Criativos, tenazes, estudiosos e generosos

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Luís Guedes: "A liderança e os times da empresa inovadora sabem que a mudança é a única certeza" (Crédito: Divulgação)

Por Luís Guedes

As mudanças sociais são o estopim das mudanças nas organizações. À liderança, cada vez mais pressionada pelas demandas do curto prazo, cabe garantir que a somatória das ações de curto prazo culmine na geração de valor que, estrategicamente, se concebeu. Essa equação está cada vez mais complicada, porque o mundo está na mesma onda… criatividade, conhecimento profundo do mercado, parcerias e, enfim, inovação, nessa hora fazem a diferença.

Note, atento leitor, caríssima leitora, que inovação e criatividade são conceitos próximos, mas profundamente diferentes. A criatividade é a chama que inicia o processo de inovação. O resultado é um novo ou melhorado produto, processo, serviço ou prática comercial. Na concepção moderna do termo, inovação é um processo, tal como outros tantos que fazem andar a empresa. Aqui no nosso contexto, a criatividade é uma característica humana, tipicamente inata – já nascemos criativos. Como nos ensina a brilhante palestra mais vista do TED, a escola e outras instituições, em prol da eficiência, vão nos acostumando a fazer as coisas “certas”. Não me entenda mal: precisamos de médicas, contadores, controladores de voo e de mais uma infinidade de profissões, com profissionais que sabem o que estão fazendo. A criatividade do advogado ou da dentista muitíssimo competentes não se contrapõe à técnica que ambos aprendem na faculdade, mas se soma a ela.

O exercício moderno da liderança é assim também: fundamentado nas ciências sociais aplicadas (economia, administração, direito, ciências contábeis, dentre outras tão importantes quanto essas), mas acelerado pela criatividade, que conecta pontos nem sempre evidentes. Esse acoplamento é, idealmente, ambidestro: a liderança deve ao mesmo tempo ser arquiteta do futuro que se aspira e zeladora atenta da execução.

“O exercício moderno da liderança é assim: fundamentado nas ciências sociais aplicadas, mas acelerado pela criatividade, que conecta pontos nem sempre evidentes. Esse acoplamento é, idealmente, ambidestro”

Venho pesquisando há mais de dez anos os condicionantes da empresa inovadora e vivo essa realidade de perto, trabalhando com empresas públicas e privadas incrivelmente inovadoras.

Não há certezas nesse campo, mas formulo (empiricamente e sob risco de ser simplista) uma lista de três características comum que me chamam a atenção.

• A primeira tem a ver com necessidade da mudança. A liderança e os times da empresa inovadora sabem que a mudança é a única certeza. Não nos acostumamos ao sucesso, nossa vida é um teste atrás do outro e o que nos trouxe até aqui, dificilmente nos levará até lá. Aprendemos rápido, fatoramos esse aprendizado no que fazemos, e nos movemos rápido.

• A segunda característica é a propensão a adotar tecnologia de ponta nos seus processos, antes de fazê-lo nos produtos ou serviços que comercializam. IA, realidade aumentada, robôs, drones, blockchain… experimentamos, aprendemos e escalamos com responsabilidade para acelerar tudo que puder ser acelerado.

• Por fim, as inovadoras sabem que não podem fazer tudo que precisam por si só. Estabelecem parcerias mutuamente benéficas com universidades, centros de pesquisa, outras empresas e indivíduos para alcançar, em rede, novas alturas.

O desafio contemporâneo, sobretudo no Brasil, é imenso. Assim também são as oportunidades para os criativos, tenazes, estudiosos e generosos.

Luís Guedes é professor da FIA Business School