Tesouro Direto recupera o brilho
As taxas de retorno voltaram a subir, impulsionadas por um cenário de dúvidas fiscais no Brasil e preocupações com o contexto econômico global. É hora de voltar aos títulos do governo?
Por Jaqueline Mendes
Uma das mais conservadoras e seguras modalidades de investimento no País, o Tesouro Direto voltou a chamar a atenção dos investidores nas últimas semanas. O título prefixado com vencimento em 2031, um dos queridinhos do mercado, registrou uma nova alta nas taxas, atingindo 13,03% ao ano, na quinta-feira (24), a maior rentabilidade do ano até o momento. Esse patamar representa um salto significativo em comparação com a semana anterior, quando o mesmo título oferecia retorno de 12,69%. O aumento ainda é mais acentuado se comparado ao nível de um mês atrás, quando a taxa estava abaixo de 11,50%.
A valorização das taxas reflete:
• um misto de incertezas em relação ao cenário doméstico,
• e pressões vindas do exterior, com os investidores buscando ajustar suas expectativas em relação à economia global e a política fiscal brasileira.
• O sentimento de cautela em relação às públicas tem sido um dos principais fatores a influenciar o fluxo de títulos do governo.
Nas últimas semanas, economistas e agentes de mercado vêm demonstrando dúvidas sobre a capacidade do governo de implementar efetivamente as medidas necessárias para cortar gastos e equilibrar as contas públicas. Isso ocorre em meio à promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de avançar com um pacote de medidas para reduzir os juros e conter o déficit fiscal.
“Por mais que o governo tente emplacar um discurso de serenidade, a condução perdulária dos gastos públicos está gerando muita preocupação nos investidores”, afirmou o economista Fernando Lopes, diretor da RB Investimentos.
O ceticismo em relação à viabilidade dessas ações, no entanto, tem levado a um aumento nos prêmios de risco exigidos pelos investidores, o que, por sua vez, faz com que as taxas dos títulos públicos subam. Embora alguns especialistas acreditem que o mercado possa estar reagindo de forma exagerada, a percepção geral é de que o ambiente fiscal brasileiro permanece frágil e sujeito a revisões.
Além das questões domésticas, o cenário externo também tem contribuído para a alta nas taxas do Tesouro Direto. O dólar, que vem registrando três semanas consecutivas de ganhos e chegou a R$ 5,71 na quinta-feira (24), reflete a crescente expectativa de que os juros nos Estados Unidos possam permanecer elevados por mais tempo do que o previsto anteriormente.
Esse movimento foi desencadeado por uma série de dados econômicos robustos vindos dos EUA, que reforçam a resiliência da economia americana. A moderação nas expectativas de cortes de juros nos EUA se intensificou após o Banco Central Europeu (BCE) adotar uma postura mais cautelosa em relação à política monetária, indicando que o ciclo de aumentos nas taxas de juros na Europa pode estar se aproximando do fim.
EFEITO TRUMP
A possibilidade de Donald Trump retornar ao cenário político americano nas eleições presidenciais também gera incertezas sobre o futuro da política econômica dos EUA, o que tem contribuído para a volatilidade no mercado de títulos.
“Há vários elementos no discurso de Trump que reforçam sua visão protecionista em relação ao mercado americano”, analisou Diogo Carneiro, consultor e professor na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras. “O que se espera é um cenário mais recessivo e ainda marcado pela inflação, o que pode justificar juros mais altos.”
Para os investidores, o momento é de avaliar com cuidado o horizonte de seus investimentos e o nível de risco que estão dispostos a assumir. Embora as taxas estejam em alta e possam representar uma oportunidade imediata de ganhos consideráveis, o cenário volátil exige estratégias bem pensadas, principalmente para aqueles que pretendem manter seus investimentos no longo prazo.