é uma tendência mundial, e o avanço brasileiro é reconhecido internacionalmente,” afirmou o executivo. “Com um dos melhores recursos solares do mundo, o Brasil assume cada vez mais um papel de destaque no processo de transição energética e combate ao aquecimento global.”
Atualmente, a energia solar é a segunda maior fonte da matriz elétrica nacional, com 48 gigawatts (GW) em operação, o que corresponde a 20,1% da matriz elétrica do Brasil, segundo levantamento da Absolar.
Desde 2012, o setor já gerou mais de 1,4 milhão de empregos verdes no país. “Na última década, a energia solar evitou a emissão de 58,2 milhões de toneladas de CO2 e atraiu mais de R$ 220,8 bilhões em novos investimentos,” acrescentou Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar. Além de ser competitiva e limpa, a maior participação da energia solar é crucial para fortalecer a economia do Brasil e promover a sustentabilidade.
“O crescimento acelerado da energia solar é uma tendência mundial, e o avanço brasileiro é reconhecido internacionalmente.”
Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar
EÓLICAS
O setor de energia solar está impulsionando a geração de empregos, mas não é o único. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), o Brasil gera atualmente 10,7 empregos por megawatt (MW) instalado. Com 33 GW instalados, dos quais 32,3 GW estão em operação comercial e 0,6 GW em fase de testes, o setor já criou mais de 300 mil empregos diretos e indiretos.
Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, destaca que a mão de obra qualificada é um fator crítico para o setor, especialmente porque 80% da indústria eólica brasileira é nacionalizada. “Desenvolvemos essa indústria nos últimos 15 anos, e com o crescimento da energia eólica, precisávamos criar uma base industrial robusta, com pesquisa, desenvolvimento e capacitação,” disse Elbia.
Ela também enfatiza que a criação de empregos no setor é fruto de iniciativas das empresas em parceria com instituições de ensino, desde a formação técnica até programas universitários de longa duração focados em energias renováveis, especialmente a eólica. “Estamos acompanhando de perto essa transformação na economia brasileira, e a energia eólica está desempenhando um papel fundamental nessa mudança,” afirmou.
“Desenvolvemos a indústria eólica nos últimos 15 anos, precisávamos criar uma base industrial robusta com pesquisa e desenvolvimento e capacitação.”
Elbia Gannoum, presidente da Abeólica
Gilbert Houngbo, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), reforça a importância de capacitar mais trabalhadores para atender à crescente demanda por empregos no contexto da transição energética. “Investir em educação, habilidades e treinamento é crucial para requalificar trabalhadores dos setores de combustíveis fósseis e preparar a força de trabalho para novas funções na energia limpa,” declarou Houngbo. Ele ressaltou que essa qualificação é essencial para garantir que a transição energética seja justa e sustentável, conforme estipulado no Acordo de Paris.
PROJEÇÕES
As perspectivas para o futuro são ainda mais otimistas. Segundo a Irena, dados compilados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que as energias renováveis deverão gerar 38,2 milhões de empregos até 2030 em todo o mundo. Essas estimativas levam em conta uma transição energética acelerada e novos investimentos para mitigar as mudanças climáticas.
No Brasil, além das fontes eólica e solar, há grande expectativa em torno do desenvolvimento do hidrogênio verde, um setor em que o país tem potencial para se tornar líder mundial, além da expansão do comércio de crédito de carbono. De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Brasil tem um potencial imenso no setor de empregos verdes, devido à dimensão de sua economia e à riqueza de seus ecossistemas, recursos naturais e biodiversidade.
A consultoria McKinsey destaca que, para cada dólar investido em ações climáticas, há um retorno socioambiental de US$ 1 a US$ 4, incluindo a criação de empregos, o desenvolvimento local e serviços ecossistêmicos. Projetos como restauração ambiental, agroflorestas e REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) têm o potencial de gerar entre 550 mil e 880 mil empregos líquidos por ano, dos quais 57% são diretos e concentrados nas regiões onde os projetos são implementados, com uma demanda crescente por profissionais experientes no mercado de carbono voluntário.