Negócios

Há futuro para mercadinhos dentro de condomínios? Entenda o segmento

Populares em condominios residenciais, lojas autônomas aproveitam a retomada do trabalho presencial para expandir, mas logística ainda é um desafio

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Facilidade de acesso ao produto para o cliente é também um imenso desafio de abastecimento para as redes, que precisam fazer reposição diária (Crédito: Divulgação)

Por Letícia Franco

“O seu condomínio tem um mercadinho?” Antes da pandemia, essa pergunta provavelmente seria respondida com um “não” por muitos moradores de condomínios no Brasil. No entanto, com o isolamento social e as restrições de circulação impostas pela Covid-19, esse cenário mudou drasticamente. Esse segmento do varejo cresceu durante o período e hoje são cerca de 10 mil mercados em condomínios, que movimentam R$ 2 bilhões anualmente. Isso fez com que grandes supermercadistas como Carrefour, Hirota e Enxuto e também startups como a Market4u e a Honest Market investissem no setor.

O desafio, no entanto, é tornar o modelo operacional e econômico, já que a logística de abastecimento das unidades ocorre de forma fracionada e com frequência quase que diária. Neste mês, o Carrefour desistiu do modelo de lojas autônomas em condomínio e fechou as 29 unidades localizadas na Grande São Paulo. A saída da maior rede de supermercados desse setor pode indicar uma tendência negativa ou há futuro para esse modelo?

O Carrefour que há dois anos e meio elegeu o formato como uma das prioridades da companhia, informou, por meio de nota, que “a decisão de encerrar as operações de lojas autônomas Express em condomínios residenciais está pautada pela estratégia de negócios da companhia”. Além de unidades em condomínios residenciais, a empresa também tem unidades em prédios de escritórios — uma tendência que pode indicar o futuro do segmento no País.

Se na pandemia os consumidores passavam a maior parte do tempo em casa, em home office, agora a realidade é outra. Cada vez mais as empresas têm voltado para o modelo de trabalho presencial ou híbrido e, apesar da maioria das lojas autônomas se concentrarem em condomínios residenciais, as empresas miram na instalação desses modelos em escritórios, academias e outros espaços para crescer.

Ana Paula Moraes e Gustavo Sartott, da Honest Market, querem chegar a R$ 1 bilhão de faturamento e 5 mil lojas até 2025 (Crédito:Gui Ferreira)

STARTUPS

Líder do segmento, a curitibana Market4u, fundada em 2020, foca em fortalecer as suas 2,2 mil unidades ao mesmo tempo em que expande a presença em escritório. Embora 90% do faturamento de R$ 170 milhões registrado em 2023 ainda seja originada dos prédios residenciais, a empresa registrou o seu maior aumento de lojas em escritórios no último ano. Hoje são cerca de 230 unidades.

Segundo Eduardo Córdova, sócio-fundador da Market4u, a empresa está absorvendo cada vez mais os pontos de concorrentes, como o Carrefour. “É um movimento crescente. Estamos investindo no centro de distribuição e em novas tecnologias, isso é um diferencial”, afirmou à DINHEIRO o executivo, que ainda disse que a marca está se preparando para um IPO (em português, Oferta Pública Inicial) nos próximos anos.

Eduardo Córdova, sócio-fundador da Market4u, empresa com mais de 2,2 mil lojas autônomas pelo Brasil (Crédito:Divulgação)

O mercado de lojas autônomas tem atraído investidores. O empresário Raphael Mattos, que já tem sociedade com marcas como Pizza Studio e PremiaPão, entra agora neste setor com a Honest Market Brasil. Com faturamento de R$ 60 milhões por ano e mais de 430 lojas, a empresa também investe em pontos de venda fora dos condomínios para crescer. “É um dos setores que mais cresceram nos últimos 5 anos dentro da franchising”, disse Raphael Mattos à DINHEIRO.

Agora, ao lado de Murilo Specchio, Ana Paula Moraes e Gustavo Sartott, fundadores da Honest Market, eles planejam chegar a 5 mil lojas até 2030, com faturamento superior a R$ 1 bilhão.

Para Alberto Serrentino, consultor de varejo e fundador da Varese Retail, o modelo de lojas autônomas tende a ser mais viável para empresas especializadas, como a Honest Market e a Market4u. “É um modelo que requer uma logística diferente e também muita tecnologia. Pode não ser viável para empresas maiores, que operam em outros modelos, completamente diferentes”, disse o especialista.