Haddad vai ao encontro de investidores (e a dúvida é uma só)
Por Paula Cristina
O Brasil tem crescido mais que a média mundial em 2024, e a expectativa é que o avanço pode superar 3% neste ano impulsionar toda a economia da América Latina, segundo o FMI. O momento do Brasil é bom diante do mundo e, para tentar fortalecer a agenda positiva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve na última semana em Washington, nos Estados Unidos, para participar do encontro do G20. O objetivo dele era claro: atrair investimentos. Para isso, ao lado de Simone Tebet, ministra do Planejamento, foram ao menos 12 encontros entre entidades, empresários, bancos, agências de risco e outros líderes de membros do clube das 20 maiores economias do mundo. O interesse pelo Brasil parece claro, mas ainda há uma dúvida que não quer calar: o Brasil está comprometido com a agenda de controle fiscal? Com as dúvidas sobre o comprometimento de Lula com as contas públicas, Haddad precisou reforçar que há um plano em curso, e que o presidente está, sim, imbuído nesta causa. O governo brasileiro também aproveitou o encontro para lançar sua Plataforma de Investimentos em Transformação Climática e Ecológica do Brasil (BIP). O projeto-piloto envolve US$ 10,8 bilhões, e a garota propaganda, claro, foi a ministra Marina Silva.
CUSTO DO POPULISMO
Gasto com estatais bate recorde
As empresas estatais de União e estados tiveram um rombo de R$ 7,2 bilhões entre janeiro e agosto deste ano, segundo dados do relatório de estatísticas fiscais do Banco Central (BC). Este é o maior déficit registrado na série histórica iniciada em 2002. Os números não levam em conta empresas dos grupos Petrobras e instituições financeiras, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Os números que não agradaram em nada o mercado, exigiram uma ação rápida de Fernando Haddad, que correu para explicar que as cifras não vão ser retiradas do arcabouço fiscal (como desejava parte do governo) e haverá um plano de contingenciamento de custos.
“A ideia é que a PL das emendas [secretas] seja aprovado nas duas Casas até a 1ª quinzena do mês que vem.”
Ângelo Coronel, senador (PSD-BA) e relator do texto
IMPOSTOS
Arrecadação bate recorde em setembro
A arrecadação da União com impostos e outras receitas teve recorde para o mês de setembro, alcançando R$ 203,17 bilhões, segundo dados divulgados na terça-feira (22) pela Receita Federal. Em comparação com setembro de 2023, o resultado representa aumento real de 11,61%, ou seja, descontada a inflação, em valores corrigidos pelo IPCA. Também é o melhor desempenho arrecadatório para o acumulado de janeiro a setembro. No período, a arrecadação alcançou R$ 1,93 trilhão, representando um acréscimo, corrigido pelo IPCA, de 9,68%. À DINHEIRO, Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, braço da Fazenda, afirmou que o aumento reflete a atividade econômica, e não aumento dos impostos. “Trata-se de um crescimento bastante expressivo, explicado em parte pelos indicadores macroeconômicos. Isso significa que é a atividade econômica que está impulsionando o resultado.”
INTERNACIONAL
China decepciona e FMI se diz cético com estímulos
Um crescimento de 4,6% no terceiro trimestre seria fantástico para qualquer país dentro do contexto atual da economia mundo afora. Mas não para a China. Por lá, ainda que avanço tenha sido o dobro da média de 2,4% das 15 maiores economias do planeta, ainda não basta. O problema é que a China não está exatamente exalando confiança. Agências de classificação de risco, e o próprio Fundo Monetário Internacional tem questionado, em especial, duas coisas: a veracidade dos dados (visto que não há uma auditoria internacional, como recomendado, para verificar os números) e segundo que não há clareza dos ônus e dos bônus dos três últimos pacotes de estímulo anunciados por Xi Jinping, presidente chinês. Segundo o FMI, a última medida, de amparar o mercado imobiliário que enfrentava uma crise de financiamento, não será capaz de colocar o país no ritmo de crescimento superior a 6% em 2024, o que pode ser um problema para o Brasil, que exporta muito minério de ferro e aço para o parceiro asiático.
PEDIDO DE INVESTIGAÇÃO
Sem luz para a Enel
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, pediu que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abra um processo administrativo contra a Enel São Paulo. O processo pode, ao fim da apuração, levar a uma intervenção na empresa — ou até à cassação do contrato da distribuidora. “Diante desse cenário e dados os novos episódios na concessão da ENEL, solicito abertura imediata de processo administrativo que vise analisar eventual descumprimento ensejador de intervenção ou recomendação de caducidade para a concessão da ENEL no Estado de São Paulo”, disse o ministro em ofício publicado pelo G1. Silveira também acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar “as responsabilidades” nos apagões em São Paulo. O ministro cita pedidos enviados à Aneel para instauração de processos para apurar eventuais transgressões da Enel, mas diz que os pleitos do governo não resultaram em “medidas coercitivas concretas”. A fala do ministro se da após pressão dentro e fora do governo, já que ele esteve em eventos com o presidente da Enel, e é um dos entusiastas dos processos de privatização.