Mudança no plano estratégico da Petrobras pode focar em dividendos
Depois de Morgan Stanley e Santander elevarem as recomendações para a estatal, citando a perspectiva de distribuição extraordinária dos resultados, a maior empresa brasileira volta ao foco dos investidores como grande geradora de lucros
Por Jaqueline Mendes
Maior empresa do País, a Petrobras voltou a animar o mercado com suas perspectivas de pagamento de dividendos — depois de um período de desapontamento dos investidores com a decisão da companhia de reduzir os percentuais desde 2023. Na semana passada, Fernando Melgarejo, diretor-executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores da companhia, revelou que a empresa está estudando mudanças significativas em seu plano estratégico para o período de 2025 a 2029. Entre as principais alterações avaliadas está a possibilidade de aumentar o pagamento de dividendos extraordinários, o que pode beneficiar os acionistas a partir do próximo ano.
Essa revisão estratégica deve ser divulgada pela Petrobras entre o final de novembro e o início de dezembro, como parte do seu planejamento de cinco anos. No entanto, fontes ouvidas pela DINHEIRO indicam que um dos fatores que poderiam viabilizar o aumento nos dividendos é a redução dos investimentos da companhia, que podem passar de US$ 21 bilhões para US$ 17 bilhões, uma queda de 19%.
Caso essa previsão de cortes se concretize, será o terceiro ano consecutivo em que a Petrobras não cumprirá suas metas de investimento. Em 2023, a empresa investiu menos do que o projetado e já revisou para baixo suas estimativas para 2024. No entanto, para o próximo ano a diminuição ainda está em fase de avaliação, sendo parte central do novo plano estratégico.
De acordo a avaliação de analistas do Santander, essa mudança seria bem recebida pelo mercado e poderia destravar o pagamento de dividendos extraordinários a partir de 2025. A redução de investimentos, especialmente em áreas que não são o foco da companhia, como energia renovável, fertilizantes e refinarias, abre espaço para que os lucros sejam distribuídos aos acionistas. “Acreditamos que tais mudanças seriam bem-vindas pelo mercado e poderiam desbloquear dividendos extraordinários adicionais para 2025, em um período em que o Governo Federal continua buscando soluções para o problema fiscal”, disseram os especialistas do Santander, em relatório.
19%
É o corte estimado nos investimentos da petrobras para o período entre 2025 e 2029, revisão que deve ser divulgada pela empresa em novembro
Esses cortes em projetos de menor retorno, segundo Ruy Hungria, analista da Empiricus, podem ser estratégicos, já que a Petrobras deve continuar investindo fortemente em exploração e produção (E&P) de petróleo, área de maior rentabilidade. “Se os rumores se confirmarem, ao invés de investir em áreas que historicamente não trazem retorno significativo, a Petrobras deve retornar esse montante aos acionistas”, afirmou Hungria, ao Seu Dinheiro.
Ainda assim, o analista alerta que, no momento, as ações da Petrobras estão bem precificadas. Isso quer dizer que não despontam como uma boa oportunidade de compra imediata. Caso o novo plano estratégico seja confirmado com essas mudanças, as ações poderão se tornar mais atrativas no futuro.
“Os investimentos em exploração e produção (E&P) de petróleo devem continuar em níveis parecidos com o que já temos visto, sendo que a diminuição deverá acontecer em áreas que não são o foco da companhia e que historicamente nunca trouxeram bons retornos, como renováveis, fertilizantes, refinarias, entre outros”, acrescentou.
Além das expectativas para 2025, o Santander prevê que a Petrobras pode realizar pagamentos extraordinários de dividendos ainda em 2024, com a companhia começando a melhorar seu “momentum operacional” a partir de outubro. Isso representaria uma oportunidade para os investidores que buscam dividendos robustos.
CAUTELA
Embora as expectativas para o futuro da Petrobras pareçam promissoras, analistas recomendam cautela. Ruy Hungria reforça que, apesar dos rumores em torno do plano estratégico, o atual valor das ações não apresenta uma oportunidade imediata para quem busca investir visando dividendos. No entanto, ele aponta que existem outras ações mais promissoras neste momento, que oferecem melhores retornos, tanto em dividendos quanto em ganho de capital.