Finanças

ETFs crescem, mas têm barreiras no País

Safra inova ao lançar fundos atrelados ao desempenho de estatais e empresas privadas. Esse meio prático e barato para investir em ativos fortalece o mercado

Crédito: Nelson Almeida

Os fundos são negociados na B3 e seguem índices como o Ibovespa (Crédito: Nelson Almeida)

Por Regina Pistoscia

O segmento de fundos atrelados à variação de índices do mercado, os ETFs, exibem números positivos este ano: na B3, onde são negociados, até setembro, o total de investidores cresceu 9,4% e chegou a 556 mil, o patrimônio aumentou 4,3% e bateu R$ 49 bilhões, e o volume diário negociado não é nada desprezível, R$ 1,43 bilhão. É um caminho prático e barato de investir em ativos aqui e no exterior, sem ter o conhecimento de cada setor ou empresa da economia. Além disso, a indústria também tem feito o seu papel e lançado frequentemente novas opções de fundos.

A mais recente oferta foi do Banco Safra com o SPUB1, que segue a evolução de empresas estatais, e o SPVT11, a de empresas privadas. Segundo, Mariana Conegero, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital, esses ETFs “foram projetados para replicar o desempenho de ações de maior representatividade no Ibovespa, permitindo aos investidores acessar esses dois segmentos de forma diferenciada”. Ambos estão disponíveis a partir de um valor inicial de R$ 50, negociáveis por meio de corretoras.

Na prática, esses ETFs vão apresentar retorno atrelado ao desempenho dessas empresas ao perseguir o índice que as representa.
• Se de um lado existe a facilidade de ter exposição a elas sem ser profundo conhecedor do setor,
de outro, pode haver desvantagem em adquirir um ETF em vez de comprar diretamente o papel.

Isso porque a gestão de ETF é passiva, quer dizer, o gestor terá de comprar exatamente os papéis que compõem o índice e não necessariamente das empresas com melhores perspectivas de retorno.

NO VERMELHO

Tomando como exemplo o segmento de estatais brasileiras, em 2024 essas empresas estão com o maior déficit em 15 anos, de R$ 7,33 bilhões entre janeiro e agosto de 2024. Esse resultado reflete um aumento significativo em comparação ao mesmo período de 2023, com crescimento de 334,7% no déficit das estatais, relata Conegero. As estatais federais tiveram uma contribuição de R$ 3,45 bilhões, enquanto as estaduais ampliaram o déficit em R$ 3,90 bilhões. Essa deterioração das finanças das estatais pode impactar negativamente as expectativas para o ETF focado em empresas públicas.

Ao mesmo tempo, para escolher a ação, “o investidor tem de saber o que comprar, e aí vai precisar de tempo, dedicação, acompanhar o mercado e tudo o mais”, pontua João Daronco, analista da Suno Research.

E é nesse aspecto, o de atraso na educação financeira do brasileiro, que está a maior barreira para um desenvolvimento maior do segmento de ETFs no País. Em comparação com mercados mais desenvolvidos, como o americano, que chegou ao recorde de US$ 10 trilhões em transações com ETFs, o segmento ainda engatinha por aqui.

“O investidor tem dificuldades para entender o produto, o que não aconteceu com outros investimentos como renda fixa, fundos imobiliários ou ações”, afirma Daronco. Ele explica: essas são opções mais próximas da vivência do investidor, acostumado com a poupança, ou com investimentos em imóveis, ou ainda ser sócio de uma empresa.

Outro ponto a ser melhorado na opinião do especialista é com relação às taxas cobradas na aplicação em ETFs, um custo do gestor para comprar e vender os papéis do fundo. “É uma questão de eficiência, muitas vezes as taxas são elevadas, o que pode impactar na rentabilidade do investidor”, alerta.

No ano, os ETFs vinculados a índices no exterior estão com performance mais atraente do que aos atrelados aos índices nacionais.
Na B3, é negociado um ETF, o IVVB11, que segue o S&P 500, índice da bolsa dos EUA, que retrata a evolução das 500 maiores empresas americanas.
Esse fundo está com uma valorização de 43% até hoje, enquanto no mesmo período o Ibovespa, que mede o comportamento das principais ações brasileiras, apresenta queda de 2%, refletindo nos ETFs ligados a ele.
As maiores altas, no entanto, são de índice de criptoativos, que oferecem também maior risco.

No índice americano, segundo Enzo Pacheco, da Empiricus, o maior destaque foi a ação da Nvidia, do setor de tecnologia focada em Inteligência Artificial, que disparou e puxou o índice. “Eu não recomendaria ao meu cliente ter uma exposição a esse papel de 5% a 6%, que é o seu peso dentro do índice, mas algo bem menor, porque o papel está caro e o retorno será mais demorado.” O ideal, para Pacheco, é começar investindo um volume pequeno, sentindo e conhecendo o mercado para aumentar as posições.