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Acordo da Azul com credores coloca a aérea em novo plano de voo

Crédito: Luis A.Neves

A Azul consegue uma folga em seu fluxo de caixa com a nova negociação com credores e arrendadores de suas aeronaves, alongando suas dívidas (Crédito: Luis A.Neves)

Por Hugo Cilo

RESUMO

• Companhia fecha acordo com credores para obter financiamento adicional de US$ 500 milhões, garantindo mais saúde financeira às operações
• Nos últimos meses, a Azul enfrentou desafios financeiros consideráveis, resultado de uma combinação de fatores
• Entre eles, a alta dos preços dos combustíveis, a volatilidade cambial e a recuperação lenta do setor de aviação após a pandemia

Na turbulenta aviação comercial brasileira, nem tudo são más notícias. A companhia aérea Azul anunciou, na segunda-feira (28), a finalização de um acordo com credores que assegura um financiamento adicional de quase US$ 500 milhões. O objetivo é fortalecer o caixa, impulsionar a recuperação financeira e afastar temores de falência ou fusão com concorrentes. Segundo a empresa, o acordo reflete não apenas a busca por liquidez em um cenário econômico desafiador, mas também reforça sua estratégia de posicionamento em um mercado altamente competitivo e em constante transformação.

Com o novo acordo, a Azul receberá:
US$ 150 milhões (R$ 854,5 milhões) imediatamente,
e outros US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão) até o final do ano,
totalizando os US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões) que a empresa buscava.

O acordo pode incluir ainda:
outros US$ 100 milhões (R$ 569,7 milhões) em financiamento,
e uma possível troca de dívida por ações no valor de até US$ 800 milhões (R$ 4,6 bilhões), caso a empresa consiga melhorar ainda mais seu fluxo de caixa e reduzir seus custos anuais em cerca de US$ 100 milhões.

O ajuste financeiro da Azul inclui também um acordo para melhorar o fluxo de caixa em US$ 150 milhões (R$ 854,5 milhões) por meio da redução de algumas obrigações com arrendadores e fabricantes de equipamentos ao longo dos próximos 18 meses. Entre as empresas em negociação com a companhia estão arrendadores e fabricantes como Embraer, Airbus, GE e Pratt & Whitney, da RTX.

O CEO da Azul, John Rodgerson, lidera a empresa na busca por maior eficiência operacional com frota diversificada e mais econômica (Crédito:Divulgação)

Nos últimos meses, a Azul enfrentou desafios financeiros consideráveis, resultado de uma combinação de fatores como a alta dos preços dos combustíveis, a volatilidade cambial e a recuperação lenta do setor de aviação após a pandemia de Covid-19. Como consequência, a empresa teve dificuldades para honrar compromissos financeiros, aumentando a urgência de uma reestruturação de suas dívidas e da obtenção de novos aportes de capital.

15%
foi a alta das ações na b3 em resposta do mercado ao anúncio do pacote obtido pela cia aérea

Com uma malha aérea robusta e bem posicionada em rotas estratégicas no Brasil, a Azul vem, desde o início do ano, implementando medidas para reduzir custos e melhorar a eficiência operacional. Segundo o presidente da companhia, John Rodgerson, o acordo com os credores representa “um passo significativo para estabilizar a saúde financeira da Azul”, permitindo que a empresa respire em meio a um cenário de pressão.

O valor de quase US$ 500 milhões será destinado principalmente ao fortalecimento do caixa da empresa e à mitigação de riscos associados à sua estrutura de capital. De acordo com comunicado da Azul, o montante será distribuído em diferentes linhas de crédito, com condições e prazos que proporcionam maior flexibilidade financeira para a companhia.

A maior parte dos credores envolvidos no acordo são instituições financeiras estrangeiras que viram na reestruturação um caminho para garantir a recuperação de seus investimentos. As negociações foram intensas, com uma análise cuidadosa das perspectivas de longo prazo para o setor aéreo no Brasil. Esse é um ponto crucial, já que o mercado doméstico representa a maior parte das operações da Azul, e as incertezas macroeconômicas continuam a ser uma preocupação para os investidores.

Fontes próximas ao acordo informaram que o plano de financiamento inclui opções de amortização prolongada, o que reduz a pressão de pagamentos imediatos sobre a Azul e alivia parte da sua carga de dívidas no curto prazo. Além disso, o pacto com os credores prevê novos aportes caso a situação financeira da empresa se deteriore, oferecendo uma segurança adicional ao caixa e sustentando a confiança no sucesso da operação.

Além de fortalecer o caixa e melhorar sua estrutura de capital, a Azul sinaliza com o acordo sua intenção de continuar investindo na modernização de sua frota e em estratégias de crescimento orgânico. A companhia, que possui um dos portfólios de aeronaves mais diversificados da região, já anunciou planos de renovação da frota e expansão de rotas regionais, áreas onde vê grande potencial de crescimento.

Este acordo e o reforço de caixa chegam em um momento em que as principais companhias aéreas do Brasil estão buscando expandir sua fatia de mercado e melhorar a rentabilidade. No caso da Azul, a competitividade passa pela manutenção de uma “operação enxuta e eficiente” e pela ampliação de sua presença em regiões menos atendidas pela aviação comercial no Brasil. Essa abordagem preenche uma lacuna no mercado e proporciona uma experiência de viagem mais conveniente para clientes fora dos grandes centros urbanos.

REAÇÃO

A resposta dos investidores ao anúncio foi positiva, refletida na valorização das ações da Azul nos pregões subsequentes.
No dia do anúncio, as ações subiram 15%.
No entanto, a empresa acumula desvalorização de 63,84% em 2024 – até quinta-feira (31).
A recuperação no preço das ações indica que o mercado viu o acordo como um passo firme para garantir a sustentabilidade da empresa no longo prazo e reduzir os riscos associados ao endividamento.
Analistas do setor avaliam que o reforço de caixa permitirá à Azul manter seus planos de crescimento sem a pressão de reduzir investimentos em infraestrutura e frota.

No entanto, alguns especialistas alertam para a necessidade de cautela.
Com uma dívida significativa ainda em seu balanço, a Azul precisará garantir que o capital adicional seja utilizado de forma estratégica, evitando despesas que não ofereçam retorno direto ao negócio.
O cenário econômico global, marcado pela incerteza quanto aos preços dos combustíveis e taxas de câmbio, exige atenção redobrada ao contexto financeiro da companhia.

Com o novo financiamento, a Azul pretende reforçar suas operações e consolidar sua posição como uma das líderes do mercado brasileiro. “Este financiamento é uma peça fundamental de nossa estratégia para crescer com sustentabilidade e responsabilidade”, afirmou Rodgerson. O novo plano de voo está traçado.